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Presidente e um dos controladores da Ouro Verde, Karlsi Kruklis, na sede da companhia, na CIC, em Curitiba. | Divulgação/
Presidente e um dos controladores da Ouro Verde, Karlsi Kruklis, na sede da companhia, na CIC, em Curitiba.| Foto: Divulgação/

A curitibana Ouro Verde, uma das maiores empresas de locação de máquinas e equipamentos e gestão e terceirização de veículos leves do país, vendeu 55% de suas ações para a gestora de ativos globais canadense Brookfield Business Partners. A operação, divulgada na última sexta-feira (31) após o envio de um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ainda precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas carrega consigo as esperanças da Ouro Verde de retomar, já a médio prazo, os níveis de investimento e crescimento (em torno de 20% ao ano) anteriores à crise.

De 2014 para cá, a aplicação de recursos em bens de capital – máquinas, equipamentos e veículos no caso da Ouro Verde – caiu praticamente pela metade, de quase R$ 800 milhões para R$ 300 milhões no ano passado. Ainda no primeiro semestre de 2018 houve um aumento 7,3% nesses investimentos frente ao mesmo período do ano passado, para R$ 228,7 milhões, mas, novamente, ainda num patamar abaixo do que a empresa, que já tem 45 anos de mercado, já realizou no passado.

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Embora a companhia já tenha considerado a ideia de um IPO, o cenário atual, instável e estagnado, com várias empresas até maiores do que a Ouro Verde adiando os planos de abrir capital na Bolsa, fez a organização olhar para o private equity com entusiasmo.

“Entendemos que encontramos o parceiro ideal [na Brookfield], porque eles têm uma visão de longo prazo, não são imediatistas [como outros fundos]. É uma a empresa que já está no país há mais de 100 anos e isso também nos deu confiança porque não é um investidor que, daqui a pouco, se assusta com o resultado da eleição ou com alguma medida governamental e resolve ir embora”, conta o presidente da Ouro Verde, Karlis Kruklis, que continuará à frente da empresa. Aliás, segundo ele, nada mudará no dia a dia da companhia em razão do controle dos canadenses.

Por que os canadenses se interessaram pela paranaense Ouro Verde

Um dado que ajuda explicar o interesse da Brookfield na Ouro Verde está na receita futura contratada, ou seja, no conjunto de contratos fechados, que variam de dois a sete anos, já garantido pela companhia e que atingiu R$ 1,347 bilhão no primeiro semestre de 2018.

“Dada a resiliência dos negócios e as tendências de crescimento favoráveis ​​dentro do setor de gestão de frotas no Brasil de forma mais ampla, estamos confiantes de que a Ouro Verde está bem posicionada para capitalizar em oportunidades atraentes de crescimento. Estamos ansiosos para fazer parcerias com a administração e contribuir com nossa expertise e presença no Brasil para fortalecer e expandir ainda mais a empresa”, disse o vice-presidente sênior da Brookfield Business Partners no Brasil, Alexandre Thiollier, em comunicado à imprensa.

É que embora a empresa apareça entre as maiores do país em locação de máquinas e equipamentos, a operação de gestão e terceirização de frotas de veículos leves ainda é relativamente nova na Ouro Verde. Ambas as operações, no entanto, têm potencial para crescer e se diversificar ainda mais.

O que o aporte muda para a Ouro Verde

Com a entrada da Brookfield, Kruklis, que tem hoje 10% da companhia, passará a ter 4,5%. Celso Antônio Frare, outro controlador que hoje possui 90% da empresa, passará a ter 40,5%. Após esses acertos, a maior parte dos R$ 660 milhões – a fatia exata não foi divulgada – irá para a empresa em si, com foco, principalmente na injeção de caixa e na melhoria do rating da Ouro Verde, para que a companhia possa fazer emissões debêntures mais proveitosas e buscar financiamentos mais baratos, diluindo custos e ampliando o número de clientes de forma competitiva.

A ideia é não só investir em segmentos em que a empresa já atua, como caminhões e máquinas agrícolas, mas diversificar a atuação para áreas como a florestal e a ferroviária. Essa diversificação, segundo Kruklis, é fundamental para fortalecer a empresa frente aos solavancos da economia brasileira.

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Uma outra forma de ver o impacto do negócio no caixa da empresa é olhar para a alavancagem (participação de terceiros no capital) da companhia. Segundo o balanço do segundo trimestre de 2018, o endividamento líquido da Ouro Verde fechou junho em R$ 1,357 bilhão (quase metade comprometidos com linhas de financiamento como Finame e leasing), 6,3% abaixo do verificado no primeiro semestre 2017, refletindo também um esforço administrativo e financeiro da companhia nesse sentido.

Ao mesmo tempo, a empresa fechou os primeiros seis meses do ano com Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) de R$ 207,4 milhões. A relação entre os dois indicadores, ou alavancagem, ficou em 1,9 vez. Com a entrada da Brookfield, segundo Kruklis, essa relação cairá para menos de uma vez, abrindo mais espaço realmente para o crescimento da companhia.

Em princípio, nenhuma expansão física da empresa, instalada na Cidade Industrial de Curitiba desde 1985, está prevista. Kruklis afirma, otimista, no entanto, que as contratações deverão voltar a ocorrer. Parte do freio nos investimentos da companhia, conta ele, também foi uma forma nos últimos anos de evitar grandes demissões.

“[Com a entrada da Brookfield] as oportunidades de contratação de mão de obra vão aparecer, não necessariamente só em Curitiba porque às vezes a gente ganha projetos grandes em outros lugares. E isso num país com 13 milhões de desempregados é sempre um boa notícia”, afirma o executivo. A empresa tem hoje cerca de 1,8 mil funcionários.

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