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Sistema financeiro

Apesar de pedir troco, brasileiro deixa de usar 70% das moedas

Muitos consumidores se irritam ao ouvir, do caixa do supermercado ou da padaria, perguntas como "pode ser uma bala de troco?" ou "posso ficar devendo um centavo?". Para alguns, é questão de honra responder que não, não pode. Mas uma pesquisa realizada pelo Banco Central mostra que, se é exigente na hora de receber o troco justo – coisa que 82% dos clientes do comércio fazem –, o brasileiro não costuma ser muito generoso na hora de colocá-lo novamente em circulação. Apenas 50% das pessoas colaboram com moedas para facilitar o troco. Pior: nada menos que 70% das moedas do país estão "entesouradas", isto é, guardadas em casa ou esquecidas em pastas, mochilas, bolsas e bolsos.

Quem mais sofre com isso são o comércio e os pequenos prestadores de serviço: apesar do crescimento do uso de cartões de crédito e débito, para 87% dos brasileiros o chamado "dinheiro vivo" ainda é a forma de pagamento mais usada – no caso de lanchonetes e padarias, o índice chega a 95%. Embora um ou outro comerciante se aproveite da escassez de moedas para economizar alguns trocados – oferecendo ao cliente uma bala de qualidade suspeita no lugar da moeda de R$ 0,10 –, é fato que a situação não está das mais confortáveis. Dentro do Banco Central, fala-se há algum tempo em promover uma campanha publicitária nacional para incentivar o resgate dos metais esquecidos.

Fortuna esquecida

De um total de 11,7 bilhões de moedas fabricadas desde o início do Plano Real e consideradas "em circulação", apenas 3,5 bilhões estão realmente circulando. Não há como saber o valor exato das moedas guardadas. No entanto, se a proporção dos níqueis esquecidos for semelhante à dos valores emitidos pelo BC – a média é de R$ 0,16 por moeda –, algo próximo de R$ 1,3 bilhão pode estar enriquecendo potes de vidro, cofrinhos, chafarizes, poços do desejo e demais destinos das moedas perdidas. Dinheiro suficiente para comprar 59 mil Uno Mille zero quilômetro e quantia semelhante de casas populares.

Mesmo uma estimativa mais conservadora aponta um resultado nada desprezível. Supondo-se que as pessoas deixem em casa apenas as moedas inferiores a R$ 0,50, ainda assim mais de R$ 550 milhões estariam fora de circulação. Neste caso, considerando-se uma média de 63 moedas cunhadas por habitante, cada brasileiro teria cerca de R$ 3 entesourados. É esse "dinheirinho", por exemplo, que o cobrador do ônibus pede para os usuários do transporte coletivo quando se vê em apuros.

De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), só na Rede Integrada de Transporte (RIT) 400 mil passageiros por dia pagam a tarifa de R$ 1,80 em dinheiro. O problema só não é maior, segundo o Setransp, porque os outros 600 mil passageiros usam o cartão eletrônico para embarcar. "Temos conversado com bancos para conseguir mais moedas, mas é muito pouco o que vem. É uma situação difícil para o cobrador, porque se ele não tem troco, o passageiro precisa esperar, a fila demora mais e surgem as reclamações", conta Donato Dal Negro, sócio da Auto Viação São José dos Pinhais e segundo secretário do Setransp.

O gerente de meio circulante da regional do Banco Central em Curitiba, Hélio Miguel Silveira, diz que o BC fabrica algo próximo de 1 bilhão de moedas por ano. "Fazer moeda é como enxugar gelo. Por mais que se fabrique, está sempre faltando." Essa situação tem um agravante: no caso das moedas de 1, 5 e 10 centavos, o custo de fabricação é superior ao valor de face da moeda. Ou seja, o prejuízo à economia nacional é maior do que se supõe à primeira vista. Por exemplo: para cunhar R$ 117,9 milhões com as moedas de 10 centavos do modelo mais novo, o país gastou mais de R$ 170 milhões, em valores atuais.

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