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Se os movimentos que alçaram o Brasil ao posto de 6.ª economia mundial foram ocasionados pela crise na União Europeia ou se foi mérito do próprio país, isso pouco importa. Até porque o novo cenário é resultado de um conjunto de fatores que, além dos problemas na Europa, acumula ainda o revés econômico enfrentado pelos Estados Unidos. O fato que deve ser considerado, então, é o desempenho de economias emergentes, dos chamados países em desenvolvimento, que neste caso destaca não só as conquistas, mas também – e principalmente – o potencial brasileiro. Afinal, não apenas superamos o Reino Unido como, no ranking das dez economias mais poderosas do mundo, o Brasil está à frente de Itália, Rússia e Índia. Na dianteira, Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. O que significa, sem modéstia, que é possível avançar ainda mais e buscar um lugar não entre as dez, mas entre as cinco maiores potências econômicas do planeta.

Como foi que o Brasil conseguiu essa proeza? Não foi com o futebol e muito menos com o carnaval, rótulos que identificam o país internacionalmente, mas que pouco ou quase nada agregam quando o assunto é desenvolvimento. O combate à inflação, a estabilidade econômica e a distribuição de renda é que têm um papel fundamental no reconhecimento internacional como uma economia emergente. Contudo, para se fazer justiça, ainda falta um pequeno, mas importante esclarecimento para um entendimento mais amplo desse novo status, que muito tem a ver com o agronegócio. Um detalhe que não apenas no Brasil, mas em todos os países produtores, vem fazendo a diferença no enfrentamento da crise. Economias como a brasileira, que tem boa parte de seu Produto Interno Bruto (PIB) sustentada na produção agrícola e pecuária, sofrem menos o efeito das instabilidades financeiras e encontram oportunidades para crescer, ocupar espaços e vencer os desafios impostos pela turbulência internacional provocada pelos países desenvolvidos.

Apesar de todas as dificuldades, o campo brasileiro está produzindo e exportando mais. Gera cada vez mais emprego, riquezas e divisas econômicas – e o que é melhor, sociais, de inclusão e distribuição de renda. Conforme antecipado há seis meses por está coluna, pela primeira vez o Valor Bruto da Produção Agropecuária supera os R$ 200 bilhões. São quase R$ 206 bilhões, número que surpreende o próprio Ministério da Agricultura (Mapa) – que, ao longo do ano, chegou a trabalhar com valores na casa dos R$ 170 bilhões a R$ 180 bilhões. De 2010 para 2011, a variação foi de quase 12%. O resultado também enche os técnicos do governo de otimismo para o ano que começa, com projeções acima dos R$ 210 bilhões. Valor que pode ser considerado factível e conservador, a julgar pelos investimentos nacionais e estrangeiros que estão em execução em vários segmentos e várias regiões dedicadas ao agronegócio no país (em especial no Centro-Norte) na produção de grãos, fibras e carnes. Com R$ 206 bilhões, o VBP da agropecuária participa com quase 30% do PIB total do Brasil em 2011.

Chegou, portanto, a hora e a vez do agronegócio brasileiro na economia interna e comércio internacional. Sustentar a 6.ª ou buscar a 5.ª posição entre as principais economias do mundo só depende agora de nós, de fazer a lição de casa e de ter um olhar estratégico para os segmentos que de fato sustentam a geração de riquezas. A agricultura e a pecuária têm uma responsabilidade significativa nesse contexto, mas por dedicação, aposta e risco muito mais do produtor que do próprio governo. Se o governo tivesse feito a sua parte, o resultado poderia ter sido ainda melhor e até ter vindo antes. Para não ser injusto, o papel do poder público tem sido decisivo. Porém, mais de forma corretiva, para socorrer e apagar incêndios, do que necessariamente preventiva. Aliás, essa é a nossa grande contradição. O celeiro do mundo não tem uma política agrícola estratégica, de longo prazo e que permita o planejamento da atividade. Todo ano é o mesmo sufoco, as mesmas dificuldades com a aprovação do Plano Safra, da política do trigo, do seguro rural e dos preços mínimos de garantia. Isso sem falar de demandas extras, como foi a recente discussão do novo Código Florestal. Aliás, que não foi. O debate causou polêmica, desgastes, despesas e mais uma vez teve sua decisão prorrogada para 2012.

De qualquer forma, foi um ano excepcional para o segmento. Boa safra, bons preços e ainda por cima uma participação decisiva na ascensão do Brasil ao posto de 6.ª economia mundial. Mas, para que o país possa continuar a contar com a força expressiva e crescente do campo, é necessário investir na estruturação do agronegócio.

Não tenho dúvidas de que o setor pode incrementar ainda mais sua participação no PIB nacional. Basta o país dar condições para que isso ocorra, com uma política agrícola e pública que ofereça segurança para produzir, escoar e comercializar a produção, que tem preço e mercado, mas que ainda não tem competitividade. Faltam estradas e ferrovias, armazéns e comunicação. Falta seriedade e comprometimento. Falta tratar o setor como ele realmente merece, com atenção proporcional à sua importância econômica e social. Ou seja, falta pouco, só falta respeito.

Que 2012 seja, então, o ano para comemorar a 6.ª economia mundial. Mas também de reconhecimento e valorização dos setores que contribuíram para essa conquista e que serão fundamentais para a manutenção desse posto. Que o Brasil seja o país do futebol e do carnaval. Mas que se orgulhe mesmo de ser o país onde a economia se faz a partir do agronegócio.

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