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Gastos com supermercado caíram de 39,3% da renda familiar em 2015 para 34,3% neste ano. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Gastos com supermercado caíram de 39,3% da renda familiar em 2015 para 34,3% neste ano.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Com um cenário de inflação em alta e desemprego crescente, os brasileiros ajustaram o orçamento para enfrentar a crise, principalmente a partir do segundo semestre do ano passado. O comprometimento de renda com gastos essenciais – mais difíceis de cortar, como aluguel, alimentação e transporte – caiu de 39,3% em março do ano passado para 34,3% em janeiro deste ano, segundo levantamento feito pelo aplicativo de finanças pessoais GuiaBolso tomando como base as movimentações bancárias de 23 mil pessoas que usam a ferramenta. Março é o início da série histórica da pesquisa de hábitos e consumo.

“São despesas que você não tem muita flexibilidade para cortar, e mesmo assim as pessoas apertaram os cintos e fizeram ajustes no orçamento, afetadas pela inflação em alta, contas residenciais pesando mais e desemprego aumentando”, afirma Thiago Alvarez, sócio-diretor do GuiaBolso.

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A fatia de gastos com supermercados na despesa total dos brasileiros recuou de 14,2% para 13,1%. Já moradia caiu de 15,8% para 11,6%. “As pessoas substituíram marcas e cortaram produtos supérfluos, mas mesmo assim o mercado continuou com peso grande porque a alimentação foi um dos itens que mais sofreu com a alta da inflação no ano passado”, afirma Alvarez. Já a moradia perdeu participação em parte pela renegociação de valores de aluguéis, que caíram no ano passado.

Por outro lado, transporte passou a pesar mais, devido aos reajustes dos preços de combustíveis e das passagens de ônibus, trem e metrô nas principais metrópoles do país. A participação subiu de 9% para 9,6% no período.

Ao todo, o aplicativo tem dois milhões de usuários. A pesquisa, que considera a distribuição de renda e região da população brasileira medida pela pesquisa Pnad, do IBGE, apontou redução também nos gastos não essenciais, como lazer e compras, que passaram de 23,2% para 21,7% do total.

Bolso doente

O GuiaBolso também mediu a saúde financeira do brasileiro como um todo e identificou uma piora na forma como os usuários estão lidando com seu dinheiro.

A situação financeira é avaliada conforme três variáveis: fluxo de caixa (receita menos despesas), dívidas e investimentos. Segundo os dados compilados, houve queda de 7% do indicador em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2015, de 430 para 398 pontos de um total de 700 possíveis.

Para ter uma situação financeira “saudável”, o usuário precisa computar pelo menos 490 pontos, o que equivaleria a economizar pelo menos 15% do que ganha por mês, investir mais de 10% e não recorrer ao cheque especial.

Com 398 pontos, o brasileiro está “doente”, segundo o termômetro do GuiaBolso. Apesar da queda na comparação anual, os brasileiros começaram a ajustar o orçamento para enfrentar a crise econômica já em julho do ano passado, quando o índice de saúde financeira atingiu seu menor patamar, 388 pontos.

Recuperação

De julho em diante, o indicador começou a dar sinais de recuperação. “A queda foi maior no primeiro semestre do ano passado. A partir daí, a expectativa de crise se concretizou e as pessoas começaram a apertar os cintos, afetadas pela inflação em alta, contas residenciais pesando mais e desemprego aumentando”, afirma Alvarez.

Apesar de desacelerar em fevereiro, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) segue acima de dois dígitos em 12 meses, avançando 10,36% no período. Já o número de desempregados aumentou 41,5% em um ano e alcançou 9 milhões, também segundo o IBGE.

As perspectivas para este ano são de piora das três variáveis. Para Alvarez, o indicador deve cair um pouco, a saúde financeira do brasileiro vai piorar, mas a queda não será tão acentuada como a que se viu no início do ano passado. “As dívidas continuarão aumentando, as pessoas endividadas vão continuar entrando no cheque especial. Além disso, deve continuar a tendência de resgate das aplicações financeiras para cobrir buracos no orçamento.”O executivo avalia, no entanto, que há “um limite para esse movimento”. “Como as pessoas não têm muita reserva financeira, não tem muito de onde tirar”, afirma.

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