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O que acontece com quem aplicou em CDBs do Banco Master

O que acontece com quem aplicou em CDBs do Banco Master
CDBs do Banco Master oferecem rendimento de até 140% do CDI, taxa muito acima da média do mercado. (Foto: Mathieu Stern/Unsplash)

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A venda do Banco Master para o BRB (Banco de Brasília), anunciada no fim de março, trouxe incertezas ao mercado e gerou apreensão entre os investidores que aplicaram em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) da instituição. Segundo analistas, embora não haja motivo para pânico, é preciso avaliar com atenção o cenário antes de tomar qualquer decisão – especialmente aquelas que, em momentos de instabilidade, podem resultar em prejuízos desnecessários.

A primeira avaliação, e talvez a mais importante, se refere ao valor investido. Se o saldo atual for menos de R$ 250 mil, o investidor não tem o que temer, já que todo CDB, emitido por qualquer banco, está assegurado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), aconteça o que acontecer à instituição financeira emissora do título.

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Essa devolução costuma ser ágil, acontece assim que o interventor ou liquidante designado pelo Banco Central transmite os dados dos credores ao fundo. Para facilitar esse processo, o investidor pode se cadastrar no aplicativo do FGC, embora isso não seja obrigatório para receber a garantia. Atualmente, cerca de 99% de investidores em CDBs estão dentro do teto de cobertura.

Quem tem mais de R$ 250 mil em CDBs do Banco Master está mais exposto a risco

Para quem possui aplicações superiores a R$ 250 mil, o contexto exige mais atenção. A parte excedente ao limite do FGC pode ser exposta a risco em caso de insolvência da instituição. Nesse caso, uma alternativa seria ver se é possível vender esse excedente no mercado secundário – ambiente onde títulos podem ser renegociados antes do vencimento com outros investidores.

No entanto, resgatar o CDB antes do vencimento pode reduzir os rendimentos, já que seu valor de mercado oscila conforme as taxas de juros. Se há papéis mais recentes oferecendo 120% do CDI, títulos antigos com rentabilidade de 110% perdem atratividade. Nessa situação, o investidor pode ser forçado a vender o CDB por um preço menor do que o valor aplicado e assumir o prejuízo da operação.

O cenário inverso também é possível. Quando os novos títulos oferecem apenas 100% do CDI, um CDB mais antigo com rendimento de 110% ganha valor de mercado. Isso permite ao investidor vender o papel por um preço superior ao que pagou e realizar lucro, mesmo com a venda antecipada. Nos dois casos, a renegociação não afeta o valor de resgate no vencimento, que permanece conforme o contratado.

Outra consequência da venda antecipada em um ambiente de incertezas, como o atual, é o aumento do número de investidores interessados em se desfazer de seus CDBs. Com a elevação da oferta, os preços dos títulos tendem a cair, seguindo a lógica da lei da oferta e da procura. Analistas advertem, contudo, que o mercado secundário de CDBs é limitado. Não há, segundo eles, um mercado amplo de negociação direta entre investidores, pois nem todos os CDBs são negociáveis no mercado secundário.

Diferentemente dos CDBs com vencimento fixo e sem liquidez imediata, os títulos com liquidez diária costumam oferecer maior facilidade de venda, pois permitem que o investidor tenha acesso ao dinheiro a qualquer momento. E, ainda, qualquer venda antecipada está sujeita à cobrança de Imposto de Renda na fonte, pela tabela regressiva, o que pode impactar diretamente a rentabilidade líquida da aplicação.

Para o professor de Finanças Rafael Schiozer, da FGV-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), especializado em estudos sobre estabilidade, gestão de riscos e crises financeiras, trata-se de uma avaliação risco-retorno. “O investidor deve decidir se quer se desfazer do risco nesse momento, com um possível prejuízo em relação ao valor atual do investimento, ou mantê-lo”, diz.

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FGC: cobertura é de R$ 250 mil por CPF em cada banco

O limite de R$ 250 mil do FGC para CDBs é individual e por CPF. Mesmo em contas conjuntas, a cobertura não é automaticamente dobrada. Um CDB é sempre emitido em nome de um único CPF. Assim, se o CDB foi adquirido e está registrado no CPF de apenas um dos titulares da conta conjunta, o valor protegido pelo FGC será de até R$ 250 mil. O fato de a conta ser conjunta não amplia esse teto.

Para alcançar uma cobertura de até R$ 500 mil em uma mesma instituição, é necessário que cada titular invista separadamente, utilizando seu respectivo CPF e adquirindo CDBs distintos. Nessa configuração, como cada CPF tem direito ao limite individual de R$ 250 mil, o total garantido pode chegar a R$ 500 mil. “O FGC olha apenas para o CPF e nada mais”, explica o economista Roberto Luis Troster.

Também é importante entender que o FGC observa o montante total investido em uma mesma instituição, mesmo que as compras dos CDBs tenham sido feitas por diferentes corretoras. Assim, o valor aplicado em CDBs do mesmo banco emissor, ainda que pulverizado, é somado – e o que exceder R$ 250 mil por CPF não será garantido.

Essa lógica exige uma estratégia preventiva: evitar aplicar exatamente R$ 250 mil em um CDB, pois os rendimentos podem fazer o saldo ultrapassar o limite de garantia antes do vencimento. O ideal é investir um valor menor, de modo que o montante final continue coberto.

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Banco Master tem quase R$ 31 bilhões em CDBs – e 40% vencem neste ano

De acordo com o balanço do Banco Master referente a 2024, divulgado no começo de abril, a instituição soma R$ 30,9 bilhões em CDBs, sendo que R$ 12,4 bilhões vencem ainda este ano. Para honrar esses compromissos, o banco espera contar com R$ 7,6 bilhões em empréstimos concedidos e R$ 6,1 bilhões em títulos e valores mobiliários que podem ser vendidos.

Segundo Schiozer, o Banco Master atualmente é solvente e funciona regularmente. “Não há motivo para pânico, a liquidação do Master é bastante improvável neste momento”, afirma. Ele diz acreditar que em breve uma alternativa deverá ser encontrada pelos agentes financeiros, antes de uma eventual piora do cenário.

Troster vai pelo mesmo caminho e busca transmitir tranquilidade ao investidor em CDB do Master. “Por enquanto, o banco está funcionando, então a melhor opção é esperar o vencimento do título”, diz. “Mesmo em caso de liquidação, o investidor pode confiar no FGC porque ele funciona bem, paga geralmente em poucos dias e com todos os rendimentos.”  

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