O novo presidente do HSBC Brasil, Conrado Engel, tem planos audaciosos para o país, eleito um dos prioritários para o crescimento do grupo no mundo. Engel, que assumiu o cargo há menos de um mês, diz que a meta é elevar a participação de mercado do banco em terras brasileiras hoje de cerca de 7% para 9% dentro de três anos.
Doze anos depois de ter desembarcado no Brasil, com a compra do Bamerindus, o HSBC passou de 12º para 6º maior banco brasileiro, com ativos de R$ 104,8 bilhões. "Vemos um grande potencial de crescimento no Brasil, que é uma das economias que menos foram afetadas pela crise", diz.
Segundo Engel, a turbulência econômica mundial foi responsável por alterar a estratégia do grupo em relação aos países emergentes. Brasil, China, Índia, África do Sul e Oriente Médio acabam de ser escolhidos como os mercados que mais devem receber investimentos. Juntos, eles devem passar a responder por 60% dos resultados, contra 50% no período pré-crise. "Está claro para o HSBC que houve um deslocamento do centro de consumo dos Estados Unidos e da Europa para essas regiões. O eixo do mundo mudou". Para Engel, o pior da crise já passou, mas a recuperação será lenta sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Para o Brasil, ele prevê um crescimento tímido em 2009 cerca de 0,2% mas com recuperação mais forte em 2010, para quando projeta um avanço de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).
O HSBC quer se beneficiar do fato de ser um banco global, com presença em 86 países, para crescer no Brasil. De acordo com Engel, a ideia é explorar o fluxo de mercadorias, investimentos e negócios entre as regiões, com ênfase especial na Ásia, a origem do banco, fundado há 144 anos em Hong Kong. Das cerca de 20 mil empresas brasileiras que fazem negócios com a Ásia, 10% são clientes do banco, de acordo com o executivo.
Para ele, a capacidade de fazer negócios globais em diversos países é um dos trunfos do banco para concorrer no mercado brasileiro, onde a competição ficou mais acirrada com a fusão do Itaú com o Unibanco. "Estamos acostumados a concorrer com bancos regionais fortes nos países onde atuamos. Mas não dá para ignorar que uma fusão como essa propicia uma escala invejável", confessa.
De acordo com Engel, a estratégia é crescer organicamente no país. Mas ele ressalva que o HSBC não descarta uma compra que se "encaixe estrategicamente ao seu negócio", diz. Curiosamente, foi por meio de aquisições que o HSBC cresceu no Brasil. Além do Bamerindus, adquiriu as operações do CCF, do Lloyds Bank e da financeira Losango. Essa última que detém hoje 20% do mercado nacional e 7 milhões de clientes deve passar por um processo de diversificação de operações. No segundo semestre, a Losango começará a oferecer crédito para compra de móveis planejados, adianta o executivo.
Perfil
Nascido em Concórdia (SC) e formado em engenharia pelo ITA, Engel era o presidente da Losango quando ela foi adquirida pelo HSBC, em 2003. Com a aquisição, ele assumiu o restante da área de varejo do banco em agosto de 2004 e, em 2007, foi para Hong Kong, onde cuidava da operação de 19 países, até ser escolhido para ocupar o cargo de presidente no Brasil, em junho. "Você vai aprendendo aos poucos a saber como o povo de cada país se comporta. Mas de maneira geral, os asiáticos têm um grande respeito pelos brasileiros. E, para quebrar o gelo, é só começar a falar de futebol, que eles adoram", diz.
Com experiência no segmento de varejo, Engel quer trazer algumas experiências na área de gestão da Ásia para o Brasil. Ele diz que o momento atual é de recuperação e o crédito voltou a circular nos patamares anteriores à crise, o que deve estimular o consumo entre os brasileiros. A redução da taxa de juros e a melhora da economia também devem promover um avanço nos próximos anos do financiamento imobiliário, cuja participação na carteira dos bancos privados ainda é pequena no Brasil. "Na Ásia, os ativos imobiliários representam 70% do PIB. Aqui, essa participação varia de 5% a 6%", afirma.
O HSBC teve lucro líquido de R$ 1,35 bilhão em 2008, o maior resultado desde o início das operações no Brasil, em 1997. Desse total, 65% vieram do segmento corporativo e o restante do varejo. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 24,34%.



