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Aviões das duas empresas. | Embraer/Divulgação.
Aviões das duas empresas.| Foto: Embraer/Divulgação.

O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou que as negociações da fabricante com a Boeing para uma joint venture na aviação comercial foram complexas. “Chegamos a um formato que atende a todos os interesses”, afirmou, em entrevista exclusiva antes da teleconferência com analistas e investidores, na manhã desta quinta-feira (5). Segundo o executivo, a Embraer será majoritária na outra joint venture que ambas estão prevendo para a área de defesa e segurança.

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Leia a seguir os principais trechos:

As negociações entre Boeing e Embraer foram oficialmente anunciadas em dezembro. Por que o anúncio do acerto demorou todo esse tempo?

Esse é um acordo bastante complexo. E, uma vez que o governo brasileiro é detentor de uma “golden share” (ação especial que dá poder de veto em algumas negociações), ele tinha uma opinião bastante forte de que a Embraer deveria garantir a independência do setor de defesa. Queria que esse setor fosse sustentável, e que a Embraer no Brasil continuasse a ter independência nessa área, tendo a gestão e o domínio completo da engenharia e do desenvolvimento de novos programas no futuro. Por isso, passamos a trabalhar em algumas alternativas, e aí é realmente mais complexo. Até que chegamos a um formato que entendemos atender a todas as partes: ao governo brasileiro, à Embraer, à Boeing, aos nossos acionistas.

Mas tinha algum ponto específico travando o acordo?

Não tinha um ponto específico. É que, à medida que você vai dividir uma empresa que tem uma aviação comercial, uma área de defesa e uma aviação executiva, quando você faz a separação, você automaticamente entra na necessidade de se ter acordos operacionais entre essas empresas. Existem fábricas, existe a engenharia, a cadeia de fornecedores. Então, era necessário que nós costurássemos os acordos operacionais. E esses acordos são complexos. Não são feitos de uma hora pra outra, são muitos detalhes. E isso é que realmente levou mais tempo.

O comunicado diz que será criada uma outra joint venture para a área de defesa, e essa era exatamente a área em que havia mais empecilhos por parte do governo. Como vai funcionar esse acordo, especificamente?

Esse é um ponto muito importante. Essa joint venture vai dar possibilidade de a Embraer S/A (a empresa que vai ficar com as áreas de defesa e de aviação executiva) ter um crescimento bastante forte. Essa joint venture vai ser criada com a Boeing, mas a Embraer será majoritária. Não sabemos ainda o porcentual, mas a Embraer será majoritária. Os resultados dessa nova empresa serão consolidados no balanço da Embraer S/A. A joint venture será destinada a explorar oportunidades no setor de defesa, especialmente a venda do (cargueiro) KC-390, por meio da rede da Boeing. A Boeing tem uma área de defesa que representa aproximadamente um terço das suas receitas, ou cerca de US$ 28 bilhões, com muitos clientes. A joint venture dará a possibilidade de a Embraer ter acesso a esses mercados, o que, sem a Boeing, seria extremamente difícil. Com a Boeing, nós temos uma possibilidade muito grande. A Boeing entende que o KC-390 é um avião muito eficiente, que pode ter um sucesso muito grande, que há uma demanda muito importante no mundo para esse avião. Então, para a Embraer S/A isso é ótimo, porque vai significar mais exportação, mais empregos e mais vendas.

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É uma parceria só na área comercial, ou também vai englobar desenvolvimento de produtos?

Comercial. Evidentemente que, dependendo do país, vai ser necessária uma certa customização do avião, e aí quem vai fazer a customização será a joint venture. Mas isso já é um detalhe que faz parte de uma discussão que ainda será feita para detalhar exatamente como a joint venture vai funcionar. Hoje, a decisão é que a joint venture vai existir e que o fundamento será esse que eu disse.

O governo teria condicionado a aprovação do acordo à manutenção dos empregos. Como ficou essa questão? Como foram as negociações?

Nós estamos em contato com o governo, através do grupo técnico, desde janeiro, com reuniões periódicas, até que chegamos a este formato. Agora nós vamos fazer as negociações finais dos documentos com a Boeing, e esse é um processo que vai levar talvez uns três ou quatro meses. Aí, uma vez que os documentos estiverem na sua forma final, nós vamos submetê-los à aprovação final do governo brasileiro, por conta da “golden share”. Esse é o processo normal. Em relação aos empregos, o que estamos antevendo aqui é um aumento das contratações, uma vez que a aviação comercial vai estar mais inserida na cadeia global da Boeing. Ou seja, Embraer e Boeing formam o grupo aeroespacial mais importante do mundo, com uma possibilidade de oferecer às empresas aéreas jatos de 76 a 450 assentos. A Boeing tem um interesse muito grande nos nossos aviões, ela vê uma demanda bastante grande, e portanto, naturalmente, o que deve acontecer são vendas maiores, mais exportações e maior geração de empregos.

