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Jerry, do Roberto’s Pastel: expansão sem perder o sabor de feira. | IVAN AMORIN / AGENCIA DE NOTICIAS GAZETA DO POVO/
Jerry, do Roberto’s Pastel: expansão sem perder o sabor de feira.| Foto: IVAN AMORIN / AGENCIA DE NOTICIAS GAZETA DO POVO/

As cidades do interior são cada vez mais importantes no mapa do consumo. Os moradores desses municípios devem gastar quase R$ 2 trilhões neste ano, o equivalente a 54% da despesa nacional com produtos e serviços, segundo estimativa do estudo IPC Maps. Há cinco anos, essa fatia era de 49% – na época, as capitais e suas regiões metropolitanas ainda tinham o maior peso nesse tipo de gasto.

INFOGRÁFICO: Veja a participação das cidades do interior no consumo do estado

No Paraná, onde o interior já era protagonista, sua vantagem se ampliou, passando de 59% do consumo total em 2010 para 65% em 2015, a quinta maior proporção dentre os estados brasileiros. Neste ano, prevê o IPC Maps, os paranaenses vão desembolsar pouco mais de R$ 239 bilhões. Destes, R$ 155 bilhões serão gastos pelos moradores do interior.

Conforme o estudo, foi nas cidades de Maringá, Londrina, Cascavel, Toledo e Francisco Beltrão que o potencial de consumo mais cresceu no interior do estado, em termos absolutos. Nesses cinco municípios, as despesas com produtos e serviços devem beirar os R$ 40 bilhões neste ano.

Crescimento

“Observamos há anos uma migração, de população e de empresas, rumo a cidades que ficam fora dos grandes centros metropolitanos. Isso gera empregos, renda e, portanto, consumo no interior”, diz Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing Editora, que há 20 anos acompanha a evolução do potencial de consumo brasileiro.

Segundo ele, pessoas que escolhem o interior buscam coisas como menos trânsito, menos violência e um custo de vida mais baixo. “Para as empresas, os menores custos de transação e os incentivos que muitos municípios passaram a oferecer, de isenção de impostos a doações de terrenos, também influenciaram”, acrescenta.

No Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país, o deslocamento populacional dos últimos anos foi motivado em grande parte pela rápida expansão de novas fronteiras agrícolas. No Paraná, onde a agricultura se consolidou há mais tempo, a expansão do potencial de consumo do interior ainda tem ligação com a atividade primária e o desenvolvimento da agroindústria. Mas isso é apenas parte da explicação.

“Os municípios do topo do ranking têm em comum um capital social muito forte. Ou seja, muito planejamento e instituições que conversam entre si. Há um diálogo intenso entre associação comercial, igrejas, Sebrae, universidades e poder público”, diz o mestre em Administração Juliano Mario da Silva, pesquisador de empreendedorismo e desenvolvimento regional. “Isso cria um ambiente para empreender. Se além disso a cidade dispõe de bons serviços de saúde e educação e é conhecida pela qualidade de vida, naturalmente vai atrair moradores.”

Quem conhece a cultura local tem mais chance de faturar

  • MARINGÁ

Mais dinheiro para consumo significa mais crescimento para o comércio. E, no interior, quem tem mais chances de ganhar com isso é o empreendedor local. “Ele tem mais facilidade em perceber os riscos e oportunidades desse ambiente. É muito comum que empresas de fora que tentam entrar em uma cidade do interior sem se adaptar à cultura local acabem fracassando”, diz Juliano Mario da Silva, mestre em Administração.

Em Maringá, duas empresas do ramo de alimentação são exemplos de quem soube explorar os hábitos do público local. O primeiro caso é do Roberto’s Pastel. O salgado frito começou a ser vendido pela família Koyama em 1969, em feiras da cidade. A primeira loja foi aberta em 1990.

Hoje a Roberto’s tem oito unidades em Maringá e franquias em Paiçandu, Paranavaí, Londrina e Cascavel. “Com o aumento do consumo, conseguimos investir em mais pontos de venda, em estrutura e na qualidade do produto. Nos últimos quatro anos, o crescimento foi vertiginoso”, diz o diretor de franquias, Jerry Koyama. A empresa ganhou escala, mas o salgado manteve a consistência e o sabor “de feira”, o que a ajudou a enfrentar concorrentes que vieram de fora.

Sorveteria

O segundo exemplo é o Gela Boca Sorvetes. O fundador da empresa, Luiz Antônio Candido Ramalho, trabalhou em sorveterias por 15 anos. Em Maringá, onde a temperatura beira os 30 graus com frequência, investir no ramo não seria má ideia – mas, com tantas sorveterias na cidade, a dele corria o risco de ser apenas mais uma.

Em 2000, com R$ 19 mil no bolso, Ramalho decidiu criar o próprio sorvete. Montou fábrica e ponto de venda no mesmo local. Com o tempo, abriu outras unidades e, em 2010, criou franquia. O Gela Boca tem hoje mais de 30 unidades em Maringá e 12 municípios da região. “Quando um franqueado define onde vai montar sua loja, mesmo se ele é da própria cidade, nós o aconselhamos a entender melhor a cultura local e participar das atividades da comunidade. Isso faz uma grande diferença no faturamento”, diz o diretor de mercado do Gela Boca Sorvetes, Thiago Ramalho.

Colaborou Fernando Jasper
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