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Dezenas de cidades brasileiras querem transformar seus territórios em pequenos protótipos do Vale do Silício, região no estado Califórnia, nos Estados Unidos, considerado o berço da tecnologia e da inovação. Os casos vão da estratégia mobilizadora de Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, que será a primeira cidade do Sul a receber uma edição da Campus Party, à super organizada Maringá, no Noroeste paranaense, que contratou uma consultoria privada para elaborar um plano de desenvolvimento econômico para o município.

Há, também, quem tente na base da tentativa e do erro. É o caso de Curitiba com o seu o Vale do Pinhão, que quer espalhar pela cidade coworkings e fablabs para incentivar a formação de startups. Florianópolis, em Santa Catarina, atua no estilo guerrilha e oferece impostos menores e mão de obra qualificada para atrair empresas como o Peixe Urbano. Já Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, aposta no fato de ser sede do único centro de engenharia do Google na América Latina para atrair os holofotes para a sua região.

O desejo de copiar os americanos faz todo o sentido. É no Vale do Silício que estão as maiores empresas de tecnologia, como Adobe, Apple, Google, Facebook e Oracle. O lugar é, ainda, sede da Universidade de Stanford, que se tornou referência em engenharia, tecnologia e inovação, e concentra grande número de startups e fundos de investimentos que sonham em se tornar os próximos bilionários da tecnologia.

Conheça as estratégias dos municípios brasileiros que querem ser o novo Vale do Silício

Nós estamos, inclusive, algumas décadas atrasados ao restante do mundo, que há anos percebeu que a agricultura e manufatura não vão mais trazer riquezas às nações sozinhas. Tel Aviv, em Israel, por exemplo, conseguiu se desvencilhar da imagem militar e se tornou um dos maiores centros mundiais de startups, principalmente na área de desenvolvimento de softwares. Cingapura, que até a década de 1960 se resumia a um porto, apostou na educação para mudar sua realidade e se transformou em referência quando o assunto é alta tecnologia e indústria financeira.

Modelo

Mas as cidades brasileiras ainda precisam encontrar o seu modelo de Vale do Silício. “O grande desafio que temos no Brasil é encontrar um modelo próprio que se aproveite das experiências do exterior que reposicionaram regiões e até países inteiros sob o alicerce da tecnologia, da inovação e da criatividade para o desenvolvimento social, econômico e ambiental”, afirma Jorge Audy, presidente da Anprotec, entidade que representa parques tecnológicos e incubadoras no país.

Capital humano, planejamento e articulação são essenciais para formação de polos tecnológicos

Até há iniciativas bem sucedidas no Brasil, mas longe de causar impacto global. O centro histórico do Bairro do Recife, na capital pernambucana, que era uma antiga área portuária abandonada e degradada, foi restaurado no fim da década de 1990 para abrigar o Porto Digital, parque tecnológico da cidade, em 2000. Hoje, são 267 empresas - entre pequenos negócios e gigantes da tecnologia como Accenture, Fiat Chrysler, IBM - espalhadas pelos casarões da área de 149 hectares do bairro. Cerca de 8,5 mil pessoas trabalham no local, referência nas áreas Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa.

Só que diferente de Recife, muitas estratégias apenas tentam copiar o que foi feito no exterior, sem planejamento e articulação de iniciativa pública, privada e instituições de ensino, o que leva a expectativas de desenvolvimento econômico que não se confirmam.

Para Ater Cristófoli, empresário de Campo Mourão que desenvolveu um polo tecnológico voltado para a saúde no Centro-Oeste paranaense, a raiz do problema está na falta de educação básica. “Temos que começar pelo começo. Escola básica de qualidade por 20, 30 anos. Isso feito, a gente terá uma geração de estudantes entrando nas universidades com pensamento em projetos maiores.”

Capital humano, planejamento e articulação são essenciais para formação de polos tecnológicos

Se não é possível replicar o modelo do Vale do Silício, é possível identificar alguns padrões que levam uma região a se tornar um polo tecnológico. Capital humano, planejamento de longo prazo e articulação entre poder público, iniciativa privada e instituições de ensino estão entre os fatores comuns aos lugares que alcançaram o sonho americano.

“Para formar um polo empreendedor, precisa de capital humano de qualidade e uma cultura que incentive o empreendedorismo”, afirma Marcela Zonis, diretora de Relações Institucionais da Endeavor, organização de fomento ao empreendedorismo. Voltamos aqui a estaca inicial de formar, ao longo de todo o ciclo educacional, profissionais qualificados para atuar tanto como funcionários quanto como empresários.

Outra necessidade é fazer um planejamento de longo prazo. Jerri Ribeiro, sócio da PwC Brasil, afirma que é preciso fazer um estudo da história econômica do município para entender quais são as suas vocações regionais, ou seja, as áreas que geram mais riquezas e as potencialidades a serem desenvolvidas. Depois, olhar para onde a sociedade quer ir e confrontar as vocações e potencialidades com os desejos.

“Com o planejamento, eu consigo entender para onde o mundo vai, a vocação econômica do município e os seus desejos”, afirma Ribeiro. Mas o planejamento é só um documento. Falta, ainda colocar as ações previstas em prática e, para isso, o caminho é articular ações das iniciativas públicas e privadas e instituições de ensino.

