A economia brasileira ainda é uma das menos afetadas pela estrondosa crise no sistema financeiro americano, mas na última semana os bancos por aqui resolveram cruzar os braços, à espera dos acontecimentos lá fora. Com isso, o crédito minguou sob alegação que as fontes de financiamento haviam secado no exterior, tornando mais cara a captação de recursos internamente.
Essa desaceleração do crédito era tudo que as autoridades monetárias brasileiras gostariam que ocorresse há poucos meses, quando os índices de inflação se mostravam ameaçadores e o remédio seria esfriar a demanda por bens e serviço a a forma clássica para tal é o encarecimento dos financiamentos, com elevação das taxas de juros e redução dos prazos de pagamento.
Mas em um contexto de crise aguda no centro financeiro do mundo a paralisação do crédito certamente seria perigosa, pois o Brasil não tem necessidade de pisar fundo no freio mas sim tirar o pé do acelerador.
Sem descuidar do objetivo de trazer a inflação para o ponto central (4,5%) da meta estabelecida pelo governo, as autoridades monetárias terão agora que ficar muito atentas ao comportamento do crédito.
O próprio mercado deve moderar suas operações de crédito daqui para frente porque as instituições financeiras, por precaução, vão diminuir sua alavancagem (total de vezes, em relação a seu capital e reservas, a que estão autorizadas a emprestar). O setor financeiro trabalha de fato é com recursos de terceiros e se os poupadores se retraírem por algum motivo mesmo puramente psicológico as instituições podem ficar penduradas no pincel, sem escada, caso tenham emprestado muito.
Esse movimento, que não deve se alterar enquanto perdurar a crise financeira lá fora, por si só ajudará a diminuir as pressões sobre os preços internos e a evitar que o desequilíbrio nas contas externas (mercadorias e serviços) se acentue. Ou seja, a economia brasileira poderá continuar crescendo a um ritmo de 4% ao ano, sem que isso nos cause uma grande dor de cabeça.
América Latina
Estudo que o economista Cláudio Frischtak preparou para o Fórum Nacional Especial, organizado pelo ex-ministro Reis Velloso semanas atrás, analisa o cenário da América do Sul e tem uma observação interessante: este ano, impulsionada pelos preços elevados do petróleo, a Venezuela passa a Argentina como segunda maior economia do continente. Ainda assim, a economia brasileira continuará correspondendo a cinco vezes o tamanho do Produto Interno Bruto de cada um desses dois países vizinhos.
Qualidade
Programas de qualidade total se difundiram por empresas do Rio Grande do Sul e chegaram também à administração estadual (que adotou um programa permanente). Exemplo prático do que isso significa para os cofres públicos: torneiras das escolas estaduais foram substituídas por válvulas que fecham automaticamente após alguns segundos, eliminando o desperdício; a economia feita com a conta de água foi da ordem de R$ 4 milhões. O gasto com energia também caiu.
Construção civil
A Gafisa, empresa tradicional do mercado imobiliário carioca que há alguns anos mudou a sede para São Paulo e de lá passou a comandar seus negócios em todo o Brasil voltou a ter um braço importante no Rio, encarregado de cuidar de projetos também em Vitória e Belo Horizonte.
O grupo passou a ter unidades de negócios independentes; eventualmente a área de construção pode abrir mão de edificar um lançamento proposto pelo pessoal da incorporação, e vice-versa. Essa estrutura decorre de a empresa ter hoje seu capital pulverizado no mercado (o maior acionista é um fundo de investimento americano que detém uma participação de 19%; esse fundo é parceiro da GP Investimentos antigo controlador da Gafisa no negócio de shopping centers.
Quando ainda se chamava Gomes de Almeida, Fernandes, a Gafisa foi uma das promotoras da expansão da Barra da Tijuca na direção do Recreio dos Bandeirantes, ao lançar os condomínios Nova Ipanema e Novo Leblon. Agora o grupo, por meio de uma associação com a Odebrecht chamada Bairro Novo e, mais recentemente com a compra da Tenda, está entrando no mercado das classes C e até D, diversificando suas operações, antes concentradas nas classes A e B.
Seguros
O Superintendente de Seguros Privados, Armando Vergílio, tem procurado tranqüilizar o mercado, negando que haja qualquer possibilidade de acontecer no Brasil algo parecido como o que ocorreu nos Estados Unidos onde seguradoras locais entraram em dificuldades porque tinham parte de suas reservas técnicas aplicadas em títulos de crédito hipotecário de alto risco.
Aqui a aplicação das reservas é muito rígida e controlada pela Susep, e não envolve títulos de crédito que possam deixar de ser honrados se houver atrasado no pagamento dos financiamentos que motivaram a emissão desses papéis.
Alertar o mercado sobre isso é necessário porque no momento as pessoas ficam ressabiadas depois de tomar conhecimento que tradicionais instituições financeiras americanas se tornaram capengas.



