
É possível diversificar as aplicações em renda variável comprando um só papel. Embora possa parecer contraditório, esse é o princípio por trás dos ETFs (sigla em inglês para Exchange Tradeable Funds, ou Fundos Negociáveis em Bolsa). Disponíveis no mercado brasileiro desde 2004, mas ainda pouco conhecidos, os ETFs vêm ganhando espaço e devem sair fortalecidos com a crise que abateu o mercado nas últimas semanas.
Os ETFs também são conhecidos como fundos de índices, porque mantêm carteiras que replicam totalmente índices do mercado, como o Ibovespa (o mais conhecido), o IBrX, o índice de empresas de baixo valor de mercado (conhecidas como small caps) e outros. É por isso que elas são uma opção de diversificação: ao adquirir cotas do fundo, é como se o investidor estivesse acrescentando à sua carteira "pedaços" de todo o conjunto de empresas. Assim, ele não fica refém da variação de um único papel.
Esse é um dos dois trunfos dos ETFs. O outro é a baixa taxa de administração um atrativo que ganha destaque justamente em momentos de crise, como o atual. O principal ETF do mercado brasileiro hoje é o iShares Ibovespa, administrado pela multinacional BlackRock, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo, e conhecido pelo código de negociação Bova11. Sua taxa de administração é de 0,54%. Os fundos de ações convencionais aqueles que o cliente contrata no seu banco cobram uma taxa média de 2,18%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Por isso os ETFs têm ganho um número crescente de defensores. "Os fundos convencionais têm mais desvantagens", diz Leandro Martins, analista chefe da corretora paulista Walpires e fundador do site Seu Consultor Financeiro.com. Para ele, trata-se também de uma forma mais segura para a entrada do investidor iniciante. "Muita gente entra no mercado sem informação e acaba comprando alguma ação perigosa, como a Mundial, por exemplo. Comprando ETFs ele está seguro, com uma cesta de papéis. Os negócios com papéis da empresa de ferramentas estão sendo investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) depois que o preço das ações subiu 800% entre fins de maio e meados de julho, e depois caíram em acentuada desvalorização.
Nem é preciso ir tão longe. "Às vezes a empresa é excelente, mas cai em função de um clima ruim na própria bolsa, que não afeta o seu desempenho real", diz Mário Giovannoni, operador de renda variável da empresa de agentes autônomos de investimento Target Invest. "Um ETF como o Bova11, que tem boa liquidez, é um papel muito interessante para o investidor que está começando", comenta.
As vantagens atraíram investidores como o administrador de empresas Fabiano Rocha Loures para os ETFs. "É a forma mais tranquila e segura de fazer o acompanhamento do Ibovespa", opina. "É um produto em que o cara consegue entrar sem precisar analisar as ações uma por uma." Além delas, há alguns benefícios adicionais, como a possibilidade de embolsar o valor da cota do dia quando o investidor vende seus papéis. Em um fundo de ações, o resgate precisa ser solicitado com um ou dois dias de antecedência, mas o valor a ser pago é o da cota do dia. "Num fundo, você pode dar a ordem de resgate depois de uma alta, mas resgatar depois de um ou dois pregões de baixa. Com o ETF você não corre esse risco", observa Rocha Loures, que opera pela Target Invest.



