
A ideia de que o sucesso profissional na carreira está necessariamente ligado às posições de chefia predominou durante muito tempo no mercado de trabalho, mas começa a perder força com a chegada da carreira em Y. O conceito nada tem a ver com a tão falada Geração Y, mas com o próprio formato da letra, que indica uma bifurcação e simboliza dois caminhos distintos.
Diferente da carreira linear na qual o profissional cresce assumindo posições como coordenador, gestor, diretor e pode chegar à presidência da empresa, a carreira em Y proporciona escolher entre uma carreira executiva e uma carreira técnica, que implica alto nível de especialidade. "Neste caso, estamos falando de profissionais desenvolvedores de projetos, com perfil para pesquisa, planejamento e execução", diz Carlos Contar, diretor da Business Partners Consulting.
Trata-se de uma escolha do próprio profissional que deve estar conectado ao seu perfil e aspirações profissionais. Nem todos têm perfil, habilidades ou o desejo de assumir cargos de chefia e gerenciar pessoas. Esse fator, inclusive, é principal ponto de distinção entre uma carreira gerencial executiva e uma carreira gerencial técnica. Não ter o desejo de liderar uma equipe não significa que o profissional não quer crescer na carreira e ser reconhecido. Ele trabalha duro para isso, mas não está tão exposto aos olhos da companhia quanto um líder.
"Para a empresa, os perfis mais técnicos são essenciais para o desenvolvimento do negócio, pois são focados em inovação, processos, pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços, além do desenvolvimento de novas estratégias para as organizações. São motivados pela alta complexidade e solução de problemas", ressalta Contar.
Se antes a recusa de alguns profissionais em seguir uma carreira executiva era mal vista pelas empresas, hoje elas estão apostando no sistema de carreiras em Y como um instrumento de retenção de talentos. Dessa forma, as companhias conseguem valorizar a preferência dos profissionais cuja motivação não está em cargos de chefia, mas na busca de soluções para o negócio.
Segundo o diretor da Business, esses profissionais conseguem entregar mais quando têm autonomia para propor mudanças e desenvolver projetos. Por outro lado, também precisam de valorização, que pode ser traduzida como retorno financeiro compatível com a importância do cargo, incentivos e reconhecimento.
Conceito aplicado à toda a empresa Há cerca de dois anos, a empresa Vagas Tecnologia, especializada em soluções em recrutamento, apostou na carreira em Y como forma de desenvolver ao máximo o potencial dos seus 150 funcionários. O primeiro passo foi diluir os níveis hierárquicos e cargos de chefia. "Quando se fala em desenvolvimento de carreira há duas opções: seguir para o lado mais gerencial - que envolve necessariamente a gestão de pessoas ou optar pelo lado técnico, que tem foco na especialização em uma determinada área. O que fizemos foi abolir os gestores, mas não a gestão, que continua sendo feita naturalmente e de forma coletiva", explica Alessandra Tomelin, representante do RH da Vagas Tecnologia. Nesse período o resultado foi mais autonomia e engajamento nas equipes e na empresa de forma geral. Tanto, que 95 dos 150 funcionários participam voluntariamente do planejamento estratégico da empresa. "Queremos profissionais cada vez mais especialistas. Aqui, cada um pode se aprofundar na área de preferência, tornando-se referência o mercado e para os colegas", diz Alessandra.



