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O resultado do PIB de 2015 assusta por sua dimensão incomum na economia brasileira e pela tendência de queda ainda não estancada. Se não houver nenhum novo fator negativo, como uma crise internacional deflagrada pela China (pouco provável) ou uma piora no cenário político interno (imprevisível) a economia brasileira ainda vai levar mais dois ou três trimestres para se estabilizar. Talvez isso só ocorra no começo do ano que vem.

Esse é o tempo em que as famílias vão continuar cortando gastos, em que os investimentos vão continuar caindo e em que o governo terá de conter suas despesas. Hoje é difícil dizer quem vai parar de cortar primeiro. As empresas têm poucos incentivos para investir devido ao cenário de incerteza, lentidão na abertura de setores para o investimento privado e os efeitos do encolhimento do setor de petróleo. O governo terá de continuar cortando porque é sua ruína fiscal uma das causas da recessão. E as famílias, abatidas pelo desemprego crescente, estão recusando novas dívidas e economizando.

Assim, a estabilização – que, em outras palavras, significa que a economia deixa de encolher de um trimestre para o outro – além de demorar para chegar, virá sem um sinal claro de onde virá a recuperação. A melhor notícia é que a desvalorização do real começa a surtir efeitos positivos. É pouco provável, no entanto, que o setor externo puxe uma recuperação rápida como em 2003-2004, quando o boom das commodities ajudou o país a sair da crise.

A saída pelo aumento do consumo também é uma possibilidade, desde que o mercado de trabalho não afunde em ritmo maior até o fim deste ano. Ainda é cedo para dizer como a crise vai ferir a renda familiar, em queda menor do que o recuo do PIB. De qualquer forma, mesmo no melhor cenário, não haverá um boom de consumo como na crise de 2008-2009, quando incentivos de crédito fizeram parte do trabalho de recuperar o país.

O investimento deve continuar caindo até deglutir dois grandes problemas: a crise no setor de petróleo e o recuo na construção civil. Há capital no mundo disposto a investir no país, desde que ele faça o trabalho básico de conceder à iniciativa privada projetos de infraestrutura. O país terá de melhorar a regulação e ficar mais aberto a empresas estrangeiras capazes de fechar o buraco aberto no setor pelo envolvimento de empreiteiras no escândalo da Lava Jato.

Por último, o melhor que o governo tem a fazer é controlar seus gastos para ajudar a conter a inflação e abrir espaço para o Banco Central reduzir seus juros. Uma recuperação calcada no gasto público é inviável neste momento.

A retomada da economia, portanto, tem tudo para demorar e ser lenta. Não é um cenário inevitável. Com um ambiente de negócios ruim, o país tem muito a ganhar com reformas que destravem o setor produtivo e melhorem as perspectivas de quem investe.

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