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PERFIL

Bilionário Jorge Lemann, da 3G Capital, é o “anti-Eike Batista”

Mais circunspecto, Lemann é descrito por um amigo como “a última pessoa que você vai ouvir se vangloriando” de ser rico

Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais suíços, Lemann foi um surfista ávido, praticou pesca submarina e jogou tênis profissionalmente, chegando a disputar Wimbledon | Felipe Rau/Estadão Conteúdo
Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais suíços, Lemann foi um surfista ávido, praticou pesca submarina e jogou tênis profissionalmente, chegando a disputar Wimbledon (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)

Cerveja, café, hambúrgueres, ketchup e agora salgadinhos: o apetite do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann não tem limites. O caçador de ativos mais agressivo da América Latina se juntou a Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, para adquirir a Kraft Foods, a gigante do ramo de lanches com sede em Illinois, para depois combiná-la com sua fabricante de condimentos H.J. Heinz.

Adquirir uma gigante internacional — e depois torná-la ainda maior — é exatamente o que Lemann e seus sócios da 3G Capital, uma firma de private equity com sede no Brasil, têm feito melhor nas últimas duas décadas. A Kraft soma outra marca histórica à vasta lista da 3G e também consolida a improvável reputação de Lemann de bilionário mais discreto da América Latina.

“Eu não diria que Lemann tem vergonha de ser rico, mas ele é a última pessoa que você vai ouvir se vangloriando disso”, disse Roberto Teixeira da Costa, amigo de longa data de Lemann e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Essa circunspecção parece incomum para o Brasil, onde a mídia se banqueteia com a história de uma riqueza criada do zero pelo autodenominado rebelde industrial Eike Batista — um sedutor com seu PowerPoint que conversava com investidores para que eles financiassem sua visão de prancheta de um império dos setores de energia e logística.

Eike chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, reuniu 2 milhões de seguidores no Twitter e depois caiu por terra quando seus poços de petróleo acabaram sendo um fracasso. Agora, ele enfrenta processos judiciais em série contra credores irritados e tem visto seus ativos serem rebocados, literalmente.

Enquanto Eike transportava possíveis investidores e jornalistas de helicóptero para o canteiro de obras vazio que seria o maior superporto da América Latina, Lemann estava silenciosamente edificando sua riqueza, planejando cuidadosamente suas abordagens a alvos famosos nos EUA e na Europa.

Aquisições

Juntamente com os sócios de longa data Beto Sicupira e Marcel Telles, também do Brasil, Lemann orquestrou as aquisições de alguns dos maiores nomes do setor de alimentos e bebidas. Em 2008, ele comprou a Anheuser-Busch, depois engoliu a Burger King e a rede canadense de cafeterias Tim Hortons.

A equipe de Lemann treinou o apetite em casa, nos selvagens anos 1980 e 1990, quando a inflação era galopante e minava algumas das marcas mais conhecidas do Brasil. No comando da primeira empresa de private equity do Brasil, a equipe de Lemann abocanhava empresas varejistas em dificuldades, incluindo as fabricantes de bebidas nacionalmente conhecidas Brahma e Antarctica, que possuíam participações de mercado invejáveis, mas planos cheios de furos. O resultado foi a criação da Ambev, maior empresa de bebidas da América do Sul.

Do Brasil, ele se voltou para a Europa, combinando a Ambev com a Interbrew, da Bélgica, que possuía a marca de cerveja butique Stella Artois. Mas o que à primeira vista parecia uma aquisição belga de uma frágil irmã latina acabou sendo justamente o oposto. Logo os administradores brasileiros estavam ditando as regras em Leuven. O conglomerado AB Inbev é, agora, a maior cervejaria do mundo. Com isso, ele atraiu a atenção de Buffett e deu o salto para os EUA.

Que um trio de cariocas estivesse por trás de empreendimentos tão importantes foi como um choque para muita gente no mundo dos negócios, e não apenas para os alvos de Lemann. “Aí estavam esses brasileiros, com sua cultura do samba e estilo de vida descontraído, saltando sobre ativos de classe mundial”, diz Sérgio Lazzarini, professor de Administração da Universidade Insper, de São Paulo. “Era fácil subestimá-los”.

Método

O modelo de negócio de Lemann — baseado na meritocracia e em objetivos de produtividade — era tão simples quanto exato. Cortes de custos e racionalização não eram as metas, e sim as consequências. No Brasil, dominado por empresas ineficientes e familiares, “a obsessão de Lemann pelos resultados é a exceção”, disse Lazzarini.

No início de 2013, por exemplo, a Heinz tinha um resultado nada firme e 31.900 funcionários. Até dezembro passado, sob a gestão da 3G, a empresa havia se desprendido de quase um quarto de sua folha de pagamento, reduzindo os custos anuais em cerca de US$ 80 milhões.

Atleta bem-sucedido, Lemann poderia nunca ter se tornado um caçador corporativo. Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais suíços, ele foi um surfista ávido, praticou pesca submarina e jogou tênis profissionalmente, chegando a disputar Wimbledon, até que finalmente se estabeleceu no jogo muito maior da criação de riqueza.

“Negócios, negócios, negócios. Esse é Jorge Paulo, 12, 16 horas por dia”, disse Teixeira da Costa sobre seu amigo.

Teixeira pode ter perdido momentos com seu parceiro de bebida, mas o Brasil ganhou um magnata de Grand Slam.

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