
Que o brasileiro incluiu nos últimos dez anos despesas com internet, tevê a cabo e notebook em seu orçamento era previsível, diante da infinidade de novas tecnologias disponíveis. Mas o surpreendente é que as famílias também ampliaram nesse período os gastos com saúde e educação, revelam resultados preliminares da nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)."Os gastos bons estão aumentando", afirma Antonio Evaldo Comune, coordenador do IPC da Fipe e da nova POF, fazendo referência a desembolsos com educação e saúde que, no futuro, normalmente se traduzem em melhor qualidade de vida.Cursos de pós-graduação e planos odontológicos, por exemplo, que não faziam parte das despesas listadas na POF, devem ser incluídos a partir do fim deste ano na nova pesquisa. Usada para calcular o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) das famílias que ganham até 20 salários mínimos por mês (R$ 10,2 mil) na cidade de São Paulo, a POF é uma espécie de radiografia do consumo e identifica as mudanças de hábitos.
Comune pondera que os resultados são ainda preliminares, mas já sinalizam as novas tendências nos gastos. A maior preocupação com educação e saúde, por exemplo, também está estampada nos gastos com cursos superiores, que aumentaram 25% em dez anos, cursos de idiomas, cuja despesa mais que dobrou (122,26%) no período, e desembolsos com exames médicos e lentes de contato, que subiram 329,52% e 634,62%, respectivamente.
Alavancas
As alavancas para essas mudanças foram a estabilidade de preços combinada com a maior oferta de crédito de bancos e financeiras. Juntas, elas promoveram uma elevação no padrão de vida, observa Comune. Ele explica que, quando o padrão de vida melhora na economia, geralmente as despesas com habitação diminuem e a renda é direcionada para o consumo de produtos e serviços mais sofisticados. "Quando a renda aumenta, as pessoas não vão gastar mais com água e luz, mas com qualidade de vida", observa.
Foi exatamente esse o movimento que ocorreu nos últimos dez anos. Os gastos com habitação que respondiam por 32,8% das famílias pesquisadas em 1999, hoje representam 30,6%. Esse recuo no principal grupo despesas foi provocado especialmente porque o gasto com aluguel caiu pela metade no período, de 8% para 4%.
Comune explica que, além do ajuste no valor dos aluguéis ocorrido após o Plano Real, o maior acesso à compra da casa própria contribuiu para que a despesa com aluguel perdesse participação nos gastos das famílias. Com a grande oferta de crédito à habitação e os planos do governo para facilitar a compra da casa própria, a tendência é de que esse item perca importância.
Tecnologia
Em contrapartida, com mais renda disponível no bolso, o gasto com internet aumentou 2.407% em dez anos e liderou o ranking de produtos e serviços que registraram maiores taxas de crescimento de participação no orçamento doméstico.
Desembolsos com a compra de microcomputador, por sua vez, aumentaram 970% no período e o notebook, que era um ilustre desconhecido, passou a fazer parte da lista de aquisições. "O desembolso com a compra de um notebook supera o gasto com a compra de macarrão", compara Moacir Mokem Yabiku, gerente técnico do IPC-Fipe.



