
Quem investe em ações de bancos norte-americanos deve voltar a receber uma fatia do lucro das instituições em breve. Analistas dizem que, após uma pausa de três anos para restaurar seus balanços financeiros, os maiores bancos dos Estados Unidos estão prontos para retomar o pagamento de dividendos ainda no primeiro semestre deste ano. As operações têm potencial para despejar bilhões de dólares nos cofres dos fundos de pensão e nos bolsos de aposentados para quem os papéis dos bancos haviam se tornado uma fonte essencial de renda.
Pistas do tamanho desses repasses começaram a ser conhecidas na sexta-feira passada, quando o JPMorgan Chase publicou os resultados de 2010, com lucro de US$ 17,4 bilhões, 48% maior que os de 2009. Mais balanços foram anunciados nesta semana: o Citigroup reverteu o prejuízo de 2009 e teve lucro de US$ 10,6 bilhões em 2010; o Wells Fargo lucrou US$ 12,36 bilhões no ano passado, um aumento mínimo em relação a 2009; já o Goldman Sachs decepcionou os analistas, com lucro de US$ 8,35 bilhões, queda de 37% em relação a 2009; ainda faltam os resultados do Bank of America. Com os grandes bancos fechando um segundo ano consecutivo de lucratividade em alta, as condições estariam dadas para que os órgãos reguladores aprovem o aumento dos dividendos já no mês de março.
Quando a crise piorou nos anos de 2008 e 2009, praticamente todas as instituições financeiras reduziram seus dividendos a alguns centavos por ação, o que acabou prejudicando investidores comuns que dependiam desses repasses. O JPMorgan, por exemplo, oferece hoje dividendos de US$ 0,20 ao ano por papel antes da crise, eles eram de US$ 1,52. Toda a indústria financeira listada no índice Standard & Poor's 500, da Bolsa de Nova York, chegou a pagar US$ 51 bilhões em 2007. No ano passado, o montante encolheu para US$ 19 bilhões.
"O retorno dos dividendos é um marco importante, significa que os bancos estão de volta e que o Federal Reserve [Fed, o banco central dos EUA] quer promover mais confiança no mercado para que as instituições emprestem mais dinheiro", diz Gerard Cassidy, analista da RBC Capital Markets.
Socorro
Auxiliado por uma sopa de letrinhas os programas federais de socorro financeiro que totalizaram mais de US$ 3 trilhões , taxas de juro ultrabaixas e um mercado de ações em franca recuperação, o setor recobrou a saúde bem antes do previsto. Os bancos norte-americanos devem divulgar lucros de US$ 70 bilhões em 2010, de acordo com a empresa de pesquisas Foresight Analytics. Isso significaria um aumento de US$ 12,5 bilhões em relação ao ano anterior, mas ainda representaria apenas a metade do valor alcançado em 2006, quando o mercado imobiliário não havia entrado em colapso e o sistema financeiro não estava prestes a ser varrido do mapa.
Teste
Há poucos dias, o Fed deu início a mais uma rodada dos chamados "testes de estresse" nos 19 maiores bancos dos EUA. O objetivo será avaliar a capacidade de as instituições permanecerem saudáveis mesmo diante de uma recuperação econômica ainda anêmica e de regras mais rígidas, que certamente afetarão a geração de lucro. Diferentemente da primeira rodada de testes, desta vez os resultados não serão divulgados.
Antes de aprovar um aumento nos dividendos, as autoridades regulatórias precisam checar o teste de estresse e concluir que o banco será capaz de atender às exigências de capital feitas tanto por meio dos novos acordos internacionais como pela recente reforma do setor financeiro dos EUA. A instituição também deverá ter quitado integralmente a ajuda recebida do governo no auge da crise.
Impopular
Mesmo que o retorno dos dividendos seja bem-recebido por investidores comuns, essas operações são um tema delicado para os bancos e para os políticos de Washington, diz Chris Kotowski, analista da Oppenheimer. Muitos eleitores ainda não se conformam com o fato de o governo ter socorrido as instituições após a quebra do Lehman Brothers, em 2008. Recentemente, o pagamento de bônus em Wall Street gerou muita revolta.
"A questão ainda é: de que maneira tornar o assunto palatável para o público? Os bancos podem muito bem voltar a fazer esses pagamentos, mas todos têm medo das manchetes dizendo que, dois anos depois do resgate, os gatos gordos estão novamente embolsando dividendos", explica Kotowski. Como resultado, diz o analista, os repasses serão retomados em estágios e pode ser que levem até o fim de 2012 para retornar aos níveis históricos.
Tradução: João Paulo Pimentel.



