Instalada desde 1999 em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, a fabricante de pneus remoldados BS Colway vai transferir metade de sua produção para a cidade de Hernandarias, próxima a Ciudad del Este, no Paraguai. A decisão da empresa é uma resposta à intenção do governo brasileiro de proibir a importação de pneus usados (carcaças), que servem de matéria-prima para os remoldados. A legislação já impede a importação de usados, mas há vários anos as 1,6 mil empresas do setor mantêm as compras por meio de liminares judiciais.
Maior fabricante brasileira do setor, a BS Colway informou que, desde o início do ano, demitiu 500 de seus 1,2 mil funcionários, fechando dois dos quatro turnos de produção. Há cerca de quatro meses, a fábrica diminuiu a produção em Piraquara de 200 mil para 100 mil pneus por mês o que, segundo Francisco Simeão, presidente da empresa, deve reduzir à metade o faturamento de R$ 240 milhões em 2006. Quando a transferência estiver concluída, essa queda será compensada pela produção mensal de 100 mil pneus no Paraguai, que serão vendidos no mercado interno do país vizinho e, principalmente, exportados para o Brasil.
A decisão da empresa, a maior empregadora de Piraquara, terá forte impacto sobre a arrecadação de impostos e tende a agravar os problemas sociais do município, que tem cerca de 100 mil habitantes. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Piraquara é de 0,744, o que deixa a cidade no 184.º lugar entre os 399 municípos paranaenses a média estadual é de 0,787. Outro problema é que, por abrigar grandes mananciais, respondendo por 70% da água consumida na região de Curitiba, Piraquara tem dificuldade em atrair grandes empresas.
"Sofremos um golpe na espinha", define o prefeito Gabriel Jorge Samaha. "Piraquara é a cidade que gera menos postos de trabalho na região de Curitiba e, com a perda de 500 empregos, são quase duas mil pessoas afetadas. Temos dois bairros [Santa Mônica e Primavera], com 10 mil pessoas, cuja economia gravita em torno da empresa, com todo o seu comércio calcado nos empregos que ela oferece. Além disso, a empresa tem grandes programas sociais na região."
Em nota, a Associação dos Municípios do Paraná (AMP) disse que "a população não pode ser prejudicada por decisões governamentais, jurídicas ou políticas de conteúdo técnico discutível. Além dos trabalhadores demitidos, a própria cidade de Piraquara será altamente prejudicada com a decisão, já que a empresa é um dos maiores contribuintes deste município".
Na primeira fase do projeto paraguaio, a BS Colway vai produzir 50 mil pneus remoldados por mês e empregar 300 pessoas. A capacidade instalada vai dobrar em seguida, e o número de funcionários passará a 550. De acordo com o vice-presidente da BS Colway, Luiz Bonacin Filho, falta apenas escolher o terreno para a nova unidade, que deve ficar pronta seis meses após o início das obras.
Bonacin diz que ainda existe a possibilidade de que a fábrica de Piraquara seja fechada e a produção, concentrada em Hernandarias. "Estamos com um pé em cada canoa. Caso o governo brasileiro proíba definitivamente a importação, logo em seguida levaremos todos os equipamentos para o Paraguai", avisa. No momento, a maioria dos 700 funcionários da BS Colway está em férias coletivas, que vão até o fim deste mês e podem ser estendidas até 15 de agosto. A empresa aproveita o recesso para fazer a manutenção dos equipamentos e reorganizar sua linha produtiva, já que metade das máquinas será levada ao Paraguai.
Bonacin diz que, além da briga jurídica travada contra o governo brasileiro e grandes fabricantes de pneus novos como Michelin, Bridgestone e Goodyear , a BS Colway tem sofrido com a concorrência de pneus novos importados da China. Desde dezembro de 2006, a própria BS Colway passou a comprar pneus chineses, que são vendidos no Brasil com preço apenas 10% superior aos remoldados brasileiros.



