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O ex-presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (11) que o Brasil está "relativamente bem posicionado" diante da guerra tarifária deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e defendeu que o país adote uma postura de neutralidade estratégica nas disputas entre Washington e Pequim. A declaração foi feita durante um evento com empresários em São Paulo.
“Temos que ser o mais neutros possível e não entrar nessa briga”, afirmou Campos Neto, destacando que o Brasil não é o alvo principal das medidas protecionistas americanas e, por isso, pode aproveitar janelas de negociação para manter espaço no mercado global.
O ex-chefe da autoridade monetária alertou, no entanto, para uma possível “invasão” de produtos chineses no mercado brasileiro, caso o acesso da China aos EUA continue restrito. Segundo ele, esse movimento poderia ter efeito desinflacionário no curto prazo, mas exigiria atenção quanto aos impactos sobre a indústria nacional. “É preciso avaliar o que isso representa para a produção local”, ponderou.
Campos Neto também mostrou ceticismo sobre os reais benefícios das tarifas impostas por Trump, sugerindo que tais medidas raramente resultam em estímulo efetivo à indústria doméstica ou em aumento duradouro da arrecadação pública. “Não acredito que tarifas, por si só, gerem reindustrialização de forma sustentável”, disse.
Em uma análise mais ampla da economia brasileira, o ex-presidente do BC defendeu um “choque positivo” na política fiscal, com foco na eficiência do gasto público. Ele voltou a criticar o crescimento descontrolado da máquina estatal e pediu a implementação de mecanismos que criem “portas de saída” para beneficiários de programas sociais. “Precisamos repensar o tamanho do Estado. A digitalização pode gerar eficiência e permitir gastar menos”, avaliou.
Campos Neto também comentou a inflação global no pós-pandemia, afirmando que ela foi mais influenciada pela expansão da demanda provocada por políticas de transferência de renda do que por fatores ligados à oferta.
Apesar de estar em período de quarentena legal após deixar o cargo, e por isso impedido de comentar diretamente a política monetária atual, Campos elogiou o "trabalho correto" de seu sucessor no BC, Gabriel Galípolo.
Por fim, ao ser questionado sobre a política econômica do presidente da Argentina, Javier Milei, Campos Neto afirmou que o ajuste promovido no país vizinho é duro e impopular, mas pode estar começando a produzir resultados concretos. “É um caminho difícil, mas parece que começa a surtir efeito”, concluiu.




