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Em frente da gôndola refrigerada das carnes, em um supermercado do bairro Água Verde, uma consumidora pega uma bandeja de filé mignon e se assusta com o preço: R$ 68,98 o quilo. Sem acreditar, ela se volta à pessoa ao lado, um senhor idoso que também estava olhando os preços dos cortes.

— O senhor viu o preço disso?

— Vi, sim — responde ele. — E, se depender de mim, vai apodrecer aqui.

Fui testemunha da conversa. E, no fim de semana, ouvi outra do gênero. O sujeito ia fazer uma confraternização no sábado e foi a um supermercado comprar carne. Encontrou picanha a R$ 54 o quilo e achou exagerado. Acabou comprando de um açougue, que fez por menos da metade do preço.

Aqui nesta coluna costumo falar mais sobre investimentos e financiamentos, mas muitas vezes é nas compras do dia a dia que as nossas economias vão-se embora. Muitos leitores escrevem contando que, com alguma dificuldade, conseguem economizar coisa de R$ 200 ou R$ 300 por mês – uma vantagem que pode ir por água abaixo num simples churrasco (sobre as consequências da inflação para os investimentos, dê uma olhada na matéria abaixo).

Segundo o IBGE, o preço das carnes (a categoria inclui a bovina e a suína) subiu 18,09% em Curitiba de janeiro a outubro. É o segundo maior aumento entre as 11 regiões metropolitanas cobertas pela pesquisa de preços do IPCA (o maior foi São Paulo, que ganhou por apenas 5 centésimos). O IBGE pesquisa na cidade os preços de seis cortes de carne bovina, todos eles acumulando no ano altas de preços da ordem de dois dígitos.

Segundo o médico veterinário Fabio Peixoto Mezzadri, que acompanha os mercados de bovinos de leite e de corte no Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agri­cultura (Deral), este é o movimento de alta mais forte dos últimos dez anos. E sua causa está no ciclo pecuário, que é comum na atividade do produtor, mas que tem sido muito intenso e duradouro desta vez.

O ciclo funciona mais ou menos assim: há muita produção, o preço do boi cai e o da ração sobe; o produtor então passa a abater fêmeas e a reduzir a área destinada à pecuária dentro da sua propriedade. Algum tempo depois, o rebanho diminui e o preço sobe, o que faz com que o pecuarista volte a investir na produção – até que ela se torne grande demais, reiniciando o ciclo.

Mezzadri explica que o ciclo atual teve início lá por 2004 e foi marcado pelo surgimento de diversas alternativas econômicas mais atraentes para o ho­­mem do campo. De lá para cá, áreas originalmente ocupadas por pastagem foram transformadas em lavouras de soja e em plantações de cana (esta última, principalmente no Noroeste do Pa­raná), que tinham preço internacional mais atraente – boi não come açúcar, mas se o preço da cana sobe, o preço da carne pode sofrer influência. Mais recentemente, o cultivo de pínus e eucalipto para a indústria de papel e celulose também "roubou" espaço da pecuária. E as matrizes foram sendo abatidas, o que torna a retomada algo mais lenta.

O veredito de Mezzadri: os preços vão se manter altos por uns três anos, até que o rebanho seja recomposto. Talvez não tão altos, porque o preço da arroba do boi gordo já caiu um pouco – chegou a passar dos R$ 100, ontem estava a R$ 95 e Mezzadri crê que deva se estabilizar perto de R$ 85.

Mas é bom pensar em alternativas para o churrasquinho. O preço da linguiça, por exemplo, caiu 0,95% de janeiro a outubro, segundo o IBGE.

Recuse!

Mezzadri observa que os preços não podem subir indefinidamente porque chega um ponto em que a cadeia de consumo não aceita mais as altas. Se o filé apodrecer na gôndola, como sugeriu aquele senhor citado no início deste texto, o varejista terá de baixar seu preço, e forçar seu fornecedor a trabalhar com valores menores.

Não comprar, portanto, não é apenas uma forma de proteger o seu dinheiro. Também é uma arma ofensiva para baixar os preços.

Na bolsa

Pelas estatísticas, dezembro é o grande mês para investir na bolsa. Segundo o livro Hoje é dia de alta na bolsa?, de Carlos Carvalho Júnior (editora Saraiva, 102 páginas, R$ 32), dezembro teve a maior rentabilidade média na década: 5,24% (o dado não inclui dezembro de 2009, porque a data de corte do livro é anterior; no ano passado a bolsa valorizou-se em 2,3% no mês).

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