
Com um pen drive, um deficiente visual consegue usar o computador e navegar pela internet. Tudo é feito por um software que lê o conteúdo disponível na tela do monitor. A invenção é do casal paranaense Fernando Botelho e Flávia de Paula, que lançou o produto chamado de F123 há dois anos e se prepara para soltar uma atualização no mercado em setembro.
O leitor de tela não é exatamente uma novidade no campo da computação. Existem protótipos desse tipo de programa desde o fim da década de 1980. O funcionamento é bem simples: o software apresenta uma voz sintetizada que lê os textos presentes em navegadores, sites e e-mails para o usuário que utiliza apenas o teclado para indicar o que quer ler.
Esse tipo de programa está disponível no mercado por um preço alto, inacessível para maioria dos deficientes visuais. O projeto da empresa de Botelho também batizada de F123 é realizar o mesmo feito de Prometeu ao entregar fogo aos gregos e disponibilizar a tecnologia para todos.
Socializar
O primeiro passo foi baratear os custos. Um sistema operacional com leitor de tela no mercado custa em média R$ 2.500. A versão pen drive de Botelho, que utiliza softwares livres como o leitor Orca , sai por R$ 350.
O segundo foi ofertar cursos de capacitação e levar o F123 para projetos de inclusão digital para deficientes visuais. "Vendemos pen drives para vários centros de acessibilidade. A ideia é atingir um público que não pode pagar caro para ter um leitor de tela no computador", diz Botelho.
A iniciativa levou o empresário para quase todos os continentes. Na parede do escritório de sua casa há um mapa com mais 30 países marcados. "Vendemos muito para a Zambia. É nosso principal comprador até agora. Foram mais de 100 licenças vendidas", conta.
Projeto
A F123 era um projeto antigo de Botelho, cego desde os 17 anos por conta de uma doença chamada de retinose pigmentar. Em 2006, ao reparar como os preços dos computadores pessoais tinham baixado em 10 anos e o dos leitores de tela subido, ele decidiu investir na invenção.
Três anos depois, ao lado da mulher, lançou um protótipo que além do leitor de tela, trazia um ampliador para quem tem baixa visão. "Fizemos tudo muito básico porque não tínhamos experiência em programação. Eu sou dentista e o Fernando é sociólogo", afirma Flávia.
Com financiamento internacional especialmente com o apoio de uma premiação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) o casal lançou a primeira versão do F123 em 2010. Até agora já foram vendidas mais de 600 pen drives que podem ser instalados em qualquer computador (em cerca de 40 minutos).
Nova versão
No mês que vem, a empresa lança em São Paulo a segunda versão do produto que, além do sistema operacional e do navegador, contém uma atualização que permite cursos online para deficientes visuais. "No fim do ano teremos aulas de inglês e espanhol e esse é só começo", promete Botelho. Planilhas de dados, navegador de internet, editor de texto, e-mails e programas de mensagem instantânea estão inclusos no novo F123.



