Bolívia e Brasil iniciam ainda neste mês a negociação sobre o aumento no preço do gás natural, disse na segunda-feira a estatal boliviana YPFB.
A data coincide com o esperado anúncio formal de um acordo já obtido com a Argentina, por meio do qual La Paz conseguiu um aumento de preços e a promessa de que Buenos Aires não revenderá o produto ao Chile, país com o qual a Bolívia tem uma histórica disputa territorial.
O presidente da YPFB, Jorge Alvarado, disse que a Bolívia não aceitou um pedido brasileiro para iniciar as discussões nesta semana no Brasil. A empresa, segundo ele, propôs que a negociação comece em 26 ou 27 de junho, no território boliviano.
O prazo para o início das negociações é 28 de junho, ou seja, 15 dias depois de a YPFB notificar formalmente à Petrobras sua decisão de rever a fórmula de preços do gás, que está atada a uma cesta internacional de combustíveis.
O Brasil compra atualmente da Bolívia quase 26 milhões de metros cúbicos diários de gás, de um máximo comprometido de 30 milhões de metros cúbicos, ao preço aproximado de US$ 3,50 por milhão de BTU (a unidade padrão).
O governo de Evo Morales quer aumentar o preço para adequá-lo aos níveis internacionais, onde houve elevação considerável nos últimos anos.
Mas, falando a jornalistas, Alvarado não quis comentar o valor pretendido com o Brasil nem o alcançado com a Argentina. Morales disse na semana passada que o acordo com a Argentina servirá de base para a negociação com o Brasil.
A Petrobras, segundo Alvarado, "tem toda a disposição em discutir o problema dos preços de venda, dando cumprimento ao convênio".
- (O atual sistema) já não é aplicável. Seguramente, começaremos discutindo a fórmula(de preços) - afirmou, sinalizando uma mudança na cesta de referência.
Ele confirmou que Morales e o argentino Néstor Kirchner anunciarão no dia 29 o acordo sobre o preço praticado até o fim do ano e sobre os preços, volumes e prazos posteriores.
- Não quero antecipar nada mais do que isso, é parte do anúncio e parte do acordo que será firmado - disse o presidente da estatal boliviana, confirmando que haverá uma cláusula proibindo a revenda ao Chile.
A Argentina se comprometeu a comprar 7,7 milhões de metros cúbicos diários de gás até o final deste ano. O volume pode triplicar com a construção, em dois ou três anos, de um gasoduto no nordeste argentino, segundo a YPFB.
- Antecipar (informações) pode significar, como de fato já estão fazendo, muitas especulações, inclusive o ministro de Relações Exteriores do Chile já manifestou sua opinião com base em comentários - acrescentou.
O chanceler chileno, Alejandro Foxley, pediu no fim-de-semana à Bolívia, durante uma entrevista, que não impeça a venda de gás natural através da Argentina. Essa cláusula já existe há dois anos, desde que em referendo a população boliviana aceitou usar o gás como arma de pressão para que o Chile devolva o acesso da Bolívia ao mar, tomado em uma guerra no final do século 19.



