
"Viajar de avião é sempre muito interessante." Essa é a única frase que Peter Grünberg sabe falar em português. Alemão, adora nosso idioma e diz que essa afirmação é sonora quando dita por nós, brasileiros, porque esticamos as vogais e, assim, parece que estamos eternamente cantando.
Como música é uma de suas paixões, acha que todos daqui parecem simpáticos. Ele toca violão desde os acampamentos de escoteiro na cidade de Pilsen, hoje parte da República Checa, que teve de deixar, com sua família, depois de perder o pai nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Agora, aos 71 anos e sofrendo do mal de Parkinson há pelo menos três, continua a tocar o instrumento, segurando com força as cordas e apurando o ouvido para achar acordes certos para uma nova música que está querendo apresentar em suas palestras.
Peter é físico. Mais do que isso: é o ganhador do Prêmio Nobel de Física de 2007 por ter percebido o fenômeno físico da magnetorresistência gigante (MRG). Se ele já usou sua pesquisa para dar um grande presente à indústria dos eletrônicos, agora, além de melhorar sua musicalidade estudando as vibrações de cada nota, quer ajudar a revolucionar as tecnologias verdes.
O MRG, efeito quântico que atua sobre a resistência de placas eletrônicas, foi um grande passo para a miniaturização de discos rígidos, que perderam em tamanho e ganharam em capacidade de armazenamento. Daí para tocadores de MP3, sensores de movimento e outros aparelhos foi um pulo. Não seria um exagero dizer que, sem o seu trabalho, iPods, tablets e smartphones demorariam mais para surgir.
Devido às especulações que aconteceram na época, Peter esperava ser laureado com o Nobel. "Gosto de viajar, mas foi muito difícil me acostumar ao fato de ficar menos no laboratório. Sempre tem alguém falando que fui chamado para uma palestra, que tenho de dar uma entrevista. Isso de dar seminários às vezes é chato, pois o tema é sempre o mesmo. Agora, consegui acumular conhecimentos sobre novos tópicos (como o o meio ambiente) e tento incluí-los nas minhas falas", diz.
Para o cientista, que nunca mexeu em um iPod na vida, o mais importante não foi a tecnologia desenvolvida por ele e pelo francês Albert Fert, com quem dividiu o Prêmio Nobel, mas sim as portas que ela abriu para um novo campo de estudo, a spintrônica.
Se questionado sobre as principais aplicações dessa nova ciência, Peter não parece se importar muito com a possibilidade de criar bons tablets. Quer, na verdade, explicar como sua pesquisa tem potencial para ajudar o planeta.
Para isso, usa como exemplo seus queridos aviões: "Hoje, há 10 milhões de aviões constantemente no céu. Cada um deles consome, em média, 10 mil litros de querosene por hora de voo. O Golfo do México produz 400 mil litros do combustível por hora. Portanto, isso será um problema em menos de 40 anos".
Então, o que pode ser feito? Ele responde: "A videoconferência e o Skype são exemplos de tecnologias que permitem que os homens estejam virtualmente em vários lugares. Mas a energia gasta hoje para manter a rede mundial de computadores é da mesma razão da necessária para sustentar o tráfego aéreo".
O desafio é, então, diminuir a quantidade de energia elétrica consumida por cada máquina. Para Peter, eficiência de energia é a palavra de ordem. E é nisso que a spintrônica pode ajudar.



