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Imagino que dez entre dez leitores diriam que quem casa quer casa, não é mesmo? Essa lógica, que está no imaginário de todos, com o importante auxílio de uma frase de impacto, faz com que uma das primeiras preocupações de noivos em todo o país seja a compra (financiada) de uma casa. Nesta terça-feira, gostaria de convidar os leitores para raciocinar um pouco sobre essa tradição.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que quem casa precisa, realmente, de um lugar para si. Uma nova família demanda um novo teto – viver junto com sogros e sogras pode até ajudar a economizar, mas tende a ser uma fonte desnecessária de conflitos. A questão é: essa casa precisa mesmo ser própria?

Arriscando-me a ouvir críticas, eu diria que não, necessariamente.

Segundo as Estatísticas do Registro Civil, um levantamento anual do IBGE sobre nascimentos , casamentos, separações e óbitos, 34% das mulheres e 27,5% dos homens se casam antes de completar 25 anos de idade. Nessa fase da vida, convenhamos, muita coisa pode mudar. Muitos desses jovens são recém-formados, alguns estão em seu primeiro emprego. Ainda não sabem para onde a vida os levará.

Em uma época em que o estudo continuado e as experiências de trabalho são muito valorizados, um casal jovem não deveria descartar possibilidades como uma temporada de estudos fora do país ou um emprego em outra cidade. Ao contrário: frequentemente, realizações como essas ajudam a consolidar e fortalecer o vínculo do casal. Além de serem úteis para a empregabilidade, reforçam sua identidade como família. Por estarem sozinhos, sem papai e mamãe por perto, marido e mulher dependerão mais um do outro; com isso, tendem a construir uma relação de cumplicidade e interdependência mais sólida.

O que a casa tem a ver com isso? Poucas pessoas terão, aos 25 anos, recursos suficientes para comprar casa à vista. O mais comum é o financiamento imobiliário, que irá exigir um bom dinheiro de entrada e amarrará o casal a uma parcela mensal por algo como 30 anos. De certa forma, esse modelo de aquisição acaba transformando o casamento em uma relação a três, em que dois ganham dinheiro e um terceiro (o banco), só consome. O financiamento, assim, pode converter-se em um obstáculo para mudanças.

Do ponto de vista financeiro, muitos especialistas em finanças pessoais observam que o que casais jovens precisam é de liquidez – ou seja, manter seus recursos em aplicações que permitam resgatar rapidamente e dispor dos recursos para outras finalidades. Normalmente são as aplicações financeiras que dão essa possibilidade. Imóveis estão em outra categoria, são investimentos sólidos, que podem se valorizar por décadas, mas demoram para ser convertidos em dinheiro vivo. A venda de uma casa ou apartamento pode demorar meses. Por isso, morar em imóvel alugado no início da vida em comum pode ser bastante benéfico, porque dá ao casal a flexibilidade que esse estágio exige.

É claro que isso não significa que uma família terá de pagar aluguel por toda a vida. O ideal é ter um plano feito em conjunto pelo casal, estabelecendo metas. Mas nem todo mundo é tão organizado, e essa é a época em que um pouco de improviso é realmente saudável.

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