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Trabalho

Aumento real em 2012 deve repetir desempenho de 2011

Segundo projeção do Dieese, ritmo mais lento da economia no ano que vem vai puxar negociação para patamar similar ao de 2011, em torno de 1,4%

Greve nos Correios em 2011: trabalhadores terão pouco poder de barganha em 2012, de acordo com especialistas | Marco Andre Lima / Gazeta do Povo
Greve nos Correios em 2011: trabalhadores terão pouco poder de barganha em 2012, de acordo com especialistas (Foto: Marco Andre Lima / Gazeta do Povo)

São Paulo - Os reajustes salariais das categorias de trabalhadores em 2012 devem se acomodar em um patamar médio semelhante ao de 2011 – que, segundo projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), deve fechar o ano em algo entre 1,3% e 1,4% de aumento real. Se a inflação mais alta em 2011 atrapalhou as negociações entre trabalhadores e empresas e fez com que os aumentos fossem inferiores aos de 2010 (melhor ano da série do Dieese, com 1,66%), será a desaceleração da economia que deve dominar as discussões em 2012.

O ritmo mais lento da economia já pode ser observado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mercado de trabalho. A ocupação, que chegou a crescer 4,3% em maio de 2010 em relação ao mesmo mês de 2009, desacelerou a expansão para 1,5% em outubro de 2011 na comparação interanual. De acordo com o economista da LCA Consultores Fábio Romão, embora o crescimento médio de 2011 seja de 2%, a ocupação vem perdendo força há algum tempo e só não entrou no terreno negativo porque a População Economicamente Ativa (PEA) não cresceu e, assim, não pressionou o mercado de trabalho. "Com esse ritmo de crescimento da ocupação, não dá para acreditar que o poder de barganha nas negociações será maior em 2012", afirmou Romão.

De acordo com o IBGE, o rendimento médio real habitual (excluindo-se parcelas que não têm caráter contínuo mensal), que subiu 4% nos meses de maio, junho e julho na comparação interanual, registrou queda de 0,3% em outubro na mesma base de comparação, algo que não ocorria desde janeiro de 2010. Para a economista Zeina Latif, os dados confirmam que a desaceleração dos ganhos reais ainda está em curso. "Quando observamos os dados do IBGE, que incluem os setores informais, vemos que, ainda que muitas categorias tenham tido bons reajustes, o processo de ajuste do mercado de trabalho veio mais cedo do que se esperava e ainda não se consolidou", afirmou, reiterando que essa não era a expectativa há poucos meses.

Mínimo

A influência do reajuste de 14,13% no salário mínimo, para R$ 622 a partir de 1.º de janeiro, é importante, mas não determinante para os reajustes salariais das demais categorias. Para o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado, o aumento do mínimo deve atingir cerca de 50 milhões de pessoas em todo o país e colocar recursos para setores que produzem bens de baixo valor agregado, como vestuário, calçados e alimentação. "O salário mínimo empurra para cima a pirâmide social e tem impactos em toda a estrutura salarial, principalmente sobre os pisos", afirma.

Silvestre pondera, contudo, que embora o mínimo seja uma referência para os pisos salariais, isso não significa que o reajuste será o mesmo. "Certamente muitos pisos terão esse aumento de 14,13% ou algo muito próximo disso, mas é preciso olhar para toda a economia e considerar a crise", disse.

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, embora o reajuste do mínimo seja um farol para as demais categorias, tudo depende do momento da negociação salarial e se a discussão central é sobre inflação, recuperação econômica ou crise. "O mínimo coloca um viés de alta em qualquer negociação, principalmente para as categorias menos organizadas. O problema é chegar na hora do acordo mais preocupado com a manutenção do emprego do que com o aumento real", analisa.

Negociação pode ser melhor no 2.º semestre

Os trabalhadores com data-base no segundo semestre do ano serão mais bem-sucedidos nas negociações por reajustes salariais em 2012 devido à desaceleração da economia, que ocorreu no terceiro e no quarto trimestre de 2011 e, em 2012, deve se concentrar nos primeiros meses do ano.

A desaceleração econômica já prejudicou as negociações das categorias com data-base no segundo semestre de 2011. Embora as categorias mais fortes, como metalúrgicos, bancários e petroleiros, negociem em setembro, a média de ganhos reais se manteve nos mesmos níveis do primeiro semestre – 1,36%, segundo levantamento preliminar do coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio­econômicos (Dieese), José Silvestre Prado. Segundo ele, embora as categorias mais organizadas tenham obtido bons reajustes, a maioria das categorias não conseguiu, o que puxou a média dos aumentos para baixo.

"Tivemos um bom desempenho em termos de reajustes no primeiro semestre, um pouco menores que os obtidos em 2010, mas nada expressivo. Mas a crise apareceu em maio e junho e teve reflexos nas negociações do segundo semestre", diz Silvestre, ressaltando que espera um recuo na magnitude dos ganhos reais no fechamento do segundo semestre. "Ainda que a crise não tenha efeitos imediatos, do ponto de vista das expectativas, ela conta muito", explica.

A economista Zeina Latif também acredita que os reajustes do primeiro semestre de 2012 serão inferiores aos do segundo semestre. "Acredito que teremos dinâmicas muito diferentes entre os reajustes do primeiro e segundo semestre. Isso porque, no primeiro semestre, ainda estaremos sofrendo os efeitos defasados da crise, e, no segundo semestre, passamos a ter uma dinâmica com um pouco mais de solidez", afirmz.

Para Zeina, porém, essa recuperação no segundo semestre não será tão forte quanto a verificada em 2009 e 2010. Segundo ela, embora os investimentos públicos e o consumo das famílias puxem a economia para cima, não há razão para acreditar que o crédito bancário vai crescer no mesmo ritmo do passado. "Teremos os investimentos para a Copa, mas isso, por si só, não gera uma dinâmica assim tão forte", afirmou.

Essa situação deve prejudicar a maioria dos trabalhadores brasileiros, pois 67% das categorias têm data-base entre janeiro e junho, segundo o economista da LCA Consultores Fábio Romão. Segundo dados do Dieese, cerca de 25% das categorias possuem data-base em maio. "A aceleração do PIB deve começar no segundo trimestre de 2012, mas só deve aparecer na forma de melhores dissídios no segundo semestre, quando a maior parte das negociações já tiver ocorrido", afirmou Romão.

Além da economia menos aquecida, outro fator que vai influenciar as negociações é a inflação. Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, em maio de 2012, quando boa parte das negociações for feita, a inflação acumulada em 12 meses deve girar em torno de 5,2% a 5,5%, bem menos que os 6,55% acumulados até maio de 2011. "O grande perigo é chegar na hora da negociação de um grupo forte, de maio, por exemplo, com a inflação no pico, porque isso cristaliza um patamar. Em 2011, chegamos ao pico da inflação nas negociações das categorias mais importantes", afirmou, ponderando que este não deve ser o caso em 2012.

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