
O Boticário, uma das poucas grandes empresas genuinamente paranaenses que ainda está em atividade, deixou de ter uma administração "caseira" e agora tem como um dos acionistas a GP Administração de Recursos, subsidiária do grupo GP Investimentos. A mudança ocorreu em dezembro do ano passado e foi confirmada ontem pelo diretor financeiro de O Boticário, Fernando Modé. A participação da administradora ocorreu com o lançamento de um fundo de investimento para a aquisição de ações da holding G&K, que controla O Boticário.
Modé não confirmou o aporte financeiro feito pela GP Administração na holding, alegando que a informação é estratégica. Mas o fundo de investimento IGP, lançado especialmente para a participação na G&K, tem cotas que totalizam no mínimo R$ 53 milhões. Segundo Modé, o novo investidor possibilita ao grupo experimentar um modelo de gestão diferente, para que o trabalho ganhe uma nova dinâmica. "A opção por um fundo em participações também deverá promover novas mudanças na área de governança corporativa", afirmou em e-mail encaminhando pela assessoria de imprensa.
As mudanças na gestão já ocorreram. Um dos sócios da GP Administração, Nelson Rozental, foi eleito para o conselho de administração da holding, ao lado do empresário Miguel Krigsner, fundador e presidente do conselho, e de Artur Grynbaum, seu cunhado e vice-presidente da organização. Os outros sócios da GP Administração são Marcus Martino e Mariano Ceppas Figueiredo. A participação da empresa, especializada na gestão de fundos, não implica necessariamente em um choque de gestão, marca do grupo GP.
O GP foi criado em 1993 por um grupo de investidores composto por Jorge Paulo Lehmann e Marcel Telles, entre outros, com o objetivo de investir em empresas de destaque de varios setores, para reestruturá-las e depois revendê-las. A empresa mantém investimentos na ALL Logística, Telemar, Gafisa, entre outras. Entre os empreendimentos em que o GP já deteve participação estão Submarino, portal iG, Globocabo e várias redes de varejo.
Desde sua criação, o grupo investiu cerca de US$ 1,5 bilhão em 40 companhias. No ano passado, o GP teve lucro líquido de US$ 26 milhões. A receita total foi de US$ 44,3 milhões, sendo que a maior parte desse montante (US$ 38,4 milhões) veio da atividade de private equity (administração da participação acionária em empresas). O restante corresponde às atividades de asset management (gestão de recursos de terceiros), como a que está sendo feita na holding G&K.
Estação
Dois meses depois de celebrar o contrato com a GP Administração, a holding G&K negociou a venda do Shopping Estação com outra empresa do grupo GP, a BR Malls. O valor do empreendimento foi estimado em R$ 153,9 milhões, mas o montante exato da venda não foi confirmado. Na semana passada, Modé disse que a participação de 12% que a G&K detém no Shopping Mueller de Joinville (SC) também deve ser negociada. Segundo ele, isso faz parte da estratégia do grupo em investir e focar esforços no mercado de cosméticos, seu principal mercado.
O Boticário tinha empresas independentes para cuidar da distribuição e logística. Todas elas foram reunidas no ano passado na G&K, "possibilitando assim o controle por uma holding pura, a qual concentrará em seu patrimônio um atrativo para investidores no grupo O Boticário", conforme informações do balanço financeiro de 2006.
Todas as mudanças empreendidas pelo grupo O Boticário desde o ano passado confirmam a tendência para uma gestão mais transparente, que facilitariam a abertura do capital na bolsa. Modé não falou sobre o assunto. De acordo com alguns analistas, a entrada de um novo sócio como a GP Administradora gera expectativas sobre aumento de produção e lançamento de novas linhas e tira o foco dos boatos sobre a possível venda do Boticário para um concorrente, como a Natura.



