A Bolsa brasileira fechou em queda de 12,17% nesta segunda-feira (9), aos 86.067,20 pontos, e o dólar alcançou 4,7243, com alta de 1,95%, em dia de caos nos mercados financeiros globais por causa da crise do petróleo e o avanço do coronavírus. Foi a maior queda diária, em porcentual, do Ibovespa desde 10 de setembro de 1998, em meio à crise global.
A B3 teve de acionar o circuit breaker de manhã, suspendendo os negócios por pouco mais de meia hora, depois de o Ibovespa ter caído mais de 10%. O mecanismo permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento das ordens de compra e de venda. Foi a 18ª vez em que o circuit breaker foi acionado desde sua adoção em 1997. A última ocasião foi em 18 de maio de 2017, por causa da Delação da JBS.
Os negócios na B3 foram retomados às 11h08. Depois de uma melhora pontual, o índice voltou a acelerar o ritmo de queda, acompanhando o mercado internacional e fechando em 12,17%. Os preços das ações estão sendo afetados fortemente pela queda no preço do petróleo no mercado internacional – a maior em um único dia desde a Guerra do Golfo, em 1991.
Na hora em que a Bolsa entrou no circuit breaker, a Petrobras ON cedia 24,61% e Petrobras PN, 23,96%. A mineradora Vale recuava 10,78%. o fim do dia, a petroleira perdeu R$ 91,2 bilhões em valor de mercado, com queda de 29,68% nas ações ON e de 29,70% nas PN, nos maiores recuos diários desde 1990.
A queda nas bolsas de todo o mundo causou uma corrida de investidores por aplicações consideradas mais seguras. Os preços do ouro atingiram seus níveis mais altos em oito anos nesta segunda. No entanto, após ultrapassar brevemente o nível de US$ 1.700, o preço do metal amarelo para maio recuou, fechando em US$ 1.675,70 por onça troy, alta de 0,2%.
Novo recorde do dólar
O dólar começou a semana batendo mais um recorde nominal – descontando a inflação – desde o Plano Real, atingindo a casa de R$ 4,79, na manhã desta segunda. Para tentar conter a disparada do dólar, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões à vista das reservas internacionais ainda de manhã. À tarde, o BC vendeu mais US$ 465 milhões em novo leilão de dólares à vista.
Mesmo assim, a divisa americana fechou com valorização, seguindo a tendência do dólar no exterior. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 4,72, depois de ter atingido a máxima de R$ 4,79.
Dia de caos nas bolsas do mundo
O dia foi marcado por quedas em Bolsas de todo o mundo. Na Ásia, as Bolsas da China, seguindo o mau humor generalizado dos mercados financeiros, fecharam em queda. O principal índice acionário do país, o Xangai Composite, teve recuo de 3,01%.
Na Europa, as Bolsas registraram quedas expressivas. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 7,44%. Pesou nesse resultado, além da crise do petróleo, o avanço das mortes por coronavírus, em meio à dificuldade dos países europeus em conter a propagação da doença.
Em Londres, o índice FTSE 100 fechou em baixa de 7,69%, com forte impacto das quedas de mineradoras. O DAX de Frankfurt caiu 7,94%, pressionado pelas ações de bancos. Em Paris, o índice CAC 40 teve desvalorização de 8,39% e, em Milão, o FTSE MIB registrou baixa de 11,17%.
Os motivos para o pânico do mercado financeiro
O dia de caos teve como estopim a guerra nos preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Os sauditas e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) desejavam segurar a desvalorização do barril, que vinha com preços em queda por conta da desaceleração da economia mundial. Os russos, entretanto, não concordaram com o acerto – o que fez o governo saudita iniciar uma retaliação, com a desvalorização artificial no valor do óleo.
"É um acontecimento que tem baixíssima capacidade de previsão. São produtores trabalhando deliberadamente na direção de destruir a cotação de seus próprios produtos. Isso muda o contexto internacional muito mais do que a própria epidemia do coronavírus", opina Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial.
Para ele, se o impasse continuar, o preço do petróleo pode seguir despencando. "Não há limite para a oscilação de preços de commodities em momento de choque de expectativa. O típico dessa classe é de que o preço só se normalize quando houver algum tipo de condição para o novo equilíbrio", afirma Netto.
Coronavírus e guerra comercial já davam instabilidade ao mercado
O impasse entre sauditas e russos foi apenas o último ingrediente para que o caos se instalasse no mercado financeiro mundial. "O cenário é de tempestade perfeita. Tivemos uma instabilidade muito grande há alguns meses por conta da guerra comercial entre EUA e China, além da diminuição das perspectivas de crescimento por causa do coronavírus", relembra Wagner Parente, CEO da consultoria BMJ.
Ele aponta que, em momentos de tanta incerteza, o movimento natural é de fuga dos ativos considerados mais voláteis, que incluem aqueles associados a países emergentes, como o Brasil. Nesses casos, os investidores procuram ativos considerados mais seguros – como títulos do tesouro americano e a própria moeda dos EUA.
Na opinião de Parente, as próximas horas devem ser de mais estabilidade, mesmo que em um patamar baixo. Ele não descarta, porém, que a bolsa tenha que fazer outro (ou mais de um) "circuit breaker", para diminuir a volatilidade dos ativos.
O caos continua nos próximos dias?
Os analistas apontam que os próximos movimentos do mercado financeiro são imprevisíveis, já que dependem de um acordo que cesse a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia.
Adeodato Netto afirma que, por trás do conflito, está, na realidade, uma disputa entre EUA e Rússia pelo mercado de energia. "A Arábia Saudita é um grande aliado dos EUA. Vai ser importante monitorar como será o posicionamento dos principais países do mundo", diz.
"Só Deus sabe como serão os próximos dias", concorda o CEO da BMJ.
-
Governo deve ampliar interferência política na Petrobras; o que esperar do futuro da empresa
-
Lula politiza o drama gaúcho e escala Paulo Pimenta para incomodar Eduardo Leite; acompanhe o Sem Rodeios
-
Lula anuncia voucher de R$ 5,1 mil para famílias desabrigas do RS e oficializa ministério da reconstrução
-
Lewandoswki quer União no controle da Segurança Pública; modelo é adotado em Cuba e na Venezuela
Paulo Guedes: “Nós faríamos tudo de novo e com mais intensidade”
Governo deve ampliar interferência política na Petrobras; o que esperar do futuro da empresa
Não vai faltar arroz no Brasil, apesar do governo Lula criar alarme no mercado
Tributaristas defendem que governo permita doação de Imposto de Renda para socorrer o RS
Deixe sua opinião