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O mês não foi dos melhores para soja e milho na Bolsa de Chicago. Os dois grãos perderam perto de US$ 2 por bushel, o equivalente a US$ 4 por saca de 60 quilos. Foi o pior desempenho desde 2008, quando da quebra do Lehman Brothers, o primeiro de uma série de bancos norte-americanos a sucumbir e desestabilizar a economia mundial. Na semana passada, um dos destaques abordados nesta coluna foi o recuo na cotação desses produtos abaixo de US$ 13 e de US$ 7 por bushel. Até aí, sem problemas. De certa forma ainda havia uma gordura para queimar sem comprometer a rentabilidade. Mas a queda foi além e derrubou os preços a menos de US$ 12 e US$ 6, respectivamente. Setembro então começou bem, muito bem. Mas termina mal, porém não tão mal.

A boa notícia é que, no mercado interno, a apreciação do câmbio, com a valorização do dólar frente ao real, reverte e equaciona a tendência negativa das commodities agrícolas no cenário internacional. Bom para o produtor, bom para a economia do país, que se beneficia dos efeitos colaterais do agronegócio. No momento em que o Paraná e o Brasil avançam no plantio da safra de verão, as boas perspectivas de comercialização animam não apenas o campo como mantêm aquecida a economia urbana. As moedas soja e milho seguem em alta e seguram a retração no comércio, na indústria e na prestação de serviços, limitando o recuo de uma grande parte do Produto Interno Bruto (PIB), que tem no consumo o seu principal indicador. Do Valor Bruto da Produção (VBP) ao PIB, em 2011 a agricultura será, literalmente, a salvação da lavoura.

A estratégia, porém, não é exclusiva do Brasil. Por aqui o agronegócio contribui de forma decisiva para amenizar os efeitos de uma crise que não é nossa, mas que nos foi imposta enquanto economia globalizada. Já nos Estados Unidos, o setor é mais do que estratégico, quase que condição à sobrevivência. Em Iowa, o maior estado produtor de grãos, o PIB da agropecuária em 2011 deve crescer para US$ 33 bilhões, um salto de quase 40%. Desse valor, quase 70% é receita de soja e milho. Não dá para dizer que a crise dos Es­­tados Unidos passa longe de Iowa, até porque direta ou indiretamente ela afeta as economias em todo o mundo. Mas pode ter certeza de que o estado, assim como os demais que integram o chamado Corn Belt, o Cinturão do Milho dos Estados Unidos, sofre menos que as regiões alavancadas pelo setor industrial.

A depender do entusiasmo do secretário de Agricultura de Iowa, Bill Northey, nem mesmo a quebra da safra norte-americana, que entre soja, milho e trigo deve perder 35 milhões de toneladas neste ano, tira o brilho do agronegócio. Ao contrário, deve aumentar o protagonismo do segmento na composição, ou melhor, reestruturação da economia norte-americana. E não é para menos. Em dez anos a receita do seu estado com o agronegócio registrou crescimento de 175%. Va­­riação extremamente positiva e ainda mais relevante a considerar que nesse período o país foi surpreendido por duas grandes e sucessivas crises que não têm data para terminar. Também é graças a esse resultado que pela primeira vez na história o VBP da agropecuária dos Estados Unidos vai superar US$ 100 bilhões, para um PIB previsto superior a US$ 400 bilhões.

Assim, ao contrário do que se possa imaginar, a produção agrícola dos Estados Unidos continua forte, competitiva e rentável. Cenário em que o Brasil também ganha. Não necessariamente pela condição do nosso principal concorrente. Mas sobretudo pela conjuntura internacional, que, dada a forte demanda, beneficia quem produz, numa equação favorecida principalmente pelo câmbio. Na semana passada, por exemplo, a soja atingiu máxima de R$ 50 por saca no Paraná, graças a um dólar acima de R$ 1,80. No câmbio de um mês atrás, com preços atuais de Chicago e dólar pouco acima de R$ 1,60 a soja estaria perdendo R$ 10 por saca. Na próxima semana então, tudo pode ser diferente. As cotações têm espaço para cair ainda mais? Sim. Mas agora sem muita margem para queimar, principalmente no milho. A relação de custo versus rentabilidade já ameaça operar no limite.

De qualquer forma, é fato que a demanda existe, é forte e continua aquecida. As atenções devem então se voltar para o câmbio, uma vez que Chicago dá sinais de que soja e milho devem se estabilizar com máximas de US$ 12 e US$ 6 por bushel, respectivamente. E não mais acima de US$ 13 e US$ 7, a julgar pelo resultado da colheita norte-americana que está em andamento – não tão boa quanto se previa, nem tão ruim quanto se chegou a imaginar. Não será portanto uma super, mas uma boa safra.

No Brasil, um pouco diferente. As previsões iniciais sinalizam para recordes de produção, do PIB e do VBP. Desde que, a exemplo dos Estados Unidos, o clima também não resolva atrapalhar. Mas, se tudo correr bem, o VBP agro do país supera os R$ 200 bilhões e garante uma participação entre 26% e 27% do PIB nacional, que tem potencial para superar R$ 3,25 trilhões.

Uma vez mais, graças ao desempenho do agronegócio.

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