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O governo argentino começou a aplicar nesta segunda-feira (31) duros controles no mercado de câmbio destinados a frear a saída de capitais, que acumula no ano cerca de 22 bilhões de dólares, segundo o Banco Ciudad.

"É importante que aqueles que têm suas contas em ordem mantenham a tranquilidade, as tentativas de gerar histeria coletiva são mal intencionadas", escreveu em sua conta do Twitter o ministro da Economia e vice-presidente eleito, Amado Boudou.

A entidade arrecadadora fiscal Afip mobilizou inspetores nas 4.400 sucursais bancárias e 300 casas de câmbio, além de montar um dispositivo de regulação informática da compra de moedas.

"Aquele que demonstrar renda pode comprar dólares. Apontamos a origem dos fundos, não o destino", afirmou à imprensa Boudou, que assumirá junto com a presidente Cristina Kirchner o segundo mandato em 10 de dezembro.

Menos de 10 dias depois da vitória eleitoral de Kirchner com quase 54% dos votos, a pressão cambial que se arrastava nos últimos meses aumentou, em um mercado que espera uma desvalorização, segundo analistas.

"O problema é que se percebe como inconsistente uma política de dólar estável (a 4,26 pesos por dólar) com uma inflação de mais de 20% anual", opinou o economista Federico Sturzenegger, presidente do Banco Ciudad.

Sturzenegger disse que "o governo começa a mover o dólar mais em linha com a inflação ou queda da inflação".

A política de tipo de câmbio administrado com tendência a desvalorizar a moeda ocorre desde 2003, quando foi iniciada a "era kirchnerista", com a presidência de Néstor Kirchner, marido da presidente, já morto.

"Não haverá sobressaltos, a flutuação administrada vai continuar como nos últimos oito anos", declarou Boudou.

Até agora no ano, a fuga de capitais atingiu 22 bilhões de dólares, perto do recorde de 23 bilhões de dólares atingido em 2008, em plena crise mundial e greve dos ruralistas, segundo o Banco Ciudad.

A Argentina receberá este ano quase 25 bilhões de dólares pela liquidação das exportações de grãos e alimentos, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário, o maior pólo agroindustrial do país.

"Estou de acordo com a maioria das medidas. Na Argentina, qualquer pessoa com dinheiro faz negócios com a compra e venda de dólares", afirmou à rádio El Mundo o economista Aldo Pignanelli, ex-presidente do banco central.

Mas Pignanelli expressou seu "temor de que isso possa chegar a se constituir apenas em um impedimento para que os argentinos de classe média e média baixa possam economizar em dólares. Que não seja uma caça às bruxas".

As reservas do banco central sofreram uma sangria de 3,7 bilhões de dólares em outubro, segundo cifras oficiais, e ficaram em 47,6 bilhões de dólares, volume mais que suficiente para garantir a base monetária (dinheiro em circulação).

Os argentinos poupam em dólares há décadas e inclusive as operações imobiliárias são realizadas em moeda americana em espécie, apesar de os contratos serem registrados no preço equivalente em pesos.

Cerca de 150 bilhões de dólares de argentinos estão depositados em contas de instituições de países desenvolvidos ou paraísos fiscais, segundo o Informe Fiscal e Monetário elaborado periodicamente pelo banco central.

A bateria de medidas para frear a fuga de dólares incluiu na semana passada a obrigação a empresas de mineração e petroleiras de liquidar suas exportações no banco central, como fazem regularmente os agroexportadores.

Outra resolução do governo destinada a recuperar moedas foi decretar que as empresas seguradoras repatriem fundos investidos no exterior.

Com as duas medidas, o governo tenta fazer com que cerca de 6 bilhões de dólares anuais passem pela autoridade monetária

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