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Para atender as mamães empreendedoras, Valquíria Pamplona abrirá um espaço de coworking para quem tem filhos pequenos. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Para atender as mamães empreendedoras, Valquíria Pamplona abrirá um espaço de coworking para quem tem filhos pequenos.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Uma missão complicada é falar com uma mãe de negócios. Como polvos, cumprem tantas tarefas quantas – ou mais – de que seus tentáculos dão conta. Se dividem entre o celular, as agendas do cliente e da criança, os compromissos profissionais e domésticos, a atenção a ela mesma e à família. E tudo por escolha própria, feita por causa da mudança na vida e na rotina que a maternidade traz à mulher trabalhadora.

Empresárias oferecem espaços para trabalhar e para curtir

Trabalhar em casa com as crianças no mesmo ambiente não é lá muito produtivo. A publicitária Valquíria Pamplona, de 39 anos, mãe de três filhotes de 8, 5 e 4 anos, viu a desvantagem do home office na prática durante o ano que ficou em casa, pesquisando novos negócios. E foi dessa necessidade que elaborou o projeto da Mamacoworking, espaço de trabalho coletivo e atenção a crianças de 6 meses a 5 anos que inaugura no fim de junho. A casa, de dois andares, vai oferecer espaço para 30 mães e 45 crianças. “A proposta é criar um ambiente mais amigável à maternidade, com espaço de convívio coletivo, área de lazer e também de concentração, em que é possível fazer uma pausa no trabalho para descer e dar um lanche ou a mamada para o filho”, diz.

Preparado para abrigar profissionais liberais, consultoras, prestadoras de serviço e até administradoras de empresas, o lugar também vai ter a infraestrutura de lazer e atendimento para crianças, separadas por idade, com oficinas e atividades lúdicas. O custo de R$ 25 a hora cobre um adulto e uma criança e o valor ainda pode ser negociado em pacotes mensais. Valquíria também quer investir em cursos de formação na área de negócios e orientação para a família.

Consultoria para a rotina da casa foi o filão que a bióloga Renata Konzen, mãe de Helena, de 7 e as gêmeas Isis e Flora, de 4. Com o nascimento da primeira filha longe da família, Renata precisou buscar orientação entre amigos e na internet para dar conta do sono tumultuado da menina. A pesquisa gerou conhecimento para dar orientação aos pais com o mesmo problema, entre outros cuidados que um bebê exige. A plataforma Sosseguinho foi o começo da vida empreendedora da Renata-mãe. A próxima empreitada é o Palácio da Mamãe, uma central de serviços que vai atender mulheres e crianças com atividades que vão desde musicalização infantil a fisioterapia, esmalteria, nutricionista, academia de ginástica, estética, pintura, entre outros. O espaço inaugura em 40 dias. “A mãe poderá otimizar seu tempo enquanto a criança faz alguma atividade, em um ambiente que seu filho é bem-vindo e atendido”, diz.

Dividida entre a volta ao trabalho e a atenção ao filho, a mulher busca alternativas para conciliar seus compromissos . Muitas optam por um novo projeto, em que exercem suas profissões ou novas atividades com horários mais flexíveis para também estarem próximas da prole. Em um mercado de trabalho arisco à participação feminina, com desigualdade de salários, condições e avaliações, partir para um empreendimento próprio tem sido uma solução para coordenar desejos e necessidades que a maternidade impõe a quem também não quer abrir mão de trabalhar e ser economicamente ativa.

A gestão da carreira exige autoconhecimento e a maternidade dá essa oportunidade de repensar caminhos, inclusive os profissionais. O mercado de trabalho ainda tem muitas restrições à rotina da mulher-trabalhadora-mãe. Não faltam exemplos de quem abandonou sua carreira diante da pressão por resultados em uma jornada incompatível com a vida familiar. “Há áreas em que a flexibilidade é maior. Algumas empresas mais sensíveis à produtividade dessa profissional estão saindo na frente ao valorizar essa nova condição para reter talentos. Mas o momento também é apropriado para a mulher avaliar o que a faz mais feliz”, diz a psicóloga Carina Daniel, diretora executiva da JCS Network, especializada em gestão e desenvolvimento humano.

