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Repercussão

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)"É absurdo manter a taxa de juros em nível tão elevado, quando a inflação está sob controle e precisamos lutar para impedir que haja uma queda brusca do crescimento. Desse jeito, já começo a sentir saudade de 2008. O governo brasileiro, ao insistir em não abaixar a Selic, coloca-se na contramão do que países como Japão, Estados Unidos e outros da Europa estão praticando: cortes drásticos nos juros para proteger emprego e renda." Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio)"Pode-se dizer que, mesmo parada, a Selic subiu até 2% nos últimos meses, na comparação com os juros vigentes nos EUA e na Europa, que têm sido drasticamente reduzidos pelos respectivos bancos centrais. Enquanto isso, o nosso BC ignora o risco do contágio pela recessão mundial e se preocupa com o perigo mais imaginário do que real da inflação. A situação é gravíssima. Pesquisas indicam que empresários podem reduzir em até R$ 40 bilhões os investimentos que pretendiam fazer no ano que vem. Diante disso é preciso agir para restabelecer a confiança dos investidores na continuidade do crescimento do País." Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical"A taxa de juros de 13,75% é um desastre para a economia brasileira. O governo não pode continuar com esta política que privilegia os especuladores em detrimento da produção e o emprego. A somatória da crise econômica com os juros em patamares estratosféricos vai prejudicar os trabalhadores que lutam para manter seus empregos."Crise seria amenizada se Copom reduzisse juros, diz CNIPara Armando Monteiro Neto, presidente da confederação, um corte na taxa de juros "acompanharia inclusive a política monetária de diversos países nesse momento de necessidade de ações coordenadas em escala internacional".Leia a matéria

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado formado pela diretoria e presidente da instituição, decidiu nesta quarta-feira (10), na última reunião deste ano, manter, pela segunda vez consecutiva, os juros básicos da economia brasileira estáveis em 13,75% ao ano. O encontro foi um dos mais longos dos últimos tempos e durou mais de quatro horas.

Com a decisão, os juros permanecem no patamar mais elevado desde outubro de 2006. Com a decisão, o Copom confirmou a estimativa da maior parte do mercado financeiro, que já projetava a manutenção dos juros, na reunião de dezembro do Copom, há mais de um mês.

Ao fim do encontro, o Banco Central divulgou a seguinte frase: "Tendo a maioria dos membros do Comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu por unanimidade, ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés, neste momento. O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação com vistas a definir tempestivamente os próximos passos de sua estratégia de política monetária".

Com este comunicado, o Copom sinaliza ao mercado financeiro que vai avaliar o cenário nos próximos 45 dias e que pode optar pela queda dos juros no seu próximo encontro, marcado para os dias 20 e 21 de janeiro.

Metas de inflação

No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o Copom tem de calibrar a taxa de juros para atingir uma meta pré-determinada com base no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Para este ano, e para 2009, a meta central de inflação é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Para 2009, a projeção do mercado financeiro é de que o IPCA fique em 5,20% - acima da meta central de 4,50%. O BC já avisou que quer trazer a inflação para o centro da meta já no próximo ano. Por isso, optou por manter os juros mesmo em um cenário de desaceleração da economia. Fatores avaliados pelo Copom

Ao tomar suas decisões, o Copom tenta antever os fatores que podem pressionar a inflação para cima, e para baixo, no futuro. Neste momento, o BC já está mirando na meta de 2009 - pois as decisões sobre a taxa de juros demoram em média seis meses para ter impacto pleno na economia.

Como reflexo da crise financeira internacional, os economistas passaram a projetar um crescimento menor para a economia brasileira no próximo ano. Antes, previam, um crescimento de 3,5% e, agora, já estimam uma expansão de 2,5%. O governo, que antes previa 5% de aumento do PIB em 2009, já fala em até 4% de crescimento. Dados recentes do PIB indicam, porém, que o crescimento ainda segue expressivo, pelo menos até setembro deste ano.

Com um crescimento econômico mais baixo, haverá certamente uma pressão menor sobre a inflação e uma elevação menor do crédito. Outro fator que atua para conter a subida da inflação é o recuo dos preços das "commodities" (alimentos, aço e petróleo, entre outros) - que estão em queda livre desde a piora da crise devido à expectativa de consumo menor. Em novembro, o IPCA recuou para 0,36%.

Por outro lado, a crise financeira também tem causado a disparada do dólar - o que contribui para pressionar os preços. Desde o início de setembro, o dólar já avançou 40% - visto que estava em R$ 1,78. Nesta quarta-feira, oscilava ao redor de R$ 2,50. Com o dólar mais caro, aumenta também o valor dos insumos e matérias-primas importados para a produção nacional, o que pode gerar remarcação de preços no mercado doméstico.

Comparação com o mundo

Segundo ranking elaborado pela Consultoria UpTrend, o Brasil tem juros reais de 8% ao ano - com a decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano tomada pelo Copom. Deste modo, ainda mantém a posição de líder mundial de juros reais. O segundo colocado é a Hungria, com juros reais de 5,6% ao ano, seguida pela Turquia, com juros de 5% ao ano, e Austrália (3% ao ano).

Com a decisão desta quarta-feira, o Brasil segue trilhando um caminho diferente do adotado por outros países. Levantamento da LCA Consultores mostra que 13 países, de um total de 22 pesquisados, reduziram os juros desde o anúncio de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers, em meados de setembro.

As reduções de juros acontecem em meio à um cenário de recessão nos Estados Unidos, Europa, Japão, Alemanha, Reino Unido e França, entre outros. Algumas das economias consideradas desenvolvidas, como Reino Unido e Suíça, já estão no terceiro corte desde o agravamento da crise, com juros respectivos de 2% e 1% ao ano. A União Européia reduziu os juros pela quarta vez, para 2,5% ao ano.Brasil é diferente

No fim do mês passado, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, avaliou que as soluções são diferentes de acordo com os diagnósticos que são feitos em cada país. "O vizinho está tomando um remédio e o outro está tomando outro. Então vamos tomar todos eles juntos? Isso é perigoso", disse ele, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.

Ele notou que a situação dos Estados Unidos e a da Europa diferem, por exemplo, do que acontece no Brasil. Explicou que nos EUA e na Europa há sinais fortes de recessão acompanhada por um processo de deflação, o que recomenda diminuição nas taxas de juros.

"Então, a queda dos juros é adequada e normal nestes países. Mas outros países, que estão tendo fortes depreciações cambiais como a Rússia e a Hungria, estão subindo os juros. O Brasil é diferente desses países", disse Meirelles naquele momento.

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