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Pezão; Dimas (Jô), Luciano, Uesles e Bruno Silva; Thiago Lima, Ananias, Edcarlos e Maxwell (Niquinho); Marclei e Nadson. Esta é a escalação do time da Jacuipense, que venceu o Paraná Clube na semana passada, pela Copa do Brasil.

Não escrevo aqui para zombar da eliminação da Gralha pelo time de Riachão do Jacuípe. O que chama a atenção na lista é a presença de nomes, digamos, exóticos -- uma constante nesse esporte. Para ficar só no Trio de Ferro da capital, o próprio Paraná Clube já revelou ao mundo Maicosuel, enquanto Coritiba e Atlético têm hoje em seus grupos atletas admiráveis, mas de nomes criativos, como Keirrison e Crysan.

De onde vêm esses nomes? Por que se encontra no futebol uma quantidade tão grande de denominações estranhas? E o que essa coleção de substantivos próprios está fazendo nas páginas de Economia?

Tenha paciência, leitor, chegaremos lá.

Primeiro, a origem dos nomes. Esse é um fenômeno mais ou menos recente e não é só brasileiro. Nos Estados Unidos, alguns estudos já foram feitos sobre a adoção de nomes pouco usuais, especialmente pela população negra de baixa renda, algo que se tornou mais forte a partir dos anos 1970. Lá, a diferenciação étnica é intensa a ponto de não haver nenhuma coincidência entre os 20 nomes mais populares entre brancos e negros, tanto na lista de meninos quanto na das meninas.

No Brasil, nunca ouvi falar de nenhum estudo sério sobre isso (se o leitor conhece, me mande um alô!). Mas, aparentemente, o recorte é menos étnico e mais social. Parece ser mais fácil encontrar nomes inventados, frequentemente com consoantes dobradas e com a presença de “k” e “y”, em famílias de renda e escolaridade mais baixa.

Pais e mães sempre querem o melhor para seus filhos. Essa expectativa com certeza está presente na hora de escolher o nome do bebê. Inclusive pelo ponto de vista econômico: quem não quer que sua criança se dê bem na vida? Por isso, muitos nomes são escolhidos porque têm significado forte, outros pensando em parentes ou amigos que os pais admiram. Outros ainda parecem espelhar uma busca para se diferenciar em um mundo populoso e competitivo. Talvez os nomes criativos venham desse desejo de diferenciação.

No seu livro, já clássico, Freakonomics, o economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner observam que alguns nomes trazem em si uma espécie de “carga” negativa, o que funciona como uma forma de diferenciação, mas com efeitos não tão interessantes. Eles citam o exemplo de uma jovem chamada Temptress (“tentadora”), uma jovem de 15 anos detida por comportamento inadequado. Sua mãe simplesmente não sabia o que o nome significava e não entendeu boa parte das perguntas que o juiz lhe fez na audiência. “Não é preciso ser gênio para presumir que Temptress não teve os pais ideais”, concluem. “Não apenas a mãe se dispôs a chamá-la assim, como era ignorante o bastante para não saber o significado da palavra.” O nome, portanto, é um sintoma de uma situação social difícil.

No Brasil, os cartórios podem se recusar a registrar um nome que possa causar constrangimento à criança. Por isso será difícil ter uma “Tentadora” nascida em Curitiba. Mas a carga social dos nomes persiste. Escrevo isso com cuidado, e peço ao leitor perdão se parecer preconceituoso. É que a observação mostra que nomes como os dos jogadores citados no início são mais comuns entre famílias pobres em bairros periféricos, de baixa renda e pouca escolaridade. Esses tendem a enxergar o esporte como meio privilegiado de ascensão social -- muito mais do que uma carreira tradicional como, por exemplo, a engenharia. Um ambiente onde o nome não vai prejudicá-los.

Já o futebol brasileiro sempre gostou de apelidos. Enquanto que os times europeus e mesmo nossos vizinhos latino-americanos apresentam seus craques pelo sobrenome, nós os chamamos com diminutivos e alcunhas, e faz tempo. Não acredita? Veja o time-base da Udinese em 1984: Brini, Galparoli, Cattaneo, Gerolin, Edinho, De Agostini, Montesano, Miano, Carnevale, Zico, Criscimanni. Não precisa ser adivinho para saber quem são os brasileiros no elenco… Talvez por isso o esporte tenha recebido com tranquilidade os nomes novos.

O que fazer então? Censurar, como se faz na Islândia, onde os pais precisam escolher nomes de uma listra pré-aprovada? Isso dificilmente resolveria, porque uma formação ruim não pode ser escondida na entrevista de emprego. Investir de forma a dar educação de qualidade e igualdade de oportunidades a todos parece bem melhor.

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