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Dezembro costuma ser o mês de maior movimento nas concessionárias de veículos. No ano passado, por exemplo, foram licenciados em dezembro 269.291 veículos leves (categoria que inclui os carros de passeio e caminhonetes) das marcas nacionais e 66.939 das importadas – mais que em qualquer outro mês, nas duas categorias. É bem possível, portanto, que vários dos meus atentos leitores estejam, por esses dias, pensando em trocar de carro.

Indo um pouco mais longe, imagino que a maioria dos leitores interessados em trocar de veículo esteja planejando financiar a operação. No ano passado, um em cada dois carros vendidos (53% do total) no país foi financiado. Consórcio e leasing, juntos, responderam por 10% das vendas, enquanto que 37% das vendas foram à vista.

Não há estatística sobre isso, mas presumo que boa parte dos leitores que pretendem comprar carro estão fazendo suas pesquisas sobre preços e condições. E estão achando os financiamentos muito caros!

O Fernando escreveu para a coluna perguntando a razão disso. E contou sua própria experiência: ele precisa de automóvel para trabalhar e escolheu um veículo que custava, à vista, R$ 79 mil; deu seu carro (que entrou por R$ 27 mil) mais R$ 12 mil para compor a entrada. Mesmo assim, ao fim de 30 meses pagando parcelas de R$ 1.607, o carro sairá por quase R$ 90 mil. "Acho isso muito caro", escreveu. E quem não acharia?

Pelas informações que ele passou, os juros do financiamento devem ter ficado por volta de 1,67% ao mês (que equivale a 22% ao ano) – um valor muito alto, mas, ainda assim, abaixo da média de mercado. Segundo os dados de outubro da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (o levantamento de novembro da Anefac ainda não foi divulgado), a média para o crédito veículos ficou em 1,80% ao mês (23,87% ao ano). Nos Estados Unidos, a taxa média para parcelamento de um carro novo em 24 meses (dados do Fed) é de 4,16% ao ano (0,34% ao mês). Em Portugal, a taxa máxima aceita pelo banco central local é de 10,9% ao ano (0,865% ao mês, pouco menos da metade da taxa mais barata encontrada pelo leitor).

Há razões para esse custo. A principal delas é o próprio Brasil. O dinheiro, em geral, é caro no Brasil– quer dizer, todos os empréstimos começam em valores mais altos. A taxa básica do país, a Selic, subiu na semana passada para 11,75% ao ano. Na prática, esse valor é uma espécie de "piso" para as taxas de juros. Isso porque qualquer instituição pode obter 11,75% ao ano simplesmente comprando títulos públicos, sem fazer nenhum esforço e correndo um risco baixíssimo. Em consequência, os bancos pedem valores bem mais altos para emprestar para gente como eu e você.

E eles levam em conta outros fatores, como os custos que eles terão com a operação – há uma estrutura enorme que as instituições financeiras precisam manter para trabalhar com crédito ao consumidor – e o risco de levar um calote. Dados de julho deste ano mostram uma inadimplência de 4,8% nos contratos de financiamento de carros. Isso significa que 4,8% do total da carteira estava com atrasos de mais de 90 dias. Já foi pior, e, por isso, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) comemorou o dado como uma "volta à normalidade".

O Fernando também pergunta como fazer para tentar amenizar o custo do financiamento. Quanto a isso, não tem nenhuma fórmula mágica. A ideia é sempre tentar pagar à vista. Se, em vez de financiar, o leitor tivesse poupado os mesmos R$ 1.607 e os depositasse em um fundo que lhe rendesse 1% líquido ao mês (na modalidade renda fixa, é possível encontrar algo nessa faixa, tendo bom relacionamento com o banco), ele acumularia R$ 40 mil em 22 meses. É o mesmo valor que ele financiou com o banco.

Se não der, tente financiar o mínimo possível. E, sempre que puder, procure a instituição financeira para fazer abatimentos superiores à parcela mensal. O banco não pode cobrar tarifas para essa amortização, e você paga menos juros por isso.

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