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Franco Iacomini - iacomini@gazetadopovo.com.br

À medida que as eleições se aproximam, uma expressão que não se ouvia há muito tempo começou a aparecer, ainda à meia-voz: risco político.

Traduzindo, é a possibilidade de medidas políticas resultarem em algum tipo de influência sobre os mercados. Isso acontece de várias formas. É possível, por exemplo, que em um ano eleitoral o governo prossiga por tempo excessivo com as ações de estímulo à economia, que vieram para reduzir o efeito da crise. O resultado disso seria um aumento da inflação no ano que vem.

Outra possibilidade seria o uso de empresas estatais em negociações políticas. Veja o que diz relatório do banco Geração Futuro sobre a Petrobras, listando algumas das ameaças que podem reduzir a rentabilidade da companhia: " O governo brasileiro possui 55,7% das ações ordinárias e 32,2% do capital total da companhia. Desta forma, os rumos da empresa podem se tornar instáveis à medida que os cargos dos principais executivos podem ser trocados e desta forma alterar suas orientações estratégicas. Na mesma linha, tem-se notado a possibilidade de aumentar a influência política direta nas decisões estratégicas, o que pode modificar a rentabilidade e o cenário esperado conforme divulgado pela companhia".

Vai traçar a sua estratégia de investimentos? Não deixe de incluir essa variável nos seus cenários.

Depois da vírgula

Dia desses parei para abastecer o carro e meu filho de sete anos – o matemático da casa – ficou ensimesmado, olhando para a bomba de combustível.

— Papi — perguntou —, por que o preço termina com ,459? São 459 centavos?

Pergunta difícil. Não são 459 centavos, mas como explicar de onde veio essa maluquice de colocar centésimos de real no preço dos combustíveis? E, pior: por que isso sobrevive nos dias de hoje?

São lembranças de antigamente, do tempo em que os preços eram controlados e as margens, tão pequenas que a terceira casa depois da vírgula era necessária para garantir a margem do revendedor. Incompatíveis com a economia atual, com a economia moderna do Brasil e com a transparência que se espera das relações de consumo.

Respondi, então, com sinceridade. Disse a ele que já houve boas razões para que os preços fossem grafados dessa forma, mas elas já não valem mais.

Seria demais pedir que, pelo menos, os postos colocassem um zero na última casa?

Contra o subsídio

O comerciante Domingos escreve para comentar seu relacionamento com as administradoras de cartão de crédito, que foram assunto de algumas notas nesta coluna. Critica os valores cobrados pelas operadoras e cita números. Conta ter recebido recentemente uma proposta de uma operadora, que pede R$ 300 por loja para implantação dos cartões, mais R$ 60 por mês de mensalidade e 6% sobre volume. E o reembolso dos valores pagos pelo consumidor, só 20 dias depois da venda.

Caro, muito caro. E é óbvio que loja nenhuma guarda esse prejuízo para si – a regra é compartilhá-lo com o cliente. "A legislação vigente transforma lojistas e consumidores em reféns dos cartões, numa roda viva de altos custos que são pagos pelo consumidor", observa. A legislação a que ele se refere é a do "não-sobrepreço" – ou seja, a proibição de preços diferentes conforme o meio de pagamento usado pelo cliente.

Domingos defende o fim dessa norma. Assim, as lojas poderiam ter preços diferentes, por exemplo, para quem pagasse em dinheiro e em cartão – dá para imaginar até uma distinção por cartão, conforme as tarifas cobradas por cada bandeira. Ele argumenta que seria uma forma de estimular a transparência e a concorrência entre os cartões. Outra sugestão do leitor é que as máquinas sejam de uso comum (a mesma para Visa, Master, American, Aura, Hipercard, Senff e quem mais aparecer).

Ambas as sugestões são pertinentes. Em outros países, órgãos de defesa da concorrência já investigaram o mercado de cartões e tomaram medidas nesse sentido. Na Austrália e no Reino Unido, por exemplo, o sobrepreço foi permitido. Na Holanda, a forma de os cartões credenciarem os comerciantes foi alterada. No Chile, as lojas foram liberadas para comprar maquininhas de fornecedores independentes.

Por aqui, há chances de a regra que proíbe o sobrepreço acabar caindo. Estudo do Banco Central mostrou que 65% dos comerciantes dariam desconto para pagamento em dinheiro caso isso fosse permitido pela lei e pelo contrato assinado com a administradora. "Além do que", diz o documento, "permitir a diferenciação reduz a possibilidade de subsídio cruzado dos consumidores que não utilizam cartão (majoritariamente população de menor renda) para os consumidores que utilizam (majoritariamente população de maior renda)".

Como usuário de cartão, não gosto da ideia de pagar mais. Mas é preciso concordar que a regra vigente força o tal subsídio cruzado. E o valor desse subsídio é relevante, como mostra o relato do leitor Domingos – coisa de 6% sobre cada compra.

Está na hora de mexer.

Tradução simultânea

Do financês para o português. Se você tem alguma pergunta sobre finanças pessoais, mande para a coluna. O email está ali em cima.

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