Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Agronegócio

Biodiesel tem futuro incerto no Brasil

Governo incentiva matéria-prima alternativa para o combustível vegetal, mas soja ainda reina absoluta

 |

A partir de 1.º de janeiro de 2008, queiram ou não, as distribuidoras brasileiras de diesel terão de vender o combustível com uma proporção de 2% de biodiesel, o chamado B2. A mistura compulsória, determinada em 2005, vai exigir cerca de 840 milhões de litros do combustível vegetal no ano, grande parte já adquiridos em leilões da Agência Nacional de Petróleo (ANP). É o que se sabe de certo, até agora, sobre a inserção do biodiesel na matriz energética do país. Apesar de ter surgido como uma grande promessa de futuro para o Brasil, o biodiesel ainda não tem um cenário claro pela frente: não se sabe quantas das diversas intenções de investimento em usinas (só no Paraná foram dois anúncios em menos de um mês) vão se concretizar, nem qual será a matéria-prima que vai conseguir desbancar a soja na produção e diminuir o preço do combustível vegetal frente ao fóssil.

O programa de biodiesel brasileiro, além de uma alternativa para combustíveis não-renováveis, surgiu com a justificativa de inclusão social ao incentivar a agricultura familiar como fornecedora de matéria-prima. O governo lançou um selo social e garantiu desoneração tributária para as usinas que comprarem dos pequenos produtores, principalmente os que plantam mamona e dendê no Norte e Nordeste do país (veja na página ao lado). Apesar dos incentivos, é o óleo de soja que vai reinar absoluto na composição do biodiesel, com uma participação que tende a alcançar 90%, acompanhando o quadro da produção de óleos vegetais no Brasil em 2005. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada de mamona no Nordeste chegou a ser ampliada de 164 mil para 210 mil hectares em 2005, com uma reação eufórica frente ao biodiesel, mas retrocedeu no ano passado para 149 mil hectares, devido à falta de demanda.

A soja está ganhando das outras oleaginosas pela escala de produção e distribuição em boa parte do território nacional, com uma estrutura logística bem formada. Mas o fato de não ser o ideal social de matéria-prima para biodiesel no Brasil não é o único porém da cultura. A produção brasileira de soja tem um mercado promissor diante da forte demanda da China e a redução do cultivo do grão nos Estados Unidos, com o crescimento das plantações de milho para produção de etanol. Isso representa boa cotação nos preços internacionais e, conseqüentemente, um custo caro para a produção de combustível. "O produtor vai vender pelo valor de mercado, não importa para que finalidade seja usado o produto. A soja não é viável para biodiesel, o petróleo tem de estar muito caro para compensar esse investimento", diz o analista de mercado agrícola Tony Silva, da consultoria Granoforte, de Cascavel.

O diretor do departamento de combustíveis renováveis do Ministério das Minas e Energia, Ricardo Dornelles, diz que não há surpresa na forte presença da soja neste início de obrigatoriedade do biodiesel, mas que essa tendência deve mudar em breve. "Não tínhamos como achar que seria de outra forma, considerando a participação da soja na produção de óleos vegetais. Mas é preciso desmistificar a questão da matéria-prima no biodiesel, ela não é algo fixo, é uma decisão do dia-a-dia do negócio. Hoje a soja prevalece pela disponibilidade", avalia. O governo, frisa Dornelles, vem investindo em fundos setoriais para desenvolvimento agrícola e agronômico de outras oleaginosas, o que inclui o desenvolvimento de variedades mais resistentes e adaptadas a diferentes regiões do país, algo feito com a soja 30 anos atrás.

A diferença de preço entre biodiesel e diesel na distribuidora – próxima de 30%, segundo o analista de combustíveis da Fator Corretora, Marcos Paulo Fernandes – , por enquanto, é diluída pela pequena participação do óleo vegetal na bomba de combustível. "Com essa mistura não encarece para o consumidor. Com uma substituição maior iria pesar, mas o biodiesel não deve ficar baseado na soja por muito tempo", acredita Fernandes. Para Dornelles, a queda no preço do biodiesel é uma certeza. "Mesmo que a matéria-prima continue cara, a logística de fornecimento e automação das plantas industriais tende a baratear o preço final no futuro", prevê o diretor de combustíveis renováveis.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.