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Diretores do Banco Central divergiram sobre futuro da taxa Selic (na foto, reunião do Copom em 2019).
Diretores do Banco Central divergiram sobre futuro da taxa Selic (na foto, reunião do Copom em 2019).| Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Os diretores do Banco Central divergiram sobre os próximos passos da política de juros. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, um grupo predominante avaliou que há espaço para uma possível redução da taxa na próxima reunião, em agosto. Outro grupo, porém, defendeu cautela.

"Observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos. A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião", informa a ata do Copom, divulgada na manhã desta terça (27).

O outro grupo de diretores, por sua vez, entende que a dinâmica da queda da inflação ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis, como os alimentos. Também considera que a incerteza sobre a situação do hiato do produto gera dúvidas sobre o impacto do aperto monetário feito até agora.

Esses diretores também consideram que é necessário observar maior proximidade das expectativas de inflação mais longas – dos próximos anos – às metas e “acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo”.

Para 2024, o ponto médio (mediana) das projeções do boletim Focus para o IPCA está em 3,98%, diante de uma meta de 3%. Situação parecida ocorre para 2025: o objetivo proposto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é o mesmo, mas a mediana das projeções está em 3,8%. A meta para 2026 será definida nesta semana.

Um ponto de consenso entre os dois grupos foi o fato de que reduções nas taxas de juro dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial de componentes mais sensíveis aos juros; da atividade econômica e das expectativas de maior prazo para a inflação.

O comitê considerou, por unanimidade, que eventuais reduções na taxa de juro exigem confiança na trajetória do processo de desinflação. E ressalta que quedas prematuras podem levar a reaceleração do processo inflacionário e “consequentemente, levar a uma reversão do próprio de relaxamento monetário”, ou seja, levar a novas altas na taxa Selic.

Desaceleração gradual da economia

O Copom continua vendo um cenário de desaceleração gradual da economia, mesmo com o PIB do 1° trimestre tendo surpreendido com uma alta de 1,9%, puxada pela agropecuária. Setores mais cíclicos da economia estão apresentando menor dinamismo, aponta a ata.

O mercado de trabalho vem se mostrando resiliente, com aumento no número de postos de trabalho com carteira assinada e relativa estabilidade na taxa de desemprego. No trimestre móvel encerrado em abril, foi de 8,5%, 0,1 ponto percentual acima do registrado em janeiro. Mas houve uma redução na taxa de participação, que caiu de 56,7%, no primeiro mês do ano, para 56,2%.

Outra sinalização do comitê é que a inflação ao consumidor vem se reduzindo no período recente, com destaque para alimentos e bens industriais. Nesta terça (27), foi divulgado o IPCA-15, a prévia da inflação, que sinalizou para uma alta de 0,04% em junho e de 3,4% nos últimos 12 meses.

Os diretores do BC fazem uma ressalva: “os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia inflacionária, apresentam uma incipiente melhora, mas mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.”

Cenário externo segue adverso

O comitê considera que o ambiente externo continua adverso, mesmo com a atenuação do estresse envolvendo bancos americanos e europeus e do limitado contágio sobre as condições financeiras. “A situação segue requerendo monitoramento”, dizem em ata.

Eles apontam, entretanto, que há um aperto nos mercados de crédito nos Estados Unidos com impactos ainda incertos, mas que contribuem negativamente para o crescimento.

Outra sinalização que vem do exterior é que os bancos centrais das principais economias continuam determinados em promover a convergência das taxas de inflação para as metas, em um cenário em que a inflação se mostra resiliente.

Nos Estados Unidos, a inflação acumulada em 12 meses encerrou maio em 4%, o dobro da meta. Na União Europeia, os preços registraram uma elevação de 7,1% no período, diante de um objetivo de 2%.

“Em diversos países, as leituras de inflação recentes apontam para alguma estabilização dos núcleos de inflação em patamares superiores às suas metas e reforçam o caráter persistente do atual processo inflacionário.” Canadá e Austrália foram obrigados a rever a estratégia de redução nos juros e tiveram de promover novas altas.

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