Em Campo Mourão, no noroeste do Paraná, quem puxou a articulação foi a Cristófoli Biossegurança, fabricante autoclaves, aparelhos que esterilizam ferramentas de saúde e beleza. Em Florianópolis, Belo Horizonte e Porto Alegre foram professores da Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Minas Gerais e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, respectivamente. Já em Pato Branco e Curitiba, no Paraná, quem tenta articular a formação de um polo tecnológico é a prefeitura.

Quem quer ser o novo Vale?

Diversas regiões do Brasil tentam, da sua forma, virar o novo Vale do Silício. Confira alguns municípios e as suas respectivas estratégias:

Pato Branco

Com uma população de 80 mil pessoas, Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, tentar ser referência em tecnologia, principalmente em produção de software e eletroeletrônicos. O movimento começou impulsionado pela implantação do antigo Cefet, atual Univer­­sidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) há mais de 20 anos. Depois, ganhou força com a criação do parque tecnológico da cidade que, ano passado, ganhou um prédio de 5 mil metros quadrados com espaço para seis empresas de grande porte e 50 negócios iniciantes.

A prefeitura atua, principalmente, atraindo feiras para a região. A mais recente conquista foi a realização da Campus Party, que acontecerá em outubro deste ano. Será o primeiro município do Sul do país a ter uma edição do evento que é uns dos maiores do mundo em tecnologia e cultura geek.

Florianópolis

Conhecida por suas praias e belezas naturais, Florianópolis, capital de Santa Catarina, virou sinônimo de tecnologia. São mais de 900 empresas atuando na área que faturaram no ano passado R$ 4,5 bilhões. Neste ano, a cidade conseguiu fazer com que o Peixe Urbano mudasse de cidade-sede, ao sair do Rio de Janeiro e desembarcar na ilha de Santa Catarina, atraído pela qualidade de vida, mão de obra qualificada e ISS menor.

A formação do polo de tecnologia começou, principalmente, como o professor Carlos Alberto Schneider, da Universidade Federal de Santa Catarina e fundador da Fundação Certi. Ele, junto com outros professores e alunos de engenharia da região, começaram a montar as primeiras empresas de tecnologia e a formar o polo. Hoje, são dois parques tecnológicos, incubadoras e uma série de instituições que dão apoio a quem empreende e inova na cidade.

Maringá

A cidade do interior do Paraná recorreu à iniciativa privada para traçar o que quer ser no futuro. A consultoria PwC foi contratada para traçar o planejamento estratégico socioeconômico da cidade para os próximos trinta anos, até 2047. Foram dez meses de trabalho até que o documento ficasse pronto.

O plano apontou três grandes áreas, compostas por sete setores, que serão os pilares econômicos do município no futuro. A cidade implantará uma série de ações para desenvolver a indústria limpa e de alta tecnologia, serviços de excelência e agronegócio. Tudo com base na tecnologia e aproveitando-se da Universidade de Maringá, uma das mais empreendedoras do país, e do arranjo-produtivo local de Tecnologia da informação (TI).

Belo Horizonte

Belo Horizonte é um dos principais polos tecnológicos do país. A capital de Minas Gerais é sede do único centro de engenharia do Google na América Latina e tem cerca de 200 startups que formam o San Pedro Valley. Possui, ainda, quatro entidades representativas do setor de tecnologia da informação (TI), duas universidades públicas referências em computação e um parque tecnológico.

A formação do polo começou quando o Google adquiriu uma empresa de buscadores fundada por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A gigante da tecnologia serviu e serve, até hoje, como uma âncora para atrair mão de obra para a região e para incentivar a criação de novas empresas.

Recife

A transformação do centro histórico de Recife em um dos primeiros parques tecnológicos do país aconteceu quando o poder público percebeu que era preciso revitalizar a região e desenvolver alguma área de vocação do município, na época dependente do turismo e serviços.

Formou-se, então, nos casarões do Bairro do Recife o Porto Digital. Grande parte dos móveis foi restaurada para abrigar empresas ligadas à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa.

Curitiba

É com o Vale do Pinhão que Curitiba quer virar referência em inovação. A prefeitura pretende transformar o bairro Rebouças, principalmente a antiga área industrial, que está com vários imóveis vazios, em um espaço para empresas inovadoras das áreas de tecnologia, meio ambiente, saúde e economia criativa, além de coworkings (escritórios compartilhados) e fablabs (laboratórios para prototipagem). O projeto começa pelo antigo Moinho Rebouças que será transformado em Engenho da Inovação, o prédio central e coração do Vale do Pinhão. No local, acontecerão eventos e empreendedores vão poder usar as instalações para trabalhar.

Promessa da campanha, a iniciativa começou sem um planejamento estratégico e datas definidas. A ideia é ir aprendendo e ocupando os espaços na base da tentativa e do erro. Mas o sonho é grande: a prefeitura quer que Curitiba se torne a cidade mais inovadora da América Latina em 2020. E, do mundo, em 2024.

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