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Comércio internacional

Brasileiro Roberto Azevêdo é reeleito como diretor-geral da OMC

Apesar do histórico de diversos processos conturbados, entidade escolheu líder com três meses de antecedência. Mas próximos anos prometem ser difíceis

Mesmo com resistência da Índia, Roberto Azevêdo  contou com apoio de países ricos e pobres. | Salvatore Dinolfi/Estadão Conteúdo
Mesmo com resistência da Índia, Roberto Azevêdo contou com apoio de países ricos e pobres. (Foto: Salvatore Dinolfi/Estadão Conteúdo)

O brasileiro Roberto Azevêdo foi escolhido para chefiar a Organização Mundial do Comércio (OMC) por mais quatro anos. O processo foi inédito. Acostumada a polêmicas, foi a primeira vez que a entidade definiu seu chefe com três meses de antecedência.

Azevêdo, eleito pela primeira vez em 2013, era o único candidato. Mas, para ser confirmado, precisaria do apoio de todos os 160 membros da entidade. O governo da Índia, declaradamente irritado com o brasileiro, vinha fazendo críticas à sua gestão. Mas optou por não vetar seu nome. Ainda assim, Nova Délhi passou a vetar os nomes de todos os presidentes de comitês negociadores da OMC, num gesto sem precedentes.

Com a escolha de Azevêdo, os governos esperam tirar esse assunto da agenda da OMC e focar nas negociações para que um pacote seja aprovado durante a reunião ministerial da organização, no final do ano em Buenos Aires. O brasileiro já indicou que apenas 20% do processo negociador está encaminhado e existe o risco de um impasse.

Referência entre os negociadores, Azevêdo ganhou o apoio de países ricos e pobres. Sua eleição se contrasta com o que vinha ocorrendo na entidade nos últimos anos, com processos eleitorais que chegaram a ter nove candidatos . Na crise no final dos anos 1990, quando governos não chegaram a um entendimento sobre quem deveria ser o diretor-geral, o mandato foi dividido em dois.

Se a eleição ocorreu sem surpresas, os próximos anos serão um teste para a sobrevivência da OMC, com Donald Trump desafiando a entidade. Sem citar uma só vez o nome de Trump, Azevêdo insiste que a OMC “é mais importante do que nunca”. “Precisamos trabalhar para defender o sistema. Nosso papel é salvaguardar esse elemento chave da governança global. Temos que garantir que o estado de direito seja mantido e que a estabilidade e segurança nas relações econômicas globais sejam continuadas”, alertou.

Segundo as regras da OMC, os países membros não podem adotar mecanismos para aplicar sanções contra parceiros, sem consultar a entidade ou pedir sua autorização. Mas, pelo novo projeto americano, essa estrutura central do mecanismo criado a partir de 1995 seria minada e caberia ao próprio governo dos EUA estabelecer punições. Segundo o jornal Financial Times, a administração chegou a pedir a especialistas que formulem uma lista de instrumentos que poderiam ser usados para aplicar essas multas, sem passar pela OMC.

A medida foi interpretada como um primeiro sinal concreto de que os americanos estariam se retirando da entidade, mesmo que não em termos legais. Ao mesmo tempo, a Casa Branca indica que vai adotar regras comerciais que, na avaliação
de especialistas, violam as normas da OMC.

A postura americana deixou diplomatas e negociadores preocupados. Durante a campanha presidencial, Trump chegou a dizer que a OMC “é um desastre”, enquanto membros de sua equipe alertaram que a entidade “não funciona”.

Governos afirmam que, desde a eleição de Trump, vêm tentando obter do governo garantias de que os americanos estão “comprometidos” com a OMC. Mas a resposta tem sido “evasiva”.

Para Roberto Azevêdo, é justamente diante das ameaças que as regras internacionais ganham nova importância. “O valor dos acordos globais é evidente”, disse. De acordo com ele, as estruturas de hoje foram criadas como “respostas diretas às lições sangrentas da história”, numa referência à Segunda Guerra Mundial.

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