
O libanês Salim Maroun chegou ao Brasil em 1988. Não falava português, não conhecia ninguém. Era um domingo, seu primeiro dia no país, e ele desceu do apartamento onde estava para um passeio na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Entrou no primeiro McDonalds que encontrou, perguntou pelo gerente da loja que sorte! Ele falava francês e minutos depois tinha em mãos o telefone de Peter Rodenbeck, então presidente da rede de fast food no Brasil. No dia seguinte, um aperto de mãos entre os dois selou não só um acordo para uma nova loja do McDonalds no Rio fechou uma parceria que já dura duas décadas, e não tem data para acabar. "Eu não faço nada no Brasil sem o Peter", conta Maroun.
A lealdade nos negócios é apenas um dos traços desse carismático libanês-brasileiro de fala tranquila que preside a operação da rede norte-americana de restaurantes Outback no Brasil, que inaugurou sua primeira unidade em Curitiba na semana passada. Graduado em Psicologia na França e Filosofia na Bélgica, teve uma breve passagem pelo McDonalds no Canadá antes de desembarcar no Rio de Janeiro. Deixou o Líbano por causa da guerra, e para lá decidiu não mais voltar. No Brasil, encontrou a paz que buscava e um ambiente propício aos negócios.
"Refeição casual"
E ponha propício nisso. Os trabalhos com o McDonalds, que começaram 30 dias depois daquela segunda-feira, se estenderam até 1996, quando ele foi convidado a levar a rede para o Oriente Médio. Preferiu ficar no Brasil e, com Rodenbeck ao seu lado, partiu para o negócio de "casual dining" (algo como "refeição casual"). Os dois e outro sócio, Giancarlo Zanolini, se mandaram para os Estados Unidos para estudar o modelo e, nove meses depois, em 1997, traziam o Outback para o Brasil. Hoje, são 23 restaurantes no país, com a previsão de inauguração de mais quatro a cinco ao ano nos próximos anos.
Cada panela tem sua tampa, cada pé tem seu sapato, até no mundo dos negócios. "Eu sou um apaixonado pelo Outback", declara Maroun. O cargo de COO (Chief Operatins Officer, ou executivo-chefe de operações) ele ostenta graças ao conhecimento da área operacional do negócio. Já Rodenbeck é o manda-chuva da holding que controla, além do Outback, a rede de cafés Starbucks.
Modelo
Modesto o suficiente para dizer que "não tem o direito de definir o sucesso", Salim Maroun enumera alguns pontos que fizeram do Outback um negócio bem-sucedido. O primeiro deles, diz, é o conjunto de princípios e crenças que norteia a operação. "É quase uma religião para nós. Quando temos uma dúvida, a gente se volta para esses princípios para tomar uma decisão." E estes mesmos princípios são ensinados, conhecidos, estudados e repetidos por todos os integrantes da cadeia do CEO ao zelador.
Em segundo lugar, diz ele, os fundamentos operacionais são muito fortes. Um novo sócio precisa de oito a dez meses para entender a operação. "Um restaurante é uma soma de decisões operacionais. Eu preciso conhecê-las para, todo santo dia, poder abrir as portas como se fosse o primeiro dia", ensina Salim. O terceiro item é o fluxo de caixa. O sucesso é medido pelo lucro da operação, não pelo tamanho das filas. "Só isso blinda a companhia contra turbulências."



