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Apelo sexual atrapalha vendas de jogos

Títulos fracos, apoiados em personagens com pouca roupa, acabam sobrando nas prateleiras

Capa de Command & Conquer 3: bolcheviques de shortinho |
Capa de Command & Conquer 3: bolcheviques de shortinho (Foto: )
Lara Croft em ação em Underworld: seios reduzidos na versão mais recente do jogo |

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Lara Croft em ação em Underworld: seios reduzidos na versão mais recente do jogo

Londres - O sexo tem sido usado no marketing muito antes que este fosse classificado como ciência. Até os velhos soviéticos fizeram isso: antes do colapso do Império Vermelho, foram erguidas em várias cidades russas estátuas de uma mulher forte, orgulhosa, triunfante e virtualmente nua – algo como uma versão comunista da Estátua da Liberdade, mas com potencial para fazer da contraparte americana uma puritana.

O caso dos games não é exceção. Um exemplo claro é a última versão do jogo Command & Conquer: Red Alert 3. Coincidentemente ambientado na antiga União Soviética, a embalagem do jogo mostra uma bolchevique com uma jaqueta que evidencia seus seios fartos e um short sumário. Está certo que a intenção era a de meramente fazer uma sátira, mas isto apenas comprova o estereótipo dos gamers: homens pueris, sexualmente imaturos e socialmente apáticos.

Vejamos o caso de Tomb Raider: o sucesso do jogo em 1996 não foi surpresa alguma, visto que os jogadores tinham a chance de passar 20 horas ou mais olhando para as nádegas bem formadas e cobertas com a calça de couro de Lara Croft. O resultado foi a febre "Nude Raider" (gamers criaram no programa de edição de fotos Photoshop imagens da personagem em várias configurações sexuais. Foi também criado um "complemento" não-oficial para o jogo, que permitia que Lara tirasse suas roupas, o que só aumentou a notoriedade e apelo do jogo (a Eidos, responsável pela criação do game, absteve-se da participação na "travessura" inicialmente, mas depois entrou no clima e lançou materiais promocionais igualmente sugestivos para a sequência).

Em 2003, o jogo Dead or Alive: Xtreme Beach Volleyball começou uma bem-sucedida série de videogames de esportes vendidos sob o prospecto do que se chamou de "físicos que balançam" – a simulação realística em 3D de grandes seios balançando em biquínis minúsculos. Um ano depois, a revista masculina "Playboy" lançou sua versão anual de "Jogos para Adultos", onde podia-se ver a progressão das personagens de jogos famosos desde o apogeu de Lara Croft mostrando-as como vieram ao mundo: nuas em pelo.

O mais interessante é que os lançamentos relacionadas à essas personagens foram recebidas com uma enorme apatia em todo o mundo e tiveram vendas fraquíssimas. Inicialmente, entretanto, alguns jogos em fase de lançamento tiveram aumento nas vendas com as publicações da revista, como BloodRayne e Leisure Suit Larry: Magna Cum Laude. Nestes casos, apesar do pequeno sucesso inicial, as edições subseqüentes da "Playboy" não conseguiram estender seus benefícios para outros jogos. O Tabula Rasa, da NCsoft, último projeto do criador Richard Garriott, teve fotos de sua mascote, Sarah Morrison, publicadas na revista. Da mesma forma, o Templar of Hellgate: London teve sua aparição na "Playboy" mesmo após a empresa que o desenvolveu, Flagship Studios, ter falido em agosto do ano passado.

E a lista não para por aí: Yoko Retomoto posou nua para Kane&Lynch, um jogo cuja abertura se tornou infame por mostrar o disparo dado em Jeff Gerstmann (para quem não sabe, Gerstmann publicou uma crítica ferina no lançamento do jogo, época em que existiam investimentos publicitários pesados promovendo o game. Pouco tempo depois da publicação em seu site, Gerstmann levou um tiro em circunstâncias muito suspeitas).

O jogo Age of Conan, da empresa norueguesa MMO, concedeu as imagens do físico de uma de suas personagens principais à Playboy. O jogo, assim como os outros, foi uma decepção em vendas e seu desenvolvedor principal pediu demissão à Funcom, empresa responsável pelo desenvolvimento do jogo, já durante a fase de lançamento. Em tese, o fracasso nas vendas de Conan foi o motivo pelo qual a Funcom registrou perdas de 23 milhões de dólares no último trimestre de 2008. E a MMo fechou as portas em fevereiro deste ano, depois que os usuários tomaram chá de sumiço.

Apesar de parecer o oposto, seria absurdo sugerir que a "Playboy", de alguma forma, fez com que empresas e projetos antes bem-sucedidos fossem levados à ruína financeira e à acidez cáustica da crítica. O cenário mais realista aponta que a maioria dos desenvolvedores de jogos aborda a revista e a veem como uma última chance de promover games que já sabem ser um fracasso, o que explica a apatia dos gamers.

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