
Em uma votação surpreendente, que deixou em choque o mercado financeiro global, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (equivalente, no Brasil, à Câmara dos Deputados) rejeitou o pacote de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca para socorrer o sistema financeiro americano, ignorando os apelos do presidente George W. Bush e dos líderes dos partidos Democrata e Republicano no Congresso. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova Iorque chegou a perder quase 800 pontos, um recorde de queda para apenas um dia.
Os líderes partidários afirmam que a Câmara votará novamente o pacote, embora os democratas tenham deixado claro que os republicanos precisam providenciar mais votos. Os parlamentares deverão se reunir novamente na quinta-feira desta semana, em vez de entrar em recesso. O porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, afirmou que o presidente iria se reunir ontem à noite com membros do Congresso e da equipe econômica para "determinar os próximos passos".
Pior que 11 de Setembro
As bolsas começaram a despencar antes mesmo da votação, na qual o pacote foi rejeitado por 228 votos contra e 205 a favor. A queda de 777 pontos no índice Dow Jones superou a queda de 684 pontos no primeiro dia de pregão após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, parecia abalado e de mau humor após a votação. "Nós precisamos trabalhar o mais rápido possível", disse. "Temos que resolver isso. Nosso sistema bancário tem agüentado bem, considerando todas as pressões."
Bush e muitos dos líderes na Câmara passaram a manhã de ontem implorando aos congressistas para que aprovassem o pacote, apesar dos fortes protestos dos eleitores, que se manifestam contra a ajuda financeira. A avaliação é que não houve um número suficiente de congressistas que quiseram tomar um risco político tão grande, ainda mais a apenas cinco semanas das eleições.
Mais de dois terços dos republicanos e 40% dos democratas votaram contra o pacote. No total, 140 democratas e 65 republicanos aprovaram o pacote, mas 133 republicanos e 95 democratas votaram contra o plano de resgate.
A questão mais crucial para os líderes no Congresso é o que fazer agora. "A crise ainda está conosco", disse a líder da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, em coletiva após a derrota. "O que aconteceu hoje não pode continuar. Precisamos ir em frente e eu espero que os mercados entendam a mensagem de que iremos em frente", ela disse.
Na Casa Branca, Bush disse: "Eu estou desapontado com a votação. Nós apresentamos um pacote que era grande porque temos um problema grande".
Discurso
Os republicanos culparam um discurso que Pelosi fez antes da votação para a derrubada do pacote, no qual a líder atacou a política econômica de Bush "e essa ideologia de direita de deixar tudo sem supervisão, sem disciplina, sem regulamentação". "As palavras de Pelosi envenenaram a conferência, levando um número grande de colegas (republicanos) a votarem contra", disse o republicano John Boehner.
Os democratas rejeitaram as críticas ao discurso de Pelosi. O representante Frank Barney ironizou os ataques: "Só porque alguém machucou os sentimentos deles, eles decidiram punir todo o país?"
Impasse
O impasse quanto à aprovação do pacote se arrasta deste a última quinta-feira, quando uma reunião na Casa Branca convocada por Bush (e que contou com os candidatos à Presidência dos EUA) terminou sem um acordo, depois que os republicanos rejeitaram a proposta do Tesouro. Horas antes, democratas e republicanos haviam sinalizado um acordo para aprovação rápida do pacote no Congresso.
O pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo Departamento do Tesouro para controlar a crise financeira nos Estados Unidos seria liberado em prestações. De acordo com o divulgado até agora, uma primeira parcela de US$ 250 bilhões seria oferecida imediatamente, com possibilidade de desembolso adicional de US$ 100 bilhões se necessário, de acordo com um pedido formal do presidente. Os US$ 350 bilhões restantes ficariam a cargo do Congresso dos EUA.