No empreendedorismo materno, a rotina de quem se arrisca em abrir um novo negócio ganha, ao mesmo tempo, uma motivação e uma complicação. “Empreender não é trabalhar menos para estar mais perto da criança. É poder decidir quando estar e com que qualidade desfrutar desse tempo”, explica a jornalista Grace Barbosa, fundadora do site Mãezíssima, plataforma de conteúdo para mães e famílias. Mãe da Júlia, de três anos, Grace trocou o emprego formal pelo negócio próprio, seduzida pela possibilidade de dividir experiências com outras mulheres na mesma situação, compartilhando informações sobre a rotina do bebê e as transformações íntimas que a mulher passa com a maternidade. “Mas é um projeto familiar, em que o suporte em casa é fundamental, até que o negócio ganhe rentabilidade. Fora isso, tocar um negócio também exige uma rede de apoio, por mais flexíveis que sejam seus horários”, diz.

Na avaliação da empresária Lênia Luz, fundadora do blog Empreendedorismo Rosa, a facilidade da comunicação que a internet e as redes sociais proporcionam é um estímulo importante para fomentar o empreendedorismo entre as mulheres, especialmente as mães. “Somos mais relacionais, gostamos de contar e de ouvir histórias. Também é reconfortante saber que tem mais gente na mesma condição. A troca de experiências ajuda a superar dificuldades que todas vivemos”, diz. A possibilidade de dividir essas angústias de uma nova fase da vida está traduzida em uma infinidade de blogs, sites e perfis sobre o tema, expondo necessidades em escala global do que antes eram restritas a círculos íntimos. E isso gera novas oportunidades de negócios.

Rede para mulheres fomenta negócios

Quando decidiu abrir um negócio, Grace Barbosa sentiu falta do conhecimento técnico no assunto. A cultura empreendedora é relativamente recente na sociedade brasileira e tratar de negócios não fazia parte do seu dia a dia. Na hora de buscar conteúdo e formação sobre o tema, uma nova barreira: frequentar cursos, oficinas ou palestras entre mamadas e sonecas, já que fica muito complicado levar um bebê a tiracolo em ocasiões como essas. Parte das atividades promovidas pela Mãezíssima atende justamente esse nicho, de promover eventos para a família ou ligados ao empreendedorismo que ofereçam suporte para os pequenos ou em que eles estejam intimamente envolvidos, como a feira de troca de brinquedos, realizada duas vezes por ano.

Quando o segundo filho de Patrícia Furlan completou 4 anos, a ex-executiva decidiu reavaliar a carreira, que consumia até 12 horas de trabalho por dia. Na primeira gravidez, em outro emprego, Patrícia teve a chance de acompanhar o desenvolvimento do garoto, hoje um adolescente de 16 anos. Mas o crescimento do caçula estava escapando aos olhos da mãe. “Decidi rever a carreira e a renda e fiquei um ano parada, pesquisando o que fazer”, diz. Neste período, abriu uma confecção infantil, a Varanda, Varandinha, e encontrou a plataforma Maternarum, de apoio ao empreendedorismo materno. A proposta de realizar feiras com mães empreendedoras ganha força a cada edição. A última, realizada em abril, reuniu 83 expositoras e registrou o triplo do faturamento do que a anterior, há um ano. “O primeiro bazar teve 15 participantes e 400 visitantes. Chegamos a 4 mil na última feira”, conta Patrícia. Além de levar seus produtos – guloseimas, bijouterias, confecções – e serviços, como advocacia, contabilidade e assessorias de imprensa, as mães de negócios participam de treinamentos e eventos de capacitação, realizados em horários facilitados e com a permissão para levar as crianças.

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