
O governo Lula deve sair da capitalização da Petrobras sem atingir a meta nunca admitida oficialmente de alcançar pelo menos 50% do capital total da companhia, como ocorria até o governo Fernando Henrique Cardoso. A União só chegou, até agora, a 48% do capital da estatal, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega (Fazenda). Em tese, o governo pode ainda elevar essa participação se comprar ações nos lotes extras ainda disponíveis. Mas é pouco provável que consiga isso à frente dos demais interessados.
A Petrobras captou até R$ 120,4 bilhões na maior oferta de ações já feita no mundo. Apesar do sucesso da operação, as novas ações estrearam ontem na Bolsa de Nova York com uma dose de ceticismo dos investidores. Após forte instabilidade, terminaram o dia com baixa de 2,19% para os ADRs (recebido de ações nos EUA) ordinários (ON) e de 1,88% para os preferenciais (PN). No Brasil, as ações já existentes da companhia as novas estreiam na segunda-feira também caíram perto de 2%.
Informação confidencial
Em plena festa na BM&F Bovespa, o ministro Mantega se adiantou para dizer que o governo tinha aumentado sua participação na estatal de aproximadamente 40% para 48%. O detalhe é que a informação sobre quem compra os papeis é uma das mais confidenciais de toda a operação, e pode ser revelada apenas em 29 de outubro, data do balanço de encerramento. Será quando o mercado saberá se fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio aderiram à oferta.
A participação do governo "vazada pelo ministro inclui, além do Tesouro Nacional, também as ações compradas pelo BNDESPar, Caixa Econômica e o Fundo Soberano. "É a maior capitalização já feita na história do capitalismo. Acontece no momento mais difícil da recuperação do mundo, quando ainda há muitos problemas financeiros, e a dez dias da eleição no Brasil. Diria que é um feito importante, disse Mantega.
Ao não alcançar a meta planejada, o governo foi vítima do próprio sucesso da Petrobras junto a seus acionistas, que tiveram prioridade para comprar os novos papéis para não serem diluídos. A expectativa inicial era que boa parte desses acionistas ficassem de fora, possibilitando ao governo comprar boa parte das "sobras o que não ocorreu.
Recordes
Na quinta-feira à noite, a empresa anunciou que levantou R$ 120,36 bilhões (US$ 70 bilhões) na maior venda de ações já feita no mercado de capitais. O montante equivale a 4,2% do PIB brasileiro em 2009. Na capitalização, o governo reservou R$ 74,8 bilhões para comprar ações.
Diferentemente dos minoritários que entram com dinheiro, o governo cede títulos que mais tarde serão "transformados" em 5 bilhões de barris de petróleo. Se emplacou todos esses R$ 74,8 bilhões em reservas, o dinheiro "vivo" que entrará no caixa da empresa ou seja, os recursos aportados pelos outros acionistas pode ter ultrapassado R$ 45 bilhões.
No entanto, é possível que o governo não tenha conseguido emplacar todos os R$ 74,8 bilhões na compra de ações. Se não levar tudo em ações, ganha dinheiro vivo dos investidores como "prêmio de consolação". O dinheiro vai para o Tesouro equilibrar as contas públicas. Isso porque a oferta estabelece que, em qualquer cenário, o governo vende R$ 74,8 bilhões em barris para a Petrobras, mesmo que nem todo esse volume seja convertido em novas ações.
Rateio
Ainda segundo o ministro, o rateio para os investidores de varejo foi de 45,77%. Isso significa que, de cada R$ 1 mil reservados pelos investidores, eles conseguiram ficar com pouco menos de R$ 460 em ações.



