O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse ontem que o governo pretende liberar mais rapidamente as linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empresas de pequeno e médio porte, em setores afetados pelo câmbio, como têxtil e calçados. O Ministério da Fazenda também estuda formas de desonerar a folha de pagamento das empresas exportadoras que usam muita mão-de-obra. As medidas visam a reduzir as perdas das empresas exportadoras que, com a queda do dólar, vêem seus produtos perderem competitividade frente aos importados e no mercado externo.
Para o economista Carlos Magno Bittencourt, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC PR), é justamente em frentes como estas que o governo deve intervir, e não na contenção cambial. "O governo deve interferir trazendo desoneração fiscal para as exportadoras para que elas não absorvam todo o impacto da desvalorização do dólar sobre o seu faturamento."
"O câmbio flutuante não pode deixar de existir", concorda o diretor da Pactum Consultoria, Gilson Faust. "O resultado para o Brasil, na época em que ele não existiu, foi um transtorno enorme."
Outra forma de compensação em estudo é a importação de equipamentos e insumos de produção de forma mais barata. Para Faust, da Pactum, no entanto, as empresas brasileiras já passaram por um recente processo de modernização e não há tanto espaço para novas tecnologias, a ponto de compensar a variação cambial. "É preciso atuar em duas frentes. Seria interessante desonerar, por exemplo, PIS e Cofins, para aquisição de tecnologia e bens de capital."
É justamente isso que tem feito a Motorola Brasil, que tem fábrica em Jaguariúna (SP), e responde por 50% das exportações brasileiras de celulares. Segundo o seu presidente, Enrique Ussher, a empresa sente diariamente o peso do câmbio, mas tem conseguido reverter perdas com melhorias na linha de produção e aumentos na produtividade. "Competimos diretamente com o efeito China, onde as escalas e os custos são incomparáveis com os praticados por aqui", explica. A Nokia não foi tão bem. Os finlandeses transferiram para o México a base de abastecimento para a América Latina e a unidade de Manaus voltou-se apenas ao mercado interno com a valorização do real e os problemas logísticos do pólo.
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