
A China ultrapassou a Europa pelo segundo mês consecutivo e se transformou no principal mercado da celulose brasileira no mês passado. As exportações para aquele país cresceram 468,2% em abril, para 301 mil toneladas, e 318,3% em receita, para US$ 105 milhões. A Europa ficou com US$ 92 milhões e 278 mil toneladas. De janeiro a abril, a China ainda está em segundo lugar, atrás da Europa, mas desponta como forte importadora do papel brasileiro nesse ano.
Os chineses vêm substituindo a celulose produzida no próprio país, mais cara e com menor tecnologia, pela brasileira, segundo a presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes. A China foi a única região que elevou suas compras do Brasil. No período, as exportações totais de celulose, incluindo todos os mercados, somaram US$ 1,027 bilhão, queda de 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar da reação das exportações chinesas, a desvalorização da moeda norte-americana nas últimas semanas já ameaça o plano do setor de repetir o desempenho do ano passado, quando as vendas externas somaram US$ 5,8 bilhões, 17% do superávit brasileiro. "Teremos que vender muito mais em volume, em um cenário de demanda reprimida, preços baixos e crise internacional, para podermos manter os níveis do ano passado, quando o Brasil conseguiu passar de sexto para quarto maior produtor mundial de celulose", afirma. A crise afetou a demanda dos principais clientes do setor lá fora Estados Unidos e Ásia com forte queda nos preços internacionais. Apesar da ligeira recuperação em alguns mercados, o preço da celulose continua 35% inferior ao período pré-crise, quando chegou a bater a marca de US$ 850 a tonelada. "O que víamos em 2008 não vai mais se repetir. Aquele mundo acabou", diz Elizabeth.
Em meio às incertezas em relação à demanda e aos preços, a maior parte das empresas do setor adiou seus projetos de expansão. De acordo com a Bracelpa, as fabricantes de papel e celulose tinham engatilhado US$ 10 bilhões em investimentos até 2011. Somente na área de celulose, os projetos permitiram quase dobrar a atual capacidade de produção, de 12,8 milhões de toneladas. No Paraná, onde estão 270 empresas principalmente do setor de papel que empregam 17 mil pessoas, alguns segmentos, como o de papel cartão e de embalagem, fortemente atrelados ao desempenho da atividade econômica, vêm sofrendo mais. "Adiamos um investimento de R$ 25 milhões na modernização na nossa máquina", diz Rui Gerson Brandt, diretor presidente da Ibema Companhia Brasileira de Papel e do Sindicato das Indústrias de Papel (Sinpacel).
As fabricantes do setor já levaram ao governo federal uma série de reivindicações para enfrentar o atual cenário, como a redução dos tributos para investimentos, ampliação dos prazos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e a criação de um seguro de exportação."Diante da escassez de linhas, as empresas passaram a financiar os embarques de celulose e assumiram o risco das operações. O que não é fácil para o setor que exporta US$ 500 milhões por mês."
A Bracelpa também está elaborando um estudo que será levado ao governo sobre as importações indiscriminadas da Argentina de papel da China e da Indonésia, apesar do acordo bilateral com o Brasil. As vendas de papel para o país vizinho caíram 26,8%, para 116,7 mil toneladas, no primeiro quadrimestre. "Queremos que os nossos parceiros do Mercosul deem prioridade para o mercado regional. Não posso dizer que existam indícios de prática de dumping pelos asiáticos, mas os preços são muito mais baratos do que os do Brasil e vamos investigar", afirma. No fim de abril, os dois países assinaram a renovação do acordo de complementação bilateral, que prevê uma cota de 50 mil toneladas para papéis de imprimir e escrever, que venceria em setembro de 2009.



