
O governo pretende criar novas alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), todas abaixo do teto atual, que é de 27,5%, para dar um alívio à classe média e liberar dinheiro para o consumo. Essa medida, que faz parte do arsenal anticrise do governo, estava em discussão ontem à tarde no Ministério da Fazenda para ser submetida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reforma da tabela do IRPF era, segundo se discutia, a peça principal do minipacote de bondades que deve ser divulgado hoje.
O pacote é uma resposta à piora do cenário econômico, que vem preocupando o Palácio do Planalto, de olho também nos efeitos políticos para 2010 do desaquecimento e do eventual aumento do desemprego. O governo mantém a firme posição de conter, no que for possível, uma desaceleração mais forte da economia no próximo ano.
Além da mudança nas alíquotas do IR, estão em estudo alternativas como a redução de impostos que incidem sobre operações financeiras (IOF), produção (IPI), e até aumento do prazo do seguro desemprego.
Embora o governo mantenha a meta de avanço de 4% do PIB para 2009, nos bastidores a equipe econômica trabalha com várias possibilidades. O impacto no quarto trimestre será mais forte do que o governo esperava e a questão será saber como esse desaquecimento vai respingar em 2009. Agora a preocupação principal é com o efeito psicológico da crise sobre o consumo. Em meio a incertezas, o consumidor não compra, a indústria reduz a produção e começa a demitir, gerando um círculo vicioso que ajuda a alimentar a desaceleração.
"O governo federal sustentou sua estratégia política nos últimos anos no crescimento econômico, no aumento do emprego e na renda em um momento em que a economia mundial está aquecida. Agora, esse cenário mudou. Mas está claro que o Palácio do Planalto não vai querer abrir mão desse trunfo político em meio à disputa para a sucessão em 2010", diz o professor Cláudio Dedecca, da Universidade de Campinas (Unicamp).
Segundo uma fonte do Planalto, a abordagem do governo "é macro". Ou seja, embora haja disposição de medidas pontuais, como aliás já foram adotadas para diversos setores, o raciocínio de Lula não perdeu foco: o que garantiu a geração de mais de 8 milhões de empregos ao longo de seu governo foi o crescimento econômico. Por isso, a insistência do Planalto em assegurar os recursos para investimentos definidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nos programas sociais.
É essa a mensagem que Lula quer renovar no encontro com os empresários hoje. É claro que o Planalto está aberto às críticas e, certamente, a questão dos juros elevados será abordada pelo setor privado.



