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O Brasil dá depressão. Não (por enquanto, ao menos) a depressão econômica de que alguns falavam há dois dias, mas uma depressão quase física, uma sensação de incapacidade e de tristeza tremenda, de falta de propósitos e de inutilidade. Nossa depressão vem da política. Como foi bem colocado pelo editorial de quinta-feira (3) aqui da Gazeta, chegou-se ao ponto em que o impedimento da presidente teve sua legitimidade prejudicada pela forma como foi encaminhada – chantagem, vingança, comportamento mafioso de todos os lados. O resultado é um clima de briga de rua que não faz bem a ninguém.

Contribui muito para isso a forma de a turma que está no governo federal tenta fazer política. Aparentemente, escolheu para chamar de amigos gente mais desonesta que os seus inimigos de pior caráter. Esses círculos de amizade e influência alimentam a sucessão interminável de justificativas, em que cada agente se isenta de responder a qualquer acusação para, em vez disso, apontar os pecados do adversário.

Teremos de viver essa imaturidade política em meio ao pior período para a economia desde os anos 30, o que traz ainda mais incerteza para a gestão financeira de famílias e empresas. Hoje ninguém pode dizer, honestamente, quanto vai durar a crise e quão profunda ela pode ser. Os elementos econômicos para essa análise estão disponíveis, mas a variável política, hoje, é apenas um ponto de interrogação.

E os dados da economia são muito negativos. As informações do PIB, que saíram na terça-feira, retratam um desastre. A comparação do terceiro trimestre de 2015 com o mesmo período do ano anterior é horrível: queda de 4,5%. Caíram os investimentos, o consumo das famílias, o consumo do governo. Há o risco de a taxa Selic voltar a subir na próxima reunião do Copom, em 20 de janeiro, sufocando ainda mais o crescimento.

Nos investimentos, vale o que diziam antigamente: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Analogia triste

O que se viu nos últimos dias foi a lama incontida, soterrando obstáculos e ignorando reclamações. Os que a produziram continuam desprezando suas responsabilidades, atribuindo o problema a uma vaga conjunção de fatores e atacando aqueles que lhes cobram respostas. O rompimento da barragem de Mariana, cada vez mais, parece uma analogia do Brasil – uma analogia pouco sutil ou elegante, tão óbvia quanto difícil de aceitar.

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