Os 16 municípios que perderam parte de seus territórios com a formação do lago de Itaipu foram compensados. A partir de 1991, quando a 18.ª turbina começou a funcionar, a hidrelétrica passou a pagar royalties proporcionais à área alagada de cada um, garantindo às prefeituras um razoável caixa extra. Incluindo os recursos repassados ao estado do Paraná e ao governo federal, o volume chega a R$ 6 bilhões (US$ 3,04 bilhões). Santa Helena, município mais afetado pela inundação, recebeu R$ 468 milhões (US$ 234 milhões) desde então.
A verba milionária aplicada conforme o interesse de cada prefeito deu origem às chamadas "Suíças paranaenses", pequenas cidades com grandes orçamentos e, no caso de algumas, infra-estrutura de dar inveja a municípios bem maiores. A disputa pelo dinheiro motivou até emancipação. Em 1993, foi criado o município de Itaipulândia, que passou a abocanhar dois terços dos repasses até então feitos a São Miguel do Iguaçu e hoje recebe o equivalente a quase US$ 88 por habitante, o maior valor per capita entre os 16 municípios alagados.
A 170 quilômetros da usina, Guaíra é o sexto município que mais recebe royalties são US$ 199 mil por mês, cerca de US$ 45 milhões nos últimos 16 anos. Mas a cidade se ressente até hoje de ter perdido o que considerava seu maior patrimônio: as Sete Quedas, conjunto de saltos dágua de até 90 metros de altura. O ruído das quedas, que ficavam muito próximas do centro da cidade, podia ser ouvido a uma distância de 32 quilômetros.
A inundação dos saltos, que foi filmada pela tevê e mereceu até poema de Carlos Drummond de Andrade, representou o fim da perspectiva de desenvolvimento do turismo na região. A rede hoteleira, até então similar à de Foz do Iguaçu, praticamente não existe mais. Em 1984, dois anos depois do desaparecimento das quedas, os moradores se animaram com o anúncio da instalação da hidrelétrica de Ilha Grande, da Eletrosul. Até as vilas para os operários foram construídas, mas a única coisa que acabou represada foi a promessa de desenvolvimento econômico da cidade, e a projeção de que a população cresceria de 30 mil para 80 mil habitantes se perdeu no tempo.
Curiosamente, o primeiro projeto para uma hidrelétrica na região, elaborado pelo engenheiro Otávio Marcondes Ferraz a pedido do presidente João Goulart, nos anos 60, previa uma barragem pouco acima das Sete Quedas. A usina teria metade da potência de Itaipu e evitaria a extinção das quedas, mas foi abandonado em seguida pelo governo militar. A escolha recaiu sobre o projeto mais grandioso, em Foz do Iguaçu.



