Depois de passar boa parte de 2008 relegados ao segundo plano, ofuscados pelas turbulências dos mercados financeiros, os fundamentos econômicos parecem ter voltado a dar as cartas no mercado de grãos da Bolsa de Chicago (CBOT), principal base para a formação de preços em todo o mundo. Soja e milho, que encerraram o ano em baixa, iniciaram 2009 em um tom mais positivo, seguindo as notícias de quebras expressivas na safra da América do Sul. A estiagem que causou danos irreversíveis às lavouras de verão brasileiras também assombra os produtores argentinos.
Diante da possibilidade de oferta menor que o previsto, o mercado reagiu e levou as cotações da soja e do milho de volta para os patamares que existiam em setembro de 2007, época em que a bolha do subprime nos Estados Unidos começou a afetar fortemente os mercados financeiros. A oleaginosa, que pouco mais de um ano estava acima dos US$ 10 o bushel (27,2 quilos), terminou os negócios de ontem cotada a US$ 10,375 na CBOT. No caso do cereal, os US$ 4,1075 o bushel (25,4 quilos) do fechamento de ontem superam com folga os US$ 3,70 registrados no fim de 2007.
Com o cenário financeiro mais calmo, o mercado voltou-se ao clima na América do Sul para direcionar os negócios neste início de ano, explica Steve Cachia, analista da Cerealpar. Isso não quer dizer que a crise não irá causar mais turbulências no mercado de grãos. Pelo contrário, os preços internacionais ainda estão sujeitos aos solavancos da economia, mas a conjuntura atual é mais favorável. A tendência é que os preços da soja e do milho continuem firmes nas próximas semanas, mas os períodos de alta não devem ser prolongados como acontecia até a metade do ano passado, alerta a analista da AgRural, Daniele Siqueira. "Os produtores devem ficar atentos aos picos", aconselha.
Se em 2008 as cotações das principais commodities agrícolas foram do céu ao inferno, oscilando ao sabor de movimentos especulativos, neste ano indicam que vão voltar à realidade. O mercado vai permanecer atento às flutuações do petróleo e os fundos de investimento continuarão influenciando as cotações dos grãos, mas os fundamentos de oferta e demanda voltam ser a principal bússola dos preços internacionais, avalia o analista americano Vic Lespinasse, da consultoria GrainAnalyst.com.br.



