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Tarifaço de Trump

Brasil pode ser “vencedor” em guerra comercial entre EUA e China, diz Wall Street Journal

(Foto: Colagem com fotos de EFE/EPA/Aaron Schwartz/POOL e Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Em meio às expectativas quanto aos anúncios de Donald Trump para este 2 de abril, data que o republicano tem chamado de "Dia da Libertação", quando vai "libertar os Estados Unidos de produtos estrangeiros" através de iniciativas tarifárias, o Brasil pode sair na vantagem. De acordo com o jornal americano Wall Street Journal, os produtores brasileiros podem ter uma vantagem na guerra comercial entre Washington e Pequim.

De acordo com o veículo, as tarifas anunciadas por Trump já têm pressionado os chineses a estocarem soja brasileira enquanto o governo de Xi Jinping retalia as taxas impostas pelo presidente americano. O mercado chinês tem sido o principal alvo da política tarifária de Trump, que quer restringir a entrada de produtos chineses nos Estados Unidos.

Enquanto os dois países enfrentam uma guerra comercial, o jornal americano avalia que pode surgir uma janela de oportunidade para produtores brasileiros. Nesse sentido, há chances para o Brasil aumentar as exportações para os EUA e também para outros países que estão sendo afetados pela política tarifária de Trump, como a própria China.

No caso dos americanos, a retaliação da China pode diminuir a importação americana de produtos chineses, demanda que pode ser suprida pelo Brasil. Fora da Ásia, por exemplo, o Brasil lidera a produção de calçados e tem se posicionado como uma alternativa para abastecer a demanda americana. O que pode ser um impulso para o mercado brasileiro que ainda luta para vender mais produtos de valor agregado.

Rico em carne bovina, minério de ferro e petróleo, o Brasil tem matérias-primas que a vasta população da China precisa, enquanto a China dispõe dos recursos necessários que o comércio brasileiro necessita. Em meio à guerra comercial com Washington, os chineses devem reduzir sua importação de commodities americanas, demanda que, de acordo com o jornal, pode ser suprida pelo Brasil.

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Embora o Brasil já tenha sido mencionado por Donald Trump como um dos países que "cobram tarifas demais" sobre a importação de produtos americanos e o mercado brasileiro já tenha sido atingido pela taxa 25% sobre o aço e alumínio importado pelos EUA, o Brasil não é visto como o principal foco do presidente republicano.

Ainda que as negociações entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca ainda estejam travadas, os Estados Unidos ainda são o maior investidor estrangeiro no Brasil. Com relações diplomáticas centenárias, o Brasil também é um parceiro estratégico militar e, desde 2019, um membro extra-OTAN (Organização do Tratado do Atlântico do Norte).

Além disso, o Wall Street Journal relata que o fato da balança comercial entre os dois países ser superavitária para os americanos, dá ao governo brasileiro uma estratégia de persuasão que pode tirar o Brasil no campo de visão das tarifas de Trump. A China, por outro lado, deve ser a nação mais afetada.

Enquanto o clima entre Pequim e Washington ganha novas tensões, o jornal americano pontua que os investidores e empresários brasileiros têm esperança de que o cenário comercial do primeiro mandato de Trump se repita. Naquela época, a demanda chinesa para outros países teve forte aumento.

A China comprou mais soja, grãos e carne bovina de países da América Latina em retaliação às medidas comerciais dos EUA. Por outro lado, os fazendeiros dos EUA perderam quase US$ 26 bilhões em exportações agrícolas em 2018 e 2019, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

O jornal ainda relembra a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez ao Japão na última semana em busca de expandir o comércio com a ilha asiática. Há anos o Brasil tem tentado destravar a entrada de carne bovina brasileira no Japão, mas sem sucesso. As negociações, contudo, podem ganhar mais força em meio à crise com Trump.

Isso porque, atualmente, o Japão importa cerca de 40% de sua carne bovina dos EUA, devido a um acordo entre os dois países fechado em 2019. No entanto, analistas disseram ao Wall Street Journal que o acordo pode estar em dúvida depois que Trump anunciou tarifas sobre importações globais de automóveis. Os carros estão entre os principais produtos que os japoneses exportam para os Estados Unidos.

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Maior aproximação entre Brasil e China é preocupante para os EUA

Desde 2009, a China se tornou a maior parceira comercial do Brasil e já investiu mais de US$ 70 bilhões no país. Além disso, empresas chinesas já estão fortemente presentes na indústria brasileira, como a de carros elétricos BYD. Empresas chinesas controlam cerca de 10% do fornecimento de eletricidade do Brasil e construíram muitos de seus portos e estradas, além dos quilômetros de ferrovias.

Mesmo antes de tomar posse, o jornal relata que os chineses já haviam estocado soja brasileira e comprado do Brasil quase toda a quantidade necessária para o primeiro trimestre deste ano. Esse movimento causou um aumento significativo no preço da soja. O prêmio pela soja nos portos brasileiros subiu 70%, atingindo seu maior valor em três anos.

Além da soja, as exportações brasileiras de frango e ovos também aumentaram, em grande parte devido à escassez de frango nos EUA, após a China impor tarifas sobre as importações de aves americanas, enquanto o Brasil escapou de surtos de gripe aviária. Isso fortaleceu a posição do Brasil como uma alternativa confiável para a China.

Por outro lado, enquanto o mercado sino-brasileiro se aprofunda, os Estados Unidos veem essa movimentação com preocupação. Ao Wall Street Journal, autoridades americanas relataram que veem uma ameaça econômica e militar na presença profunda da China na América Latina.

A preocupação é ainda maior em projetos que podem ter uso militar, como um porto de águas profundas que a China concluiu no ano passado no Peru e uma estação de rastreio por satélite na Argentina. Além disso, conforme já relatou a Gazeta do Povo, essa aproximação do Brasil com os chineses pode colocar em risco a estratégia de defesa do próprio governo brasileiro, que é um parceiro histórico dos membros da OTAN.

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