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Antes de ser preso, Carlos Ghosn estava no último mandato à frente da Renault e também coordena va a aliança da montadora francesa com Nissan e Mitisubishi. | Junko Kimura-Matsumoto/Bloomberg
Antes de ser preso, Carlos Ghosn estava no último mandato à frente da Renault e também coordena va a aliança da montadora francesa com Nissan e Mitisubishi.| Foto: Junko Kimura-Matsumoto/Bloomberg

Carlos Ghosn está prestes a perder sua última posição de poder na indústria automotiva. Após Nissan e Mitsubshi Motors, a Renault está planejando a saída do brasileiro do comando da empresa. Diferentemente das duas empresas japonesas, que retiraram Ghosn das posições de chefia da aliança ainda em novembro, logo após a prisão do executivo, a Renault insistiu na manutenção do brasileiro até agora.

O conselho da montadora francesa deve se reunir nos próximos dias para substituí-lo como presidente e CEO da empresa, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Diretores da Renault foram incitados a tomar uma atitude nesta semana, após Ghosn ter o pedido de saída sob fiança negado pela Justiça japonesa, o que aponta para um longo encarceramento, segundo fontes próximas do assunto e que não quiseram se identificar.

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As acusações contra o brasileiro aumentaram nesta semana, incluindo um suposto pagamento de 7 milhões de euros de uma entidade chamada NMBV, que faz parte da parceria de fabricação que ele articulou entre renault, Nissan e Mitsubishi. A saída da Renault consolidaria a queda do executivo, considerado o brasileiro mais poderoso da indústria automotiva atualmente.

Afastar o antigo líder da indústria seria a resposta mais importante da Renault à crise que se instalou – e também uma mudança de postura significativa. Em contraste com seus parceiros japoneses, a montadora francesa e seu acionista mais importante, o governo francês, vinham apoiando o executivo até agora, citando o princípio da inocência presumida.

O chefe da agência francesa que lida com as ações do Estado, Martin Vial, e o chefe de gabinete do ministro francês das Finanças, Emmanuel Moulin, estão em Tóquio nesta quarta-feira (16) para discutir a aliança Renault-Nissan, segundo informações de um porta-voz do ministério. Vial também faz parte do conselho da Renault.

Ghosn é acusado pelos promotores japoneses de subestimar sua renda na Nissan em dezenas de milhões de dólares e de transferir perdas de negociação pessoais para a montadora. O executivo disse que é inocente e chamou as acusações de “sem mérito e sem fundamento”.

Alguns membros da diretoria da Renault concluíram que uma decisão sobre o cargo de Ghosn precisa ser tomada rapidamente. Não há como Ghosn ficar no comando da Renault, não importa como a saga legal termine, disse uma fonte.

“A Renault deve reconhecer que Ghosn passou dos limites”, disse Janet Lewis, analista do Macquarie Group Ltd em Tóquio, especializada na indústria automotiva. “Um poder excessivo parece ter se acumulado nas mãos de uma pessoa, então é importante tentar desenvolver uma liderança que possa continuar o trabalho da aliança.”

Porta-vozes da Renault e do governo francês se recusaram a comentar as possíveis mudanças na governança da montadora.

Um porta-voz da Nissan reiterou que a investigação interna da empresa revelou “evidências substanciais e convincentes de má conduta”, resultando na decisão da empresa de demitir Ghosn como diretor representante. O porta-voz não quis comentar as decisões gerenciais da Renault. Os advogados de Ghosn, representados por Motonari Otsuru, também não comentaram o assunto.

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De acordo com uma pessoa familiarizada com a investigação, uma apuração da Nissan e da Mitsubishi revelou um pagamento de 7,04 milhões de euros à Ghosn em 2019, vindo de uma joint venture de Amsterdã chamada NMBV. Ghosn havia fechado um acordo de emprego com a NMBV naquele ano e havia estabelecido seu próprio salário, sem discuti-lo com os outros dois diretores da entidade, disse a fonte. A NMBV foi subsidiada por recursos economizados dos custos da Nissan e da Mitsubishi, de acordo com a fonte. A Mitsubishi planeja informar seu conselho sobre as descobertas na sexta-feira (18).

Quaisquer que sejam os méritos das alegações contra Ghosn, a necessidade de a Renault ter um substituto permanente é reflexo da realidade: ele não pode comandar a Renault de uma pequena cela em Tóquio, onde seu espartano confinamento já está cobrando um pedágio físico. Ele apareceu na corte na semana passada mais magro e mais grisalho e dias depois desenvolveu uma febre.

Segundo o jornal Les Echos, a reunião do conselho da Renault pode ocorrer neste fim de semana. Há duas possibilidades em estudo: tornar o mandato do diretor interino Thierry Bollore permanente ou alçar o CEO da Michelin, Jean-Dominique Senard, a presidente do conselho, disse uma fonte.

O CEO da Nissan, Hiroto Saikawa, disse à imprensa francesa que a Renault chegaria à mesma conclusão que eles se tivesse acesso a todas as informações relevantes. Saikawa ressaltou que a apuração sobre a NMBV seja um artifício para derrubar Ghosn ou tirar a França da aliança - uma teoria, aliás, que ele chamou de absurda. Por outro lado, o CEO da Nissan também disse que substituir Ghosn poderia abrir caminho para que as duas montadoras negociem um futuro menos dependente de um líder.

A demissão de Ghosn da Renault acabaria efetivamente com a carreira de um dos executivos mais emblemáticos da indústria automobilística. Ghosn revolucionou a Nissan no início dos anos 2000 e o ganhou o cargo de CEO na Renault em 2005. Ele deixou o cargo de CEO da Nissan em 2017 e estava cumprindo seu último mandato como chefe da Renault.

Enquanto Ghosn formalmente permanece como presidente e CEO da Renault e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, a administração interina da parceria entre as montadoras está com o diretor Philippe Lagayette. Esse arranjo pode ser prorrogado temporariamente até que seja aprovada uma nova configuração em uma assembléia de acionistas.

Os advogados da Renault foram informados pela equipe jurídica da Nissan sobre o caso da NMBV, mas a diretoria da montadora francesa não analisou as alegações. “Ambas as empresas precisam da aliança”, disse Lewis do Macquarie Group Ltd. “Negociar o futuro da aliança precisa ser algo feito por pessoas com autoridade para fazê-lo, e não por representantes interinos”.

Tradução: Fabiane Ziolla Menezes

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