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Veja: sete em cada dez famílias brasileiras gastam mais do que ganham |
Veja: sete em cada dez famílias brasileiras gastam mais do que ganham| Foto:

Estimado leitor, quando você lê o título "Finanças Pessoais" no alto desta página, o que você espera? Dicas para ganhar dinheiro ou para economizar? Orientações para aplicar melhor o dinheiro que sobra ou formas de tapar os buracos que surgiram nas suas contas?Como editor e colunista, muitas vezes tenho me feito essa pergunta, e venho tentando me equilibrar entre essas duas vertentes. Mas, em dois anos e meio de coluna, uma ideia esteve presente aqui com inquietante frequência: para manter as finanças em ordem e tornar-se um investidor, o primeiro e mais importante passo é gastar menos do que se ganha. Digo que é inquietante porque é algo tão básico que não precisaria ser reprisado dessa forma. Se você pensar bem, verá que as pessoas usam essa lógica em diversas áreas da sua vida. Quando a dona de casa percebe que tem pouca farinha, deixa para fazer bolo noutro dia. Se a Sanepar avisa que vai faltar água, a gente enche a caixa e tenta consumir menos até que o abastecimento seja normalizado. Não é óbvio assim?

Temo que não. Se as pessoas seguissem essa receita tão simples, não haveria tanta gente pendurada no cheque especial e devendo os tubos para financeiras e sabe-se lá mais quem. Assim, apesar de óbvia, a orientação parece não estar entrando na cabeça das pessoas. Uma prova disso apareceu na semana passada, nas páginas de um relatório do IBGE sobre a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) – um levantamento periódico feito pelo instituto, que serve de base para outros trabalhos, incluindo estudos sobre as condições de vida do brasileiro e para definir os pesos de cada produto nos índices de inflação.

Os dados da POF mostraram que, em média, as famílias que ganham até R$ 2.490 por mês gastam mais do que ganham. Segundo o IBGE, essa é a realidade de 39,5 milhões de famílias, que equivalem a 68,4% do universo pesquisado. E isso, acredite, é um avanço: a pesquisa anterior, de 2002/2003, colocava 85% das famílias nessa situação.

Da margem à fraude

Há algum tempo, precisei tirar uma segunda via do CPF e descobri que alguém tinha tirado outro documento em meu nome. O CPF fajuto foi feito, provavelmente, com base em uma carteira de identidade que eu tinha perdido vários anos antes, e havia sido emitido em Santa Catarina. Meu nome, me disseram, provavelmente tinha sido usado por alguém que estava com o nome sujo na praça para fazer alguma compra parcelada ou até para obter empréstimos. Não tivessem os documentos números diferentes e algumas outras divergências, eu teria tido graves problemas.

Lembrei disso quando revisava os dados da POF. Por incrível que pareça, há um nexo entre os dois eventos. Quando o endividamento se torna uma doença, como parece ser o caso, as consequências tendem a ser imprevisíveis. Nos Estados Unidos de 2008, ele explodiu na forma de uma crise econômica profunda, que atingiu todo o mundo. Mas lá os juros eram baratinhos. No Brasil, o crédito para a pessoa física tem juros tão altos que tornam a situação insustentável. A pessoa fica sem condições de obter dinheiro para pagar contas, que não param de crescer, e entram nos cadastros de maus pagadores. Alguns poucos, mal intencionados, acabam recorrendo à fraude para continuar comprando – usando CPFs falsos, por exemplo. O crime sempre se aproveita dessas fragilidades.

Candidato rico, candidato pobre

A ausência provocada pelas férias me dá justificativas para retomar alguns assuntos que podem ser considerados velhos pelo leitor mais voraz. Refiro-me agora a uma matéria aqui da Gazeta, de 27 de julho, sobre o patrimônio dos candidatos e dos atuais detentores de mandato. Lúcido, o professor da UFPR Mauro Halfeld (uma autoridade quando se fala em investimentos e finanças pessoais) comentou na reportagem que não vota em candidato que tem patrimônio baixo. "Entendo que aquele que já teve cargo público e tem patrimônio baixo é muito incompetente, administra mal o recurso dele", justificou, em entrevista à repórter Bruna Maestri Walter. Seus argumentos são bons: um deputado federal, por exemplo, tem salário de R$ 16,5 mil, verba de R$ 29,5 mil para despesas como passagens aéreas e refeições e um auxílio-moradia de R$ 3 mil. Dinheiro suficiente para fazer um pé de meia, sem meter a mão no jarro.

Assino embaixo. Se o sujeito tem uma história na vida pública – e os principais candidatos na política paranaense se enquadram nessa categoria – e não tem um bom patrimônio, ou é um péssimo administrador ou está fraudando informações para parecer algo que não é. Mau sinal, em ambos os casos.

De volta

As férias foram ótimas, mas é bom estar de volta. Eu quero também restabelecer a conversa com os leitores. É só escrever para financaspessoais@gazetadopovo.com.br, contado sua experiência ou trazendo seu comentário, dúvida ou crítica.

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