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Desde o início do ano passado, em média cerca de 4,5 mil pessoas se cadastraram a cada mês para investir em títulos públicos federais via Tesouro Direto. São 150 novos investidores por dia, ou seis por hora – um cada 10 minutos. É um belo desempenho, que levou o total de investidores a quase 424 mil (os dados são do fim de setembro; então é bem provável que hoje esse número esteja coladinho nos 430 mil). Uma pena, no entanto, que o jeitão de funcionar do Tesouro Direto ainda seja tão pouco conhecido, até mesmo dos seus investidores.

Digo isso por causa do e-mail que o Antônio me mandou, há alguns dias. Ele fez em outubro de 2012 sua primeira aplicação em títulos públicos. Comprou 15 NTN-B Principal, um título pós-fixado, cujo rendimento está atrelado ao IPCA, com vencimento em agosto de 2024. Pagou por cada um deles R$ 1.385,32.

Dois anos depois, em 16 de outubro, ele vendeu um título, "para saber quanto estariam rendendo atualmente" as NTN-B Principal, conforme explica. Obteve R$ 1.419,43 líquidos (já descontados o Imposto de Renda e as despesas de negociação – uma valorização de menos de 2,5% em um período de 24 meses.

Antônio assustou-se. "Entendo que a rentabilidade do papel só será integral no seu vencimento, mas julgava que as vendas antecipadas pelo menos teriam rentabilidade superior à inflação", comentou. "Se o que aconteceu com a minha aplicação for um padrão, investimentos no Tesouro Direto são um péssimo negócio para quem precisar resgatar antes do vencimento."

Dúvidas como essas têm sido muito frequentes. Talvez as corretoras estejam falhando em explicar a dinâmica do Tesouro Direto aos seus clientes. Talvez a própria Secretaria do Tesouro Nacional devesse ser mais clara ao explicar isso em seu site (sempre fui a favor de uma linguagem menos "enrolation" na hora de explicar as coisas para os investidores; nosso país está cheio de gente que nunca teve condições de investir e, agora que pode, acaba caindo em enrascadas porque não entende o idioma falado pelos financistas). O fato é que, por não entender, tem gente por aí perdendo dinheiro.

Preço de mercado

A maioria das pessoas pensa que, ao ficar com a aplicação por prazo inferior ao do vencimento, receberá uma rentabilidade de alguma forma proporcional. Não é o que acontece no Tesouro Direto. Quando você deixa antecipadamente uma aplicação, o que você faz é revender um título do governo. E vai receber por ele o preço de mercado do momento.

É mais ou menos como quando você vende uma casa: você pode esperar uma determinada valorização pelo seu investimento no imóvel, mas há diversas variáveis a influenciar – a disponibilidade de imóveis semelhantes na região, a renda média da população, a taxa de juros para os financiamentos, as perspectivas para o futuro da economia, etc. Tudo isso fará com que a demanda por um imóvel como o seu seja maior ou menor, resultando em um preço maior ou menor.

No momento atual, como a inflação está bem alta, há uma demanda maior por papéis pré-fixados, aqueles em que você sabe antecipadamente qual será a sua rentabilidade. Esses são a LTN e a NTN-F. Isso porque esses títulos já embutem uma expectativa de inflação compatível com o momento atual. Como acredita-se que a taxa vai cair no futuro, as pessoas querem "travar" esse ganho para os anos futuros. Assim, a demanda por papéis pós-fixados, como a NTN-B Principal do Antônio, cai. E cai também o preço.

Além disso, Antônio escolheu um mau momento para fazer sua operação. Como a Gazeta mostrou na semana passada, em reportagem de Camille Bropp Cardoso, os títulos federais tiveram seu desempenho severamente prejudicado pelo corre-corre eleitoral. O que é de se entender: como não se conhecia ainda o próximo presidente, também não se sabia como ele (no caso, ela) conduziria a economia. Assim, os títulos de prazo mais longo (como os de Antônio, que vencem daqui a dez anos) deixavam de atrair investidores.

É por razões como essas que o Tesouro Direto deve ser considerado sempre como investimento de longo prazo, e de prazo definido. A revenda antecipada de títulos é um recurso bem vindo – afinal, todos estamos sujeitos a emergências –, mas não dá para comprar um título já pensando em sair antecipadamente. Há risco nisso, como Antônio percebeu de forma tão desagradável.

Incomparável

Para o curto e curtíssimo prazo, ainda creio que não inventaram nada como a poupança. Não é perfeita, porque volta e meia perde para a inflação (que, nos 24 meses da aplicação citada pelo leitor, somou 13%). Mas é isenta de Imposto de Renda e de tarifas. Se Antônio tivesse deixado seus recursos lá por esses dois anos, teria uma rentabilidade líquida de 13,2%.

Se deixar o dinheiro no Tesouro Direto até o vencimento do título, você terá a rentabilidade prometida. E ela, a não ser que alguma coisa muito maluca aconteça na nossa economia, será sempre bem melhor que a caderneta de poupança.

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