Mas foi indicado nos contratos que os empregos seriam mantidos, assim como as fábricas?

Tudo ficará exatamente como é hoje, não muda nada.

A Embraer S/A continuará na Bolsa de Valores?

Exatamente. O que vamos fazer é a separação dos ativos de aviação comercial que estão na Embraer S/A hoje. Vamos pegar esses ativos, separar e colocar numa nova empresa. A Embraer S/A continua uma empresa de capital aberto, igual a hoje, listada nos Estados Unidos e aqui na B3, com os negócios de aviação executiva e defesa. E terá investimento de 20% na nova empresa de aviação comercial criada com a Boeing. Essa terá capital fechado.

E como fica a questão da marca Embraer na nova empresa?

Isso ainda não está definido. Vai ser na próxima fase das negociações.

Anúncio fez ações da Embraer cair mais de 14%

O anúncio conjunto de Boeing e Embraer fizeram as ações da última cair mais de 14%. As duas empresas negociavam desde dezembro do ano passado, mas a operação ainda dependerá de aval do governo brasileiro e de órgãos de defesa da concorrência.

Os papeis da empresa brasileira fecharam esta quinta-feira (5) cotados a R$ 23,10, uma queda de 14,29%. Tombo das ações da Embraer pressionaram também a Bolsa e o Ibovespa fechou com recuo de 0,25%, a 74.553 pontos.

Pelo acordo, a Boeing pagará US$ 3,8 bilhões (R$ 14,8 bilhões) pela fatia da operação, o que avalia a divisão de jatos da Embraer em US$ 4,75 bilhões (R$ 18,5 bilhões), patamar equivalente ao valor de mercado atual de companhia.

Desde que veio a público que as duas companhias negociavam um acordo, as ações da empresa brasileira dispararam e acumularam alta de 63%. Essa valorização fez com que o prêmio (diferença entre o que seria o valor justo da companhia e o preço para fechar o acordo) fosse menor do que investidores esperavam. Estimativas de mercado oscilavam entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões.

"Quando saíram as primeiras notícias de que havia essa negociação de acordo, o mercado começou a projetar o valor da operação. O valor veio aquém do que eles achavam que seria", diz Mario de Avelar, sócio da Avantgarde Capital.

Em relatório a investidores, o analista do BTG Pactual Renato Mimica também comentou que o valor da operação veio abaixo das expectativas. Esse foi um dos fatores que pesou sobre os papéis da companhia.

No entanto, a alta acumulada pelos papéis ainda é de 40% desde que as conversas entre as empresas vieram a público. Em 20 de dezembro, as ações eram negociadas ao redor de R$ 16.

Segundo Rafael Passos, analista da Guide, a dúvida sobre o destino do dinheiro do acordo também explica a queda das ações. Segundo ele, analistas esperavam que esses pontos fossem esclarecidos na teleconferência, o que não ocorreu, acelerando a baixa no valor das ações. Parte dos recursos deve ser reinvestido na companhia e uma fatia poderá ser paga em dividendos aos acionistas, mas essa proporção não foi detalhada.

Em nota, a agência de classificação de risco Moody’s afirmou que a operação pode fortalecer o caixa da empresa. "O impacto na qualidade de crédito da Embraer dependerá da proporção dos recursos da operação utilizados em pagamentos de dividendos, desalavancagem e investimentos", diz Marcos Schmidt, analista sênior da Moody’s.

Há ainda um terceiro ponto de receio de investidores sobre a aprovação do negócio. A expectativa das empresas é que de o acordo seja submetido ao governo brasileiro ainda neste ano, o que aumentaria as chances de aprovação dado que o governo Michel Temer (MDB) estaria mais inclinado a aprová-lo. O governo brasileiro detém uma 'golden share', com o poder de vetar a operação.

Dada a incerteza eleitoral, investidores temem que o projeto seja barrado pelo próximo presidente.

Há, por fim, um movimento natural nos mercados financeiros após períodos de forte valorização de papéis de uma empresa, quando investidores vendem as ações para lucrar.